Bolsonaro e os generais

Bolsonaro, apesar dos arrufos com o grupo amplo de militares que sustentaram a sua eleição, continua a alargar a presença de generais, mais ou menos reformados, no poder executivo. Os puxões de orelha que frequentemente deles recebe parecem não incomodar o antigo capitão de artilharia, levado a deixar os quartéis por atitudes menos consentâneas com a disciplina militar. 

Helder Castro - Há uma expressão popular que parece casar bem com o quadro político brasileiro: “junta-se a fome à vontade de comer”. Uns e outros, militares e civis,  em nome, é claro, do que dizem ser o progresso nacional, apostam em políticas que aumentam mais e mais as desigualdades econômicas e sociais, em benefício de uns tantos.

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, quinta-feira (13), novas mudanças no seu governo. Confirmando o que já era dado como certo em Brasília, desde há alguns dias, afastou o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, colocando-o no Ministério da Cidadania. Para substituir Lorenzoni na Casa Civil, Bolsonaro chamou o general Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército. Osmar Terra, até agora ministro da Cidadania, volta a ocupar assento de deputado federal na Câmara.

Desta vez, o presidente apostou num general na ativa para substituir um civil, político de carreira, direitista, tal como Bolsonaro.  Nos últimos dois anos, Bolsonaro e Onyx Lorenzoni trocaram frequentes declarações de amizade e consideração. Mas, afinal, “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”, dir-se-à. E, assim sendo, Onyx passou, no palco bolsonarista, de ministro querido a inconveniente, dando lugar a mais um dos processos de “fritura” que já se tornaram rotineiros no Palácio do Planalto.

A ida de Onyx Lorenzoni do Planalto para a Esplanada dos Ministérios não alterará em nada a sua diminuta importância política no tabuleiro presidencial, pois Bolsonaro já tinha esvaziado as outrora influentes funções da Casa Civil e na Cidadania pouco haverá o que fazer, pelo menos na conjuntura atual, pois as eleições presidenciais ainda estão distantes.

Do outro lado – o do corporativismo militar -, enquanto alguns vêem com satisfação a mudança do atual chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Walter Braga Netto, militar prestigiado, para o Palácio do Planalto, lado a lado do presidente, outros avaliam que só irá comprometer ainda mais a instituição castrense com as políticas desastradas e politicamente danosas do governo Bolsonaro.