"Não há nada sem separação" diz a letra composta por Tom Jobim e Miúcha imortalizada juntamente com Chico Buarque. A canção é uma pergunta sobre o que é a vida; uma grande ilusão, "depois da chegada vem sempre a partida". Assim é o desenrolar da vida, pessoas da convivência mais próxima acabam se tornando distantes, cada um segue seu rumo.
A proximidade de irmãos geralmente é mais forte, na maioria das vezes mesmo após a separação permanece o contato. Agora, imagine você, dois irmãos, residindo em cidades próximas, que não se viam há 15 anos e que se reencontram num hospital.
A enfermidade é sempre um mal, e o velho ditado: "Há males que vêm para o bem". Se não houvesse a doença não se saberia o valor da saúde. O filósofo Nietzsche teve uma vida de dores, usava a doença para retirar forças, a maior parte dos seus livros, inigualáveis, escrito numa prosa poética nunca vista na filosofia, foi escrita durante a doença.
Os fatos
As cidades paraibanas de Taperoá e Livramento são separadas por, aproximadamente, 30 km de estradas. Mas foi na Enfermaria 04 do Hospital Geral de Taperoá que a distância geográfica e a distância gerada pela saudade foram encurtadas, com o encontro entre dois irmãos que não se viam há mais de 15 anos que foram internos em dias diferentes e por motivos também diferentes no HGT.
Dada à coincidência dos sobrenomes, a equipe de assistência social do hospital decidiu averiguar e descobriu que não só os dois idosos eram irmãos como não se viam há mais de uma década. Os relatos das filhas dos dois à equipe de saúde foram os de que os dois irmãos não se viam há mais de 15 anos.
José Valentim da Costa, 86 anos, viúvo e pai de 12 filhos e morador de Taperoá, foi acomodado na enfermaria devido a um pós-cirúrgico. O seu irmão, Antônio Valentim da Costa, 76 anos, solteiro, mas com vários filhos também, é morador do Sítio Torrões, na cidade de Livramento, e deu entrada no hospital para procedimentos clínicos.
Diante da situação inusitada, a equipe de Enfermagem do Hospital Geral de Taperoá decidiu promover, no dia 21 de abril, o encontro dos dois irmãos. Os dois ficaram emocionados e mesmo em macas estenderam as mãos um para o outro. Antônio Valentim precisou ser levado ao Hospital de Traumas de Campina Grande para procedimentos médicos, mas reforçou à equipe que gostaria de voltar ao HGT para poder conversar melhor com o irmão.
Ao ver esta notícia a poetisa Constância Uchôa nos enviou seus versos. Lembrei do poema Samba da Canção de Vinícius de Moraes: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Eis:
O Livramento em Taperoá
15 anos de abismo
7 léguas de distância
Separavam o lirismo
Por força da circunstância
No hospital foi Deus, quiçá
Que escolheu Taperoá
Para unir essa irmandade;
Nada mais deve doer!
Foi preciso adoecer
Pra se curar da saudade.
(Constância Uchôa)


Um show
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