(Lusa) – O impacto econômico das medidas para conter os atuais surtos de covid-19 na China é dez vezes superior ao prejuízo causado pela vaga inicial em Wuhan, no início de 2020, alertou hoje um influente economista chinês.
O prejuízo, causado pelas interrupções na atividade económica, ascende a 18 biliões de yuans (2,54 biliões de euros) e afeta 160 milhões de pessoas, de acordo com Xu Jianguo, professor de Economia na Universidade de Pequim.
Em comparação, o surto inicial em Wuhan, há dois anos, causou 1,7 bilião de yuans em danos econômicos e afetou 13 milhões de pessoas, apontou.
“A gravidade dos surtos este ano é mais de 10 vezes superior à de 2020 (…) em termos da população afetada e de custo econômico”, apontou num seminário realizado ‘online’.
O especialista considerou que é questionável se a China vai conseguir alcançar a meta de crescimento econômico oficial de “cerca de 5,5%”, estabelecida para este ano, ou mesmo igualar o crescimento de 2,3%, registado em 2020.
O país continua a praticar uma política de ‘tolerância zero’ à covid-19, que inclui o isolamento de cidades inteiras e a realização de testes em massa, sempre que um surto é detetado.
O isolamento de Xangai, a “capital” financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Cantão, tiveram forte impacto nos setores serviços, manufatureiro e logístico.
Também Pequim, Suzhou, Shenzhen, Dongguan, que desempenham um importante papel na cadeia industrial do país, foram afetadas por medidas parciais ou totais de confinamento este ano.
Após um declínio acentuado no crescimento das exportações em abril, um número crescente de analistas alertou que vai ser difícil para o país atingir a meta de crescimento de 5,5%.
Mais economistas reduziram as suas previsões para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da China, em 2022. Grupos empresariais estrangeiros, incluindo a Câmara de Comércio da União Europeia, advertiram que as medidas de bloqueio estão a tornar o país um destino menos atraente para investimentos.
Xu disse que as políticas de apoio fiscal e monetário são também mais fracas do que as adotadas em 2020. As exportações e o setor imobiliário, os principais impulsionadores da recuperação económica há dois anos, também perderam força.
“Já é difícil alcançar um crescimento de 2,3% este ano e ainda mais difícil ir além dessa taxa”, disse Xu.
As autoridades estão a oferecer estímulos fiscais, por meio de gastos subsidiados em infraestruturas.
Mas Xu lembrou que a “principal razão para o arrefecimento da economia neste momento não está no financiamento social ou nas questões monetárias, mas nas medidas de prevenção e controlo da covid-19”.
O banco central da China reconheceu na segunda-feira que a economia da China está sob crescente pressão e prometeu intensificar o apoio.
Xu Shaoyuan, investigador do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, reconheceu também que o surto deste ano está a causar mais danos econômicos do que durante o início da pandemia, há dois anos.
“Fornecer apoio à pequenas empresas e empresas de serviços, que criam muitos empregos, e deixá-las retomar o trabalho o mais rápido possível é a chave para proteger a subsistência das pessoas”, apontou no seminário.
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