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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Desastres naturais custam um Bolsa-Família por ano ao Brasil


Levantamento inédito de economistas da UFRJ mostra que eventos extremos reduziram o PIB nacional em até 0,87% entre 2002 e 2012 e afetaram, todos os anos, 1,1% da população brasileira


Foto: BBC


Os eventos climáticos extremos atingem 1,1% da população do Brasil todos os anos e custaram até R$ 355 bilhões ao País apenas entre 2002 e 2012. É o equivalente a até 0,87% do PIB acumulado no período. Na média, o custo anual dos desastres naturais naquela década foi de R$ 25,2 bilhões, o equivalente à verba do Bolsa-Família.

Os dados são de um estudo inédito de um trio de economistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicado nesta sexta-feira numa parceria entre o Observatório do Clima e o site de notícias ambientais ((o))eco.

O grupo liderado por Carlos Eduardo Young, do Instituto de Economia da UFRJ, debruçou-se sobre os dados do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, que mapeou os registros de eventos climáticos extremos no Brasil entre 1991 e 2012. Os números foram cruzados com estimativas de custo econômico por pessoa afetada, desalojada ou desabrigada durante eventos extremos de enxurrada, inundação ou deslizamento nos Estados de Rio de Janeiro, Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina, feitas pelo Banco Mundial, e extrapolados para o País inteiro.

Entre 1991 e 2012, constataram os economistas, o Brasil registrou 13.622 ocorrências desses três tipos de desastre, que deixaram, no total, 46 milhões de pessoas afetadas, incluindo 3.745 mortos. A maior parte desses desastres, 10.066, aconteceu na segunda metade do período analisado – entre 2002 e 2012. No total, nessa década, 33,9 milhões de pessoas foram afetadas, cerca de 25% da população brasileira. A quantidade de recursos federais destinada à reconstrução saltou de R$ 130 milhões em 2004 para R$ 3 bilhões em 2010.

Segundo os autores, forte o aumento no número de ocorrências, no número de afetados e nas perdas econômicas neste período em relação ao anterior reflete provavelmente uma tendência. É possível, dizem, que o quadro se explique porque melhorou o registro de desastres, porque há mais gente vivendo em áreas de risco ou porque as mudanças climáticas estão causando mais chuvas torrenciais. “O mais provável é que todas essas hipóteses estejam corretas e que haja uma combinação perversa entre o aumento da população vivendo em áreas de risco e a maior probabilidade de ocorrência de eventos climáticos extremos”, afirmam Young e colegas.

O maior número de desastres naturais, 34% do total, ocorreu na região Sudeste – justamente onde há mais gente em áreas de risco. Minas Gerais ocupa disparado o primeiro lugar (2.083 ocorrências), seguido de Santa Catarina (1.108) e São Paulo (850). Juntos, o Sudeste e o Sul respondem por 69% das perdas monetárias por eventos extremos entre 2002 e 2012 – jogadas para cima pelos desastres de Santa Catarina, no fim de 2008, e da serra fluminense, em 2011.

No entanto, quando se olha o impacto no PIB regional, o Brasil segue o princípio conhecido de que os mais pobres são os mais afetados: a maior perda proporcional está na região Norte – 1,61% do PIB gasto com afetados por desastres – e na Nordeste (1,51%), enquanto o Sudeste teve 0,48% de perda em relação ao PIB.

“Ainda existe a visão de que combater a mudança climática vai agravar a pobreza. O que nós mostramos com esse estudo é que o contrário é verdade: a pobreza é agravada pela mudança climática, e reduzir emissões reduz também a vulnerabilidade dos pobres”, diz Camilla Aguiar, coautora do estudo.

(Assessoria – UFRJ)

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