Poesia de Constância: O Livramento em Taperoá - Blog A CRÍTICA

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terça-feira, 26 de abril de 2022

Poesia de Constância: O Livramento em Taperoá



"Não há nada sem separação" diz a letra composta por Tom Jobim e Miúcha imortalizada juntamente com Chico Buarque. A canção é uma pergunta sobre o que é a vida; uma grande ilusão, "depois da chegada vem sempre a partida". Assim é o desenrolar da vida, pessoas da convivência mais próxima acabam se tornando distantes, cada um segue seu rumo. 


A  proximidade de irmãos geralmente é mais forte, na maioria das vezes mesmo após a separação permanece o contato. Agora, imagine você, dois irmãos, residindo em cidades próximas, que não se viam há 15 anos e que se reencontram num hospital.


A enfermidade é sempre um mal, e o velho ditado: "Há males que vêm para o bem". Se não houvesse a doença não se saberia o valor da saúde. O filósofo Nietzsche teve uma vida  de dores, usava a doença para retirar forças, a maior parte dos seus livros, inigualáveis, escrito numa prosa poética nunca vista na filosofia, foi escrita durante a doença.


Os fatos


As cidades paraibanas de Taperoá e Livramento são separadas por, aproximadamente, 30 km de estradas. Mas foi na Enfermaria 04 do Hospital Geral de Taperoá que a distância geográfica e a distância gerada pela saudade foram encurtadas, com o encontro entre dois irmãos que não se viam há mais de 15 anos que foram internos em dias diferentes e por motivos também diferentes no HGT.


Dada à coincidência dos sobrenomes, a equipe de assistência social do hospital decidiu averiguar e descobriu que não só os dois idosos eram irmãos como não se viam há mais de uma década. Os relatos das filhas dos dois à equipe de saúde foram os de que os dois irmãos não se viam há mais de 15 anos.


José Valentim da Costa, 86 anos, viúvo e pai de 12 filhos e morador de Taperoá, foi acomodado na enfermaria devido a um pós-cirúrgico. O seu irmão, Antônio Valentim da Costa, 76 anos, solteiro, mas com vários filhos também, é morador do Sítio Torrões, na cidade de Livramento, e deu entrada no hospital para procedimentos clínicos. 


Diante da situação inusitada, a equipe de Enfermagem do Hospital Geral de Taperoá decidiu promover, no dia 21 de abril, o encontro dos dois irmãos. Os dois ficaram emocionados e mesmo em macas estenderam as mãos um para o outro. Antônio Valentim precisou ser levado ao Hospital de Traumas de Campina Grande para procedimentos médicos, mas reforçou à equipe que gostaria de voltar ao HGT para poder conversar melhor com o irmão. 


Ao ver esta notícia a poetisa Constância Uchôa nos enviou seus versos. Lembrei do poema Samba da Canção de Vinícius de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Eis:



O Livramento em Taperoá


15 anos de abismo

7 léguas de distância

Separavam o lirismo

Por força da circunstância

No hospital foi Deus, quiçá

Que escolheu Taperoá

Para unir essa irmandade;

Nada mais deve doer!

Foi preciso adoecer

Pra se curar da saudade.


(Constância Uchôa)


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