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domingo, 26 de junho de 2022

Cempre 2020: Número de assalariados cai, enquanto aumenta o número de empresas sem empregados



Agência IBGE - Em 2020, as empresas e outras organizações ativas do país tinham cerca de 45,4 milhões de pessoas ocupadas assalariadas. Frente a 2019, o número de assalariados caiu 1,8%, o que representa 825,3 mil postos de trabalho a menos. Foi a maior retração nesse contingente desde 2016 (-4,4%). Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre), divulgado hoje (23) pelo IBGE.

“Esse ano da pandemia foi muito desafiador sob vários aspectos que impactaram a economia empresarial. Um deles foi a necessidade de lockdown, que causou a diminuição no deslocamento das pessoas e fez com que muitas empresas fechassem as portas naquele período. E, se a empresa não vende produtos, não gera receita e acaba por demitir os funcionários. É uma bola de neve”, explica o gerente da pesquisa, Thiego Ferreira.

Ele ressalta que a queda da população ocupada em 2020 é resultado de uma crise econômica atípica. “Apesar de também ter redução na ocupação, o comportamento da crise provocada pela pandemia foi distinto. E o fato de não ter sido a maior queda da série histórica pode estar ligado ao que foi feito para mitigar essa retração, como o Programa de Manutenção do Emprego e da Renda, que beneficiou quase 10 milhões de trabalhadores; do Auxílio Emergencial, que colaborou para consumo das famílias, possivelmente contribuindo para dar uma sobrevida às empresas; e do Pronampe, com a liberação de mais R$ 37 bilhões em crédito para 517 mil empresas”, continua o pesquisador.

A retração na população assalariada atingiu a maioria das atividades econômicas analisadas pela pesquisa. A maior perda em termos relativos foi em Alojamento e alimentação, com queda de 19,4%, a maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2007. “Essas atividades foram muito afetadas pela pandemia. As pessoas deixaram de frequentar restaurantes, hotéis, pousadas, entre outros estabelecimentos desses setores devido à adoção de medidas mais restritivas para combate à pandemia de Covid-19”, comenta Thiego.

A atividade econômica Artes, cultura, esporte e recreação também teve uma retração de dois dígitos: em um ano, perdeu 16,4% de seu pessoal ocupado assalariado. O recuo também foi recorde na série histórica. Entre as empresas desse grupo estão, por exemplo, cinemas, teatros e casas de organização de festas, que foram bastante impactados pelos efeitos da pandemia.

As atividades que mais contribuíram para a redução de 825,3 mil assalariados foram Alojamento e alimentação (-373,2 mil), Administração pública, defesa e seguridade social (-233,9 mil) e Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (-221,7 mil).

“No caso da administração pública, 65% da redução ocorreram nas esferas municipais. Em 2020, houve, ainda, a lei complementar nº 173, que limitou a contratação de pessoal para todos os entes federados. Então muitos funcionários saíram, por motivo de aposentadoria, por exemplo, e não foi possível repor essa perda. Também cabe destacar a melhoria realizada na qualidade do cadastro, com a reclassificação de organizações que se declararam equivocadamente como administração pública, mas deveriam estar, por exemplo, na área da saúde ou educação”, diz.

“Já no comércio, atividade que emprega o maior número de pessoas (8,7 milhões), qualquer impacto, em termos relativos, vai ser significativo. É um setor muito heterogêneo: em muitos segmentos do comércio, houve perdas; outros, que foram considerados serviços essenciais, conseguiram até manter ou ampliar o seu número de funcionários”, complementa.

Também impactadas pelas políticas de distanciamento social para combate à pandemia, as atividades de Transporte, armazenagem e correio sofreram uma redução de 4,0% no número de assalariados.  “Esse setor se divide em três partes importantes que sentiram os efeitos da crise de forma diferente. O transporte de passageiros, especialmente o aéreo, foi muito afetado pelos efeitos do distanciamento social por causa da pandemia”, afirma Thiego.

“Ao mesmo tempo, em Correios e outras atividades de entrega, houve aumento de 1,5% no número de assalariados. Essas atividades tiveram um papel importante em 2020, quando ocorreram recordes de vendas do e-commerce”, justifica.

