Humberto Maturana no ano 1994: “O Aborto é legítimo”

Humberto Maturana (1928) estudou medicina na Universidade do Chile e, em seguida, biologia, na Inglaterra e nos Estados Unidos. É um dos principais cientistas do Chile, cujo trabalho (solo e com Francisco Varela) tem sido reconhecido em todo o mundo. Uma das suas obras mais conhecidas é "A Árvore do Conhecimento", que ele escreveu com Varela, em 1984. Em 1994, ele deu uma entrevista ao La Tercera em que ele fala sobre o aborto, a Igreja Católica e a vida. Aqui vamos compartilhar alguns trechos.

"Eu acho que a Igreja Católica é muito limitada. Está fechada contra o que acontece com a humanidade e a transmissão de conhecimentos. É a família, são os homens e mulheres que têm de decidir sobre a sua vida! Nem o Estado nem a Igreja pode decidir por eles. Sempre que a Igreja se opõe a entrega de conhecimentos, nega autonomia às pessoas e torna-se uma instituição retrógrada e, em última instância, tirânica".

"Se alguém quer defender a vida nem sequer deveria tomar antibióticos porque as bactérias são organismos vivos. Falar da defesa da vida, em geral, é uma mentira, porque as coisas vivas vivem de comer outros seres vivos. Todos! Eu acho que se deve defender, se você quer defender alguma coisa, é o ser humano em toda a sua vida. E um embrião não é um ser humano. O ser humano nasce no momento em que se estabelece a relação amorosa entre mãe e aquele ser que está crescendo nela. Se essa relação não é estabelecida, não há ser humano".

"Se você acha que o que precisamos não é uma economia de mercado livre, acusam-no de comunista ou de outro... Não temos liberdade reflexiva, não temos liberdade reflexiva, não temos liberdade de criar um projeto nacional em que existem certas coisas que envolvem o livre mercado e outras que impliquem proteção nacional".

"Eu vivo neste mundo natural que é espontâneo e é divino. Em última análise, não tenho que ter a arrogância d dizer alguma coisa a respeito de Deus. Eu só acho que eu vivo neste mundo natural e é minha responsabilidade de cuidá-lo, especialmente quando está em minhas mãos... destruí-lo".

"Há pouca liberdade pessoal. A pessoa é livre no momento em que pode ser responsável ​​por suas preferências e decisões. Ou seja, quando é responsável por suas responsabilidades. Mas não se entregam o conhecimento suficiente para tornar isso possível".

"Eu acredito que o aborto é uma medida extrema que as mulheres adotam porque é necessário para as suas vidas. Para mim, é uma ação legítima que ela ou a família decida perder um bebê que não quer. É um embrião destinado a sofrer negação, porque ele não é desejado. E se faz mais danos tendo um filho à força do que não tê-lo. Agora, dizer que o aborto é legítimo não me desabilita q salientar que, no fundo, é um ato sagrado, porque é uma vida por uma vida. Não estou recomendando o aborto; o que eu acho é que as pessoas devem ter o conhecimento e compreensão para decidir de forma consciente e responsável. E quem deve decidir, é claro, é a mulher, porque é a sua vida e seu corpo."

Fonte: La Tercera, 1994.