Luiz Rodrigues - Blog A CRÍTICA
O ano de 2022 chegou ao semiárido nordestino do jeito que o sertanejo mais ama, tempo fechado e muita chuva. Desde o final de dezembro que o calorão em torno dos 40º dos últimos meses do ano, normal para a região, deu lugar a muita chuva. O cenário faz-se belíssimo, o cinza da caatinga dá lugar a um verde exuberante, a poeira do chão torna-se no pasto abundante a cobrir toda a paisagem.
Os rios começam a viver, cheias e mais cheias, para delírios dos moradores que na era da internet não perdem o costume muito antigo de logo ao amanhecer do dia correr para os leitos para a contemplação da correnteza das águas, agora tudo filmado e espalhado nas redes sociais.
É a transformação mais espetacular de um bioma brasileiro, é o mesmo valor poético da primavera europeia, depois de um inverno branco, coberto de neve. A chuva traz ao sertanejo do nordeste a experiência de viver todas as estações ao mesmo tempo.
Numa tarde de inverno o céu se agita
Uma nuvem pesada esconde o sol
Aparece relâmpago, caracol
A cascata do rio enche e vomita
Desce raio de fogo o trovão grita
Na cabeça de um grande torreão
Passa o vento entoando uma canção
Que o porão do açude se arrepia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
Na esperança o campônio se agarra
Do fantasma da seca sente medo
Quando chega o natal, acorda cedo
Para ver se aurora trás a barra
Inimiga da seca é a cigarra
Que só canta no tempo do verão
O profeta do inverno é o carão
Quando está pra chover ele anuncia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
Quando chove na entrada de janeiro
O riacho transborda e soltam roncos
Lambe os galhos do mato, arrastra troncos
De raízes que encontra em todo aceiro
Passam sapos montado no balseiro
Parecendo um chofer de caminhão
Não dirige, mas dá a impressão
Onde tem um perigo ele desvia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
No inverno o vaqueiro tangem bois
O roceiro na luta mete a cara
Queima a broca o que sobra faz coivara
Deixa arranca de touco pra depois
Corta a terra na baixa de arroz
Faz remonte de cerca aduba o chão
Abre cova semeia e enterra o grão
Tudo quanto plantar a terra cria
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
Geraldo Amâncio


Nenhum comentário:
Postar um comentário