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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A transição católica e o crescimento da secularização na América Latina

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

religião católica - totais na américa latina

O Instituto Latinobarômetro divulgou, em 12 de janeiro de 2018, por ocasião da visita do Papa Francisco ao Chile, um pesquisa sobre as tendências religiosas, especialmente do catolicismo, na América Latina e Caribe (ALC). A América Latina tinha 4 países onde a Igreja Católica possuía uma representação abaixo de 50% da população em 2013 e passou para 7 países, em 2017. No conjunto, o catolicismo está passando de altas para baixas taxas de afiliação na região.
O gráfico acima mostra que os católicos representavam 80% da população da ALC (18 países) em 1995, caiu para 70% em meados da década passada e atingiu o nível mais baixo, de 59%, em 2017. Oito países estavam acima da média e dez países abaixo da média. O destaque dos países mais católicos são o Paraguai (89%) e México (80%). Mas os católicos representavam mais de 60% da população no Equador, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Argentina.
Abaixo da média (de 59% da ALC) em 2017, mas acima de 50%, estavam a Costa Rica (57%), Panamá (55%) e Brasil (54%). Abaixo da média, mas acima de 40%, estavam República Dominicana (48%), Chile (45%), Guatemala (43%) e Nicarágua (40%). Já abaixo de 40% estavam El Salvador (39%), Uruguai (38%) e Honduras (37%).
Nota-se que o Chile vinha apresentando uma leve tendência de queda da presença católica na população total até 2010, mas a perda de fiéis se acelerou depois de 2011, particularmente após o caso Karadima, que se refere às denúncias de abuso sexual e pedofilia contra o sacerdote chileno Fernando Karadima, da paróquia El Bosque, da comuna de Providência. Entre 1995 e 2009 a queda da presença católica no Chile foi de 74% para 65% (queda de 9 pontos em 14 anos). Mas de 2009 a 2017 a queda foi de 20 pontos em oito anos.
A tabela abaixo mostra como foi a perda das filiações católicas nos 17 países da ALC entre 1995 e 2017 e o aumento de 77% para 80% no México, no mesmo período. A maior queda ocorreu em Honduras, onde os católicos caíram de 76% em 1995 para 37% em 2017, uma perda impressionante de 39% em 22 anos. Se essa tendência se mantiver, os católicos desaparecerão de Honduras nos próximos 21 anos.
A perda de filiações católicas também foi muito acima da média na Nicarágua (queda de 37% em 22 anos) e no Panamá (queda de 34%). Em El Salvador a queda foi um pouco menor (de 29% em 22 anos), mas isto porque a presença católica já era relativamente pequena em 1995, sendo que ficou em apenas 40% em 2017.
O Chile (queda de 29%) e o Brasil (queda de 25%) também apresentaram grande queda entre 1995 e 2017, mas a queda do Chile foi maior na segunda década do século XXI, sendo que os católicos chilenos já perderam a maioria absoluta. A Argentina continua bem mais católica do que o Brasil e o Chile, mas a perda de católicos tem se dado no ritmo de 1% ao ano. Neste ritmo os católicos argentinos podem perder a maioria absoluta no espaço de 15 anos. O único país em que os católicos se fortaleceram, no período, foi o México.
Cabe indicar que o Uruguai se destaca não só como o segundo país menos católico da região, mas também como um dos mais secularizados, ou seja, com maior presença de pessoas que se declaram sem religião, agnósticos ou ateus.

evolução do catolicismo por país - américa latina

O gráfico abaixo mostra o crescimento do percentual de pessoas que se declaram sem religião na ALC. Percebe-se que os sem religião mais do que quadruplicaram, passando de 4% em 1995 para 18% em 2017. A novidade desta nova pesquisa do Latinobarômetro é que o Chile tomou o lugar do Uruguai como o país mais secularizado da região.
As pessoas que não optaram por qualquer religião, em 2017, atingiu 35% no Chile, 31% no Uruguai, 30% em El Salvador, 28% na República Dominicana, 25% na Nicarágua e assim por diante, sendo que os sem religião estavam em 14% no Brasil (o que coincide com uma pesquisa do Datafolha de dezembro de 2016). Bolívia e Paraguai são os dois países menos secularizados. Ao contrário do Brasil, a queda do percentual de católicos no Uruguai e no Chile não foi acompanhada por um aumento significativo dos evangélicos.

sem religião - américa latina

O Brasil é o maior país católico do mundo e a ALC é o continente mais católico do Planeta. A queda acentuada de católicos poderá ter uma grande implicação para a correlação de forças internacionais entre as grandes religiões globais. Parece que o Papa Francisco – primeiro Pontífice latino-americano – não está conseguindo reverter essa situação e o Chile é um exemplo de desgaste da Igreja católica.
O fato é que algo está mudando no continente e o catolicismo está em declínio entre os povos que foram colonizados e convertidos a partir do ano de 1492.
Referências:
ALVES, JED. A transição religiosa na América Latina e no Brasil, Ecodebate, RJ, 31/05/2017

ALVES, JED. O panorama das mudanças religiosas na América Latina, Ecodebate, RJ, 14/06/2017

ALVES, JED. Secularização e pluralidade na América Latina, Ecodebate, RJ, 20/09/2017

ALVES, JED. O Papa Francisco sob fogo cruzado e com baixa popularidade no Chile, Ecodebate, RJ, 19/01/2017

LATINOBAROMETRO. El Papa Francisco y la Religión en Chile y América Latina – Latinobarometro 1995-2017


José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/01/2018

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