Outro segmento impulsionado pela demanda durante o primeiro ano da pandemia foi Saúde humana e serviços sociais, que ganhou mais 139,3 mil assalariados. Foi o maior crescimento de ocupação em termos absolutos entre as atividades investigadas. Outras atividades com alta nesse indicador foram Construção (80,8 mil) e Atividades administrativas e serviços complementares (79,6 mil).

“Esse crescimento do setor de saúde é explicado pela própria necessidade de contratação de pessoas nesse período. Hospitais de campanha foram abertos e a capacidade das unidades de atendimentos existentes foi expandida, resultando na contratação de profissionais para atender à demanda”, analisa o gerente da pesquisa.

Construção foi a segunda atividade com maior saldo de pessoal: 80,8 mil assalariados, aumento de 4,3% frente a 2019. Para o analista do IBGE, a atividade já ensaiava uma retomada desde 2016, quando apresentou a maior queda relativa da série histórica (-20,5%), e pode ter sido beneficiada por um conjunto de fatores, entre eles a queda da taxa básica de juros nos últimos anos e por ter sido considerada uma atividade essencial na pandemia.

As atividades de Construção de edifícios e de Obras de infraestrutura contribuem de forma significativa no saldo de assalariados. Thiego destaca subdivisões importantes dessas atividades: “Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas, Construção de rodovias e ferrovias e Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações que, juntas, responderam por 51,5 mil desse saldo”, detalha.

Mulheres foram mais afetadas pela queda na ocupação

Em 2020, as mulheres perderam mais postos de trabalho que os homens. Enquanto o número de homens ocupados assalariados caiu 0,9%, o de mulheres caiu 2,9%. Do total de 825,3 mil postos de trabalho perdidos entre 2019 e 2020, cerca de 593,6 mil (ou 71,9%) eram ocupados por mulheres. Com isso, pela primeira vez desde 2009, houve queda na participação feminina no pessoal ocupado assalariado, de 44,8% em 2019 para 44,3% em 2020, o menor nível desde 2016.

De acordo com o gerente da pesquisa, os setores da economia que historicamente empregam mais homens tiveram aumento de pessoal em 2020, enquanto aqueles que ocupam mais mulheres se retraíram. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Educação, composto majoritariamente por mulheres (66,9% do total), que perdeu 1,6% do seu pessoal assalariado. Já na construção, setor em que 90,6% dos ocupados são homens, houve aumento de 4,3% no número de assalariados.

O comércio, setor que concentra 19,0% das mulheres assalariadas, teve queda de 2,5% no total de pessoal ocupado assalariado. Mas, entre as mulheres assalariadas deste segmento, a queda foi maior: 3,2% contra 1,9% dos homens.

A participação feminina é menor nas empresas exportadoras e importadoras. No total de empresas e outras organizações levantadas pela pesquisa, as mulheres representam 44,3% dos assalariados, enquanto nas exportadoras esse percentual cai para 30,1% e nas importadoras, para 36,5%.

Aumento do número de empresas, sócios e proprietários pode estar ligado à perda de emprego

Enquanto o número de assalariados recuou, o número de sócios e proprietários nas empresas do país cresceu 4,3% ante 2019 e chegou a 7,3 milhões em 2020, o equivalente a 301,8 mil pessoas a mais. De acordo com Thiego, esse aumento pode estar relacionado às demissões ou diminuição da renda durante a pandemia. “Diante do desemprego, muitas pessoas resolveram abrir o próprio negócio. É o caso de pessoas que trabalhavam em restaurante, foram demitidas e começaram a vender comida em casa. Se a empresa que foi aberta tem CNPJ, declara o eSocial e não for MEI, ela entra nessa conta”, diz o pesquisador.

Acompanhando o crescimento no contingente de donos do próprio negócio, o número de empresas e outras organizações ativas aumentou 3,7% ante 2019 e chegou a 5,4 milhões em 2020. Isso equivale a um acréscimo de 194,8 mil empresas, no ano.

