Questões teologais
Nos últimos anos uma discussão teológico-católica se tornou notória e frequente nas redes sociais em Caicó. A forma de o povo se referir à sua padroeira como Nossa Senhora Sant´Ana seria inadequada, segundo a constatação de diversos sacerdotes da igreja, preocupados, evidentemente, com a religiosidade popular. Nossa Senhora só poderia ser referido à Virgem mãe de Cristo, e não à sua Avó, a esta dever-se-ia usar Senhora Sant´Ana ou Santa Ana.
Igreja e tradição
A igreja católica sempre fora imensamente adaptável aos costumes populares e pré-cristãos; por exemplo, uma marca da Festa de Sant´Ana, padroeira das duas maiores cidades do Seridó Potiguar, Caicó e Currais Novos, são as procissões de encerramento das festas nessas cidades. A procissão é uma tradição Greco-romana muito anterior ao cristianismo, marcava as celebrações das conquistas, das vitórias e de devoção aos deuses greco-romanos.
Outro símbolo cultural nordestino, as fogueiras juninas, sabe-se que são tradições anteriores ao cristianismo, de festejo às colheitas na época do solstício europeu, rendida a deuses pré-cristãos. No nordeste brasileiro, as festas juninas coincidiram com a época da colheita, quando existe, e, tornaram-se referência direta do folclore sertanejo.
Poesia popular como árbitra
Pois bem, não existe cultura popular sem poetas. A civilização ocidental fora criada por um poeta, Homero. A poetisa Constância ao testemunhar o lamento de um homem do povo sobre a questão aqui levantada, resolveu invocar as musas da caatinga para, em forma de versos, pôr fim à discussão. Elaborou um poema onde o eu lírico sertanejo desculpa-se por não saber a forma adequada de se dirigir à sua protetora espiritual. Bem ao estilo da religião no povo, como demonstrou o Mestre Câmara Cascudo, fugindo da liturgia e estabelecendo sua própria forma de exercer a fé, o eu lírico cria uma solução simples e ao modo sertanejo, sem arrudeios: se não pode chamar Nossa Senhora Sant`Ana, chame-se Senhora Sant`Ana, nossa, para não ter perigo de haver confusão, sem deixar de lado a invocação do pertencimento. Eis o poema:
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