O documento foi elaborado com o objetivo de promover uma alimentação adequada e saudável para a população brasileira
Dia 16 de outubro é celebrado o Dia Mundial da Alimentação, a data foi criada com o intuito de promover uma reflexão sobre o cenário atual da alimentação no mundo. O Guia Alimentar para a População Brasileira é referência mundial, foi considerado o mais sustentável segundo estudo das americanas Selena Ahmed, Shauna Downs e Jessica Fanzo, que avaliaram guias alimentares de outros 11 países.
A nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens USP), Francine Silva, explica que o Guia Alimentar tem como objetivo promover uma alimentação adequada e saudável. “Ele tem como base um padrão de alimentação que vai além da ingestão de nutrientes, porque considera a relação entre os alimentos e o hábito de comer alinhados com a sustentabilidade ambiental, com orientações mais próximas à realidade alimentar dos brasileiros.”
O Guia Alimentar teve sua primeira edição publicada em 2006 pelo Ministério da Saúde em parceria com o Nupens USP, passou por um processo de atualização em 2011 e sua última versão é de 2014. A publicação também busca prevenir doenças através de uma alimentação balanceada. “Visa contribuir para o combate das doenças que estão relacionadas com a má alimentação como por exemplo obesidade, hipertensão e diabetes que são algumas das doenças crônicas com maior ocorrência no Brasil”, explica a nutricionista Francine Silva.
A pesquisadora também faz parte do projeto Nutrinet Brasil que vai acompanhar 200 mil pessoas de todas as regiões do país para identificar características da alimentação que aumentam ou diminuem o risco de doenças. A primeira fase do estudo já foi concluída, “comparamos a alimentação dos participantes antes do início da pandemia com os primeiros meses da pandemia no Brasil. Encontramos um aumento, de 40,2% para 44,6%, no consumo de alimentos que indicam uma alimentação saudável como frutas, hortaliças e feijão.”
Segundo Francine, passar mais tempo em casa fez com que as pessoas preparassem seu próprio alimento, o que acaba sendo mais saudável do que quando optam por comer em restaurantes. Outro motivo para o aumento de consumo de alimentos saudáveis pode ser explicado pela vontade de adquirir defesas imunológicas, esclarece a nutricionista.
Por outro lado, o consumo de alimentos ultraprocessados também aumentou. “Foi observado um aumento no consumo desses produtos nas regiões norte e nordeste e entre aqueles com menor escolaridade, indicando uma desigualdade social na alimentação dos brasileiros em resposta à pandemia”, diz Francine.
Fome no País
Uma outra pesquisa, do Unicef Brasil, também avaliou como a pandemia teve impacto no prato do brasileiro. “A pandemia exacerbou problemas e desafios já existentes, trazendo aumento do desemprego, diminuição da renda das famílias decorrente do distanciamento social e do fechamento de serviços, isso trouxe um impacto direto na alimentação das pessoas”, enfatiza Stephanie Amaral, oficial de Saúde do Unicef no Brasil.
Dentre os impactos estão a falta de dinheiro para comprar alimentos, indisponibilidade de alimentos saudáveis próximos ao domicílio e a mudança no tipo do alimento consumido, segundo a pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), para o Unicef.
O estudo aponta que desde o início da pandemia, até maio de 2021, 17% dos brasileiros deixaram de comer em algum momento porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Isso equivale a 27 milhões de brasileiros. “Os mais afetados pela insegurança alimentar foram aqueles que já recebiam menos de um salário-mínimo, famílias de classe D e E. Além disso, as famílias que residem com crianças e adolescentes, e as que vivem nas regiões norte e nordeste do país. Também foi observado que houve uma maior prevalência de pessoas pretas ou pardas quando comparadas a pessoas brancas”, afirma Stephanie Amaral.
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