O QUINZE - versão II - Blog A CRÍTICA

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terça-feira, 29 de setembro de 2015

O QUINZE - versão II

Luiz Rodrigues



Traço de Shiko para a obra O Quinze. (Divulgação)

No ano de 1930 a escritora cearense Rachel de Queiroz publicou com apenas 20 anos de idade sua obra mais famosa, O Quinze; como o próprio título sugere, a romancista fazia referência a recordações vividas no interior semi-árido do Ceará no ano de 1915 quando tinha 5  anos. A trama muito simples e altamente atrativa desperta a atenção para o impacto da estiagem no ciclo econômico-rural e na "produção" dos retirantes, que também provocara a publicação de A Bagaceira em 1928 por José Américo de Almeida, considerada a obra inicial do regionalismo nordestino, produzindo uma brilhante literatura com gênios como José Lins do Rego e Graciliano Ramos.

O Quinze, portanto, se passa diante da estrutura agrária do Nordeste brasileiro no início da República onde prevalecia o coronelismo; uma estrutura propiciada por termos um semi-árido relativamente chuvoso, por ser um semi-árido, capaz de aguentar práticas que não seria adequadas a este tipo de clima, em vista do ciclo de baixas precipitações intercaladas por períodos com chuvas de consideráveis volumes, ou seja os "anos bons" propiciam a prática de atividades que são duramente afetadas por um ciclo normal, a "seca". Viemos ao semi-árido, mas por característica próprias a ele ficamos no engano, com atividades econômicas e modelos de utilização da água apenas acessíveis a outros climas, nunca fomos bons convivedores com o semi-árido.

100 anos depois vivemos outro período de seca, já com 4 anos sem um grande período de chuvas e, mesmo as grandes obras hídricas construídas enfrentam problemas em seus volumes, mesmo assim seria possível utilizá-las com maior intensidade se os governos locais tivessem a capacidade de planejamento para o clima da região; o Rio Grande do Norte, por exemplo, se tivesse concluído seu programa de adutoras a partir da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves não teria uma cidade do porte de Currais Novos no colapso, abastecida por caminhões pipa.

O semi-árido se urbanizou, a agricultura e a pecuária perderam em intensidade, e o maior desafio é garantir o abastecimento dessas zonas urbanas com suas atividades econômicas; a seca do Quinze II é a seca da má gestão, da falta de planejamento, quando temos inúmeros especialistas produzidos por nossas próprias universidades sempre alertando que não dá pra ficar na peleja de deixar  a "seca" chegar para arranjar paliativos.

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