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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Bresser-Pereira: Triste ao ver confirmada minha teoria

O real não para de se valorizar. A preços de hoje, ele havia se mantido altamente sobreapreciado durante sete anos, flutuando em torno de R$ 2,40 por dólar. Como a taxa de câmbio competitiva ou de equilíbrio industrial é, sempre a preços de hoje, cerca de R$ 3,80 por dólar, essa sobreapreciação de longo prazo (sete anos) da moeda nacional havia sido a causa principal da grande crise que viveu a indústria nacional nesse período. Com a queda do preço das commodities em 2014 e a crise econômica em que o Brasil estava mergulhando, o real depreciou-se fortemente no segundo semestre deste ano, e, no ano seguinte, flutuou em torno de R$ 3,90 por dólar. Mas desde janeiro deste ano o real está voltando a se valorizar, e, não obstante intervenção do Banco Central, fechou, ontem, a R$ 3,21 por dólar.

Enquanto economista esse movimento cíclico da taxa de câmbio deveria me alegrar, porque a realidade está se comportando exatamente como a teoria novo-desenvolvimentista prevê. Para essa teoria, existe nos países em desenvolvimento que não neutralizam sua doença holandesa e não administram sua taxa de câmbio através de uma política cambial ativa uma tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio. O país vai de crise financeira em crise financeira. Quando há uma crise, a moeda nacional se desvaloriza e o país equilibra sua conta-corrente, mas assim que a economia começa a se acalmar, ela volta a se valorizar, mergulha novamente no déficit em conta-corrente, e as boas empresas industriais nacionais, existentes e potencialmente existentes, voltam a enfrentar uma grande desvantagem competitiva.

É o que está acontecendo no Brasil. É exatamente o que a teoria que venho desenvolvendo nos últimos quinze anos prevê. Mas não estou feliz; estou triste, muito triste ao ver minha teoria novamente confirmada. Todos os brasileiros estão indignados com o alto nível de corrupção que a Operação Lava-Jato vem descobrindo e processando. Eu também, e preocupado com a decorrente desmoralização geral dos políticos – o que, definitivamente não é bom. Mas minha indignação maior é ver a economia brasileira se manter há 35 anos semi-estagnada e nada se fazer. É ver economistas e políticos só falarem em déficit público e política fiscal, quando o grande problema são os déficits em conta-corrente e o real sobreapreciado no longo prazo, que inviabilizam o investimento nos setores tecnologicamente sofisticados da economia brasileira. É ver isto acontecer sem que as elites econômicas e políticas se deem conta do que este é problema fundamental da economia brasileira.

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