Singapura e Taiwan deixam Brasil e Cuba para trás, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A dinâmica econômica dos países da América Latina e dos Tigres Asiáticos tem sido marcadamente diferente nas últimas 7 décadas.
Considerando os 4 países do gráfico abaixo, percebe-se que Cuba tinha uma renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp), em 1952, de US$ 2,8 mil, superior à renda do Brasil US$ 2,4 mil, de Singapura US$ 2,3 mil e de Taiwan US$ 1,6 mil. Porém esta realidade mudou radicalmente ao longo das décadas seguintes.
Taiwan passou por grande transformação depois da Revolução Comunista na China continental em 1949 e se tornou lar das forças capitalistas que se refugiaram na ilha. Cuba passou por uma revolução socialista em 1959. No mesmo ano, Singapura conseguiu a independência do Império Britânico. O Brasil viveu conjunturas políticas diferenciadas após a Segunda Guerra Mundial, embora tenha se mantido como um país capitalista periférico.
Singapura e Taiwan adotaram um modelo de desenvolvimento baseado na promoção das exportações (Export led growth), enquanto o Brasil adotou o modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações e Cuba adotou um modelo socialista com controle estatal dos meios de produção.
O gráfico abaixo mostra que Singapura já tinha passado o Brasil na década de 1960, o Brasil passou Cuba na década de 1970 e Taiwan passou o Brasil na década de 1980. Em 2018, último dado disponível, Cuba tinha uma renda de US$ 8,3 mil, o Brasil tinha uma renda de US$ 14 mil, Taiwan de US$ 44,7 mil e Singapura de US$ 68,4 mil.
Em termos de distribuição de renda, o Brasil apresenta a maior desigualdade com um índice de Gini de 53,9. Singapura com uma renda per capita muito elevada (maior inclusive do que a renda dos EUA) tem um índice de Gini de 45,9. Taiwan com renda menor do que a de Singapura, mas bastante elevada para a comparação internacional tem a menor desigualdade com índice de Gini de somente 33,6. Para Cuba não há dados comparativos.
Uma característica comum aos 4 países é que todos eles terão decrescimento populacional no século XXI. O gráfico abaixo, da Divisão de População da ONU, mostra que a população e as projeções demográficas até 2100. O Brasil deve chegar ao pico populacional em torno de 230 milhões de habitantes e cair para 180 milhões em 2100. Cuba com 11 milhões de habitantes deve ter a população diminuída para menos de 7 milhões no final do século. Taiwan deve cair de 24 para 16 milhões de habitantes e Singapura não deve passar de 6,5 milhões de habitantes, com uma pequena queda para pouco menos de 6 milhões de habitantes em 2100.
Sem dúvida, Taiwan e Singapura eram países mais pobres do que Brasil e Cuba e conseguiram dar a volta por cima, aproveitaram o bônus demográfico e conseguiram reduzir a pobreza e avançar espetacularmente em termos educacionais.
Hoje são países de alta renda, alto Índice de Desenvolvimento Humano e são economias produtivas e competitivas com inserção soberana no processo de globalização. Já o Brasil e Cuba estão envelhecendo antes de enriquecer. Os dois países asiáticos bem sucedidos em termos econômicos e sociais podem servir de exemplo para a reavaliação dos erros da América Latina.
José Eustáquio Diniz AlvesDoutor em demografia, link do CV Lattes:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/07/2022
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