Pesquisa que avaliou dados de uma década entre estudantes mostra crescente de insatisfação com corpo, bullying e experimentação de bebidas alcóolicas
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta semana diferentes dados sobre saúde e qualidade de vida de estudantes de 13 a 17 anos avaliados durante uma década, entre 2009 e 2019. Entre os destaques, a pesquisa mostrou que esses alunos estão mais insatisfeitos com próprio corpo, se sentem mais inseguros no trajeto ou na escola, têm relações sexuais mais cedo, usam menos preservativos, experimentaram mais bebidas alcóolicas e menos cigarros.
Esses são alguns dos indicadores da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Segundo Marco Andreazzi, gerente do levantamento do IBGE, a análise dos resultados permite uma visão ampla dos contextos sociais dos escolares.
“Permite observar como estava a saúde desses adolescentes antes da pandemia e quais as tendências, os motivos pelos quais deveriam se desenvolver estratégias de controle ou recuperação nas áreas mais frágeis possíveis dessa população”, afirma.
O recorte da pesquisa foram alunos do nono ano do ensino fundamental. “Essa faixa etária é preconizada pela Organização Mundial da Saúde no sentido de estudar os fatores de risco e proteção analisadas na Pense que são fundamentais para o desenvolvimento de hábitos e costumes e determinam a ocorrência de doenças crônicas degenerativas”, explica Marco Andreazzi.
Números
Dados sobre a saúde mental se destacam entre os números. Pouco mais de 40% dos estudantes questionados relataram já ter sofrido bullying, com provocação ou intimidação, um aumento de quase 10 pontos percentuais quando comparado com 2009.
A pesquisa também questionou nesses anos se os adolescentes já faltaram às aulas pelo menos um dia por se sentirem inseguros, ou no trajeto ou dentro da escola. A porcentagem dos alunos que responderam “sim” à pergunta dobrou: de 8,6% em 2009 para 17,3% em 2019. Gisele de Lucca, mãe de um adolescente de 16 anos, avalia que a instantaneidade de décadas marcadas pelo avanço digital geram impactos significativos na saúde e no comportamento dos jovens estudantes.
“O meu filho hoje, na adolescência, tem uma exposição muito maior ao contato da informação. Eles têm muito mais acesso à informação e ela chega rápido por meio dos mobiles, internet, tudo com facilidade. Mas eu vejo que a qualidade está indo muito contra a quantidade. Eles são expostos à muita informação, mas de baixa qualidade, que fazem eles tomarem certas decisões que às vezes não são compatíveis com uma vida muito saudável”, avalia.
A mãe lembra ainda da exposição dos adolescentes de hoje em dia com jogos online que tomam longas horas do dia, com ambientes virtuais sem muito controle para cyberbullying e outras características atuais. “A fonte de informação que eles têm hoje são tão diferentes que fazem os adolescentes tomarem essas decisões tão discrepantes com o autocuidado”, diz.
A pesquisa também mostra dados sobre prevenção que dialogam com a opinião de Gisele. Os adolescentes entrevistados foram perguntados ao longo dos últimos anos sobre o uso de preservativos na última relação sexual, caso tenham tido.
Nas capitais do país, o percentual de escolares que usaram camisinha caiu entre 2009 a 2019. Entre 2009 e 2012, essa taxa subiu de 72,5% para 74%. Mas ela teve novas quedas em 2015, chegando a 63%, e em 2019, com 59%.
Também preocupam as estatísticas sobre uso de substâncias ou ilícitas ou proibidas para essa faixa etária. Quando perguntados se já experimentaram bebida alcóolica, a porcentagem dos que responderam “sim” cresceu de 52,9% em 2012 para 63,2% em 2019, aumento ainda mais intenso entre as meninas, que saíram de 55% em 2012 para 67,4% em 2019. Para os meninos, o indicador foi de 50,4% em 2012 para 58,8% em 2019.
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