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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

PAUL KRUGMAN: OS PRESIDENTES E A ECONOMIA

De repente, ou pelo menos é o que parece, a economia dos Estados Unidos tem um aspecto melhor. Há algum tempo as coisas já pareciam bem, mas, neste momento, os sintomas da melhora – aumento do emprego, um PIB que cresce com rapidez, a recuperação da confiança da população – são inconfundíveis.
A melhora da economia é, sem dúvida, um dos factores pelos quais o índice de aprovação do presidente Barack Obama está a aumentar. É palpável a sensação de pânico dos republicanos, apesar da sua vitória nas eleições parlamentares. Esperavam chegar à votação presidencial de 2016 num contexto de fracasso; o que vão fazer se a economia caminhar bem?

Bem, isso é problema deles. O que eu quero levantar, no entanto, é se isso faz algum sentido. Qual influência exerce, em qualquer caso, o ocupante da Casa Branca na economia? A resposta que os economistas costumam dar, pelo menos quando não estão a cargo dos políticos, é “não muita”. Mas desta vez é diferente?

Para entender porque os economistas costumam tirar a importância da função dos presidentes, vamos relembrar um episódio bastante mitificado da história econômica dos EUA: a recessão e recuperação da década de 1980.

A direita, é claro, relembra essa década como uma época de milagres propiciados pelo santo Reagan, que reduziu os impostos, conjurou a magia dos mercados e conduziu o país a uma criação de empregos jamais repetida, nem antes nem depois. Na realidade, os 16 milhões de postos de trabalho criados nos Estados Unidos durante o mandato de Reagan só estão um pouco acima dos 14 milhões criados durante os oito anos anteriores. E durante o mandato de um presidente posterior – Bill alguma coisa — foram criados 22 milhões de postos de trabalho. Mas quem está a contar?

De toda forma, no entanto, as análises sérias do ciclo empresarial da época de Reagan dão muito pouca importância a Reagan e destacam, em vez disso, o papel do Federal Reserve (banco central norte-americano), que determina a política monetária e, em grande parte, é independente do processo político. No começo da década de 1980, o Fed, dirigido por Paul Volcker, estava decidido a reduzir a inflação, ainda que pagando um preço alto por isso. Aplicou medidas mais rígidas e fez com que as taxas de juros disparassem, o que elevou os juros hipotecários para mais de 18%. O que houve a seguir foi uma grave recessão que trouxe consigo números de desemprego de dois dígitos, mas também acabou com a espiral de preços e salários.

Depois, o Fed decidiu que os Estados Unidos já tinham sofrido bastante. Afrouxou um pouco as rédeas, o que provocou uma queda abrupta das taxas de juros e um aumento da construção de moradias. E a economia recuperou. Reagan levou o mérito político pelo “despertar dos Estados Unidos”, mas Volcker foi o verdadeiro responsável tanto pela crise como pelo auge económico.

A questão é que, normalmente, o Federal Reserve, e não a Casa Branca, controla a economia. Mas devemos aplicar esta mesma regra ao mandato de Obama? Não totalmente.

Por um lado, o Fed tem tido dificuldade para conseguir impulso após a crise financeira de 2008, uma vez que a enorme bolha imobiliária e hipotecária teve como consequência a resposta relativamente pequena do gasto privado às variações de taxas de juros. Neste caso, a política monetária tinha muita necessidade de se apoiar num aumento temporário do gasto público, o que significa que o presidente poderia fazer uma grande diferença. E foi assim, durante um tempo. Pode ser que, do ponto de vista político, o estímulo econômico de Obama tenha sido um fracasso, mas a imensa maioria dos economistas acredita que serviu para suavizar a recessão.

Porém, desde então, a devastadora oposição republicana tem compensado com sobras o esforço inicial. De facto, o gasto federal ajustado pela inflação e o crescimento demográfico é mais baixo agora do que era quando Obama assumiu o cargo. No mesmo momento do mandato de Reagan, havia aumentado mais de 20%. Para que depois digam da política fiscal.

No entanto, há outro aspecto em que poderíamos afirmar que Obama fez uma grande diferença. O Federal Reserve tem tido muita dificuldade para dar força, mas ao menos conseguiu impulsionar a economia; e fez isso apesar dos ataques ferozes dos conservadores, que acusaram o Fed várias vezes de “enfraquecer o dólar” e de estabelecer as bases para uma inflação descontrolada. Se Obama não tivesse protegido a sua independência, é muito provável que o Fed tivesse sucumbido às intimidações e subido as taxas de juros, o que teria sido desastroso. De forma que, indirectamente, o presidente ajudou a economia ao defendê-la das hordas da restrição de crédito.

E, por último, mas não menos importante, ainda que possamos pensar que Obama tenha tido pouco ou nenhum mérito pelas boas novas sobre a economia, o facto é que os seus adversários estão há anos a afirmar que a sua atitude ruim – sabe-se que ele deixou escapar, algumas vezes, que alguns banqueiros tinham se comportado mal – é, de alguma forma, responsável pela má situação económica. Agora que o seu mandato está a conhecer um inesperado auge económico, não podem voltar atrás e simplesmente tirar dele toda a responsabilidade.

Então, o presidente é responsável pela aceleração da recuperação? Não. Podemos, no entanto, afirmar que estamos a ir melhor do que iríamos se a Casa Branca estivesse nas mãos do outro partido? Sim. Aqueles que culpavam Obama por todos os nossos males económicos agora parecem idiotas? Sim, parecem. Porque, na verdade, eles são.


Paul Krugman é professor de Economia da Universidade de Princeton e vencedor do prêmio Nobel de Economia de 2008.

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