De acordo com o gerente da pesquisa, esse aumento foi puxado por aquelas empresas que não têm funcionários. O número delas cresceu 8,6% em 2020. Todos os demais portes de firma caíram: as microempresas que empregam de uma a nove pessoas assalariadas caíram 0,4%; as pequenas empresas que têm de 10 a 49 empregados, 5,3%; as médias empresas (50 a 250 pessoas), 2,3%; e as grandes empresas (mais de 250 pessoas), 1,0%.

Massa salarial cai 6,0% em 2020; recuo de salário médio é de 3,0%

A soma de salários e outras remunerações pagas por empresas e organizações totalizou R$1,8 trilhão em 2020, uma retração de 6,0% frente ao ano anterior, já corrigido pela inflação. É a maior queda da massa salarial desde o início da série histórica da pesquisa. Antes, o maior recuo havia sido registrado em 2015 (-4,8%). Em relação ao salário médio mensal, a queda foi de 3,0%. Com o resultado, a média salarial foi de R$3.043,81, o que equivale a 2,9 salários mínimos.

“Esse decréscimo, que foi generalizado entre as atividades, pode ser explicado por diversos fatores. A inflação cresceu nos três anos anteriores e não retrocedeu em 2020, ao mesmo tempo que o salário do trabalhador não sofreu esse reajuste. Isso já provocaria uma redução no salário em termos reais. Houve também a forte retração da atividade econômica e uma taxa de desocupação no maior patamar de toda a série histórica”, explica Thiego.

“Combinados, esses fatores desequilibram ainda mais o mercado de trabalho, com excesso de mão de obra que, por sua vez, pressiona para baixo os salários. Também cabe destacar o papel do Programa Emergencial de Preservação do Emprego, que permitiu acordos de suspensão temporária ou redução da jornada de trabalho com redução proporcional de salário, no qual o Governo Federal complementou com o restante. Essa complementação não foi declarada pelas empresas ao eSocial, uma das fontes de dados do estudo, e, consequentemente, não pôde ser contabilizada, também respondendo por parte da redução observada dos salários”, complementa.

Os maiores salários foram pagos no Distrito Federal, com média de 5,3 salários mínimos, e no Amapá, com 3,7 s.m. Essas duas Unidades da Federação foram seguidas por Rio de Janeiro e São Paulo, que concentram um terço de toda a população assalariada do país. Nos dois estados, a média salarial foi de 3,3 salários mínimos. Já as médias mais baixas foram observadas na Paraíba (2,1 s.m.), no Ceará (2,2 s.m.) e em Alagoas (2,2 s.m.).

Sudeste concentra mais da metade das unidades locais do país

A pesquisa também verificou a manutenção da alta concentração de unidades locais, pessoal ocupado total e assalariado, salários e remunerações no Sudeste. Em 2020, essa região respondeu pela maioria (50,6%) das unidades locais e quase metade (49,3%) das pessoas ocupadas do país. Foram 22,2 milhões de assalariados, representando 48,9% do total do país, e R$938,5 bilhões gastos em salários e outras remunerações (52,0%).

O Sul foi a segunda com maior participação no número de unidades locais (22,4%), pessoal ocupado total (18,5%) e salários e outras remunerações (16,8%), mas, em número de assalariados, ficou atrás do Nordeste, que respondeu por 18,6% do total. Entre os Estados, São Paulo segue com maior participação em número de unidades locais (30,9%), pessoal ocupado (28,8%), assalariados (28,5%) e salários e outras remunerações (32,1%).

Em relação a 2019, houve aumento no número de unidades locais e queda do total de salários e outras remunerações em todas as grandes regiões. O crescimento foi mais expressivo no Norte, onde o número de unidades locais aumentou 6,9% e no Centro-Oeste (5,8%). O Norte também foi a única região a registrar crescimento em relação ao pessoal ocupado assalariado (0,8%). A maior queda nesse contingente foi do Sudeste (-2,4%), com destaque para São Paulo, que perdeu 262,7 mil assalariados, e Rio de Janeiro, com perda de 238,7 mil.




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