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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Com Lula eleito e PEC da transição: qual o recado do Banco Central hoje?

 *entrevista com Victor Inoue, head de produtos da WIT Invest

Entrevista com Victor Inoue, head de produtos da WIT Invest, sobre a reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que ocorre dias 06/12 e 07/12, a sétima reunião do ano para definir juros básicos - Selic

  1. Quais as expectativas para a próxima reunião do COPOM, dias 06/12 e 07/12? É esperado que o Banco Central do Brasil mantenha a taxa básica de juros Selic no patamar de 13,75%? Você acredita que os diretores vão se manifestar e mudar alguma estratégia por conta da PEC da Transição?

O mercado precifica a manutenção da Selic em 13,75%, mas o BCB já disse que a PEC da Transição está no radar do Comitê. Campos Neto, presidente do Banco Central, explicou que seria possível novos aumentos na taxa de juros, caso a convergência da inflação para a meta não ocorra da forma planejada.

  1. Caso já tenham sido definidos o Ministro da Fazenda (cotado Fernando Haddad) e também a PEC da Transição, você acredita que teria alguma mudança no posicionamento da reunião do Copom?

Não acredito que isso irá influenciar a decisão da reunião de dezembro, porém, caso os eventos citados levem a uma deterioração nas expectativas do mercado, principalmente das projeções de inflação e Selic, é provável que isso seja mencionado na ata da reunião do COPOM.

  1. O risco fiscal está sob controle? Qual o impacto para o mercado financeiro?

O risco fiscal não está sob controle. A PEC apresentada pelo governo eleito levaria a um déficit de até 2,6% do PIB em 2023 e permaneceria em terreno deficitário pelo menos até 2026. Caso a PEC não seja desidratada, podemos entrar em um cenário de dívida insustentável levando a uma situação de dominância fiscal.

  1. Considerando a atual situação da inflação que voltou a registrar aumento no último mês, após a divulgação do IPCA-15, como a WIT enxerga a possibilidade de redução da Selic para as próximas reuniões? Você acredita que teremos um cenário de deflação, como visto nos meses anteriores?

Não acreditamos que o BCB reduza a Selic nas próximas reuniões. No cenário pré-eleição esperávamos o início de cortes no segundo semestre de 2023, mas devido aos ruídos recentes sobre política fiscal o cenário se tornou muito incerto. Também não esperamos nova deflação, o efeito dos cortes de impostos já foi completamente absorvido.

  1. O último boletim Focus, do BC, divulgado segunda-feira, dia 28/10, mostra uma revisão para cima em inflação e câmbio para 2023. Por quê esta revisão?

Devido ao ruído referente à responsabilidade fiscal do governo eleito, houve uma deterioração das expectativas.

  1. Quando você acredita que deve se iniciar o ciclo de queda de juros no Brasil? E quais os impactos previstos nos investimentos?

Antes das eleições,  esperávamos que o ciclo de queda começasse no início do segundo semestre de 2023. Com a piora do risco fiscal, isso se tornou ainda mais incerto.

Em geral, nos ciclos de juros os ativos de riscos tendem a performar bem. Bolsa e ativos de renda fixa com vencimentos mais longos seriam os mais beneficiados.

  1. E no caso de se manter em 13,75%? Existe um movimento positivo em ações de varejo e também nos fundos imobiliários e de construção civil. Seria uma retomada destes setores? Quais os setores promissores no curto prazo?

Bancos e seguradoras tendem a performar melhor em cenário de juros altos, por conta do aumento dos spreads e do ganho financeiro do Float, respectivamente.

 Em relação a construção civil e varejo, são setores que se beneficiam de juros mais baixos.

  1. Caso a China, principal parceiro comercial do Brasil, comece a flexibilizar sua política de covid zero, quais os impactos para o nosso país em 2023?

O impacto de uma China com políticas de covid menos restritivas é muito positivo. Já observamos uma mudança de postura das lideranças chinesas, e o foco voltou a ser crescimento econômico.

Tivemos um rally de mais 20% no preço do minério de ferro, com IMAT acompanhando parte dessa alta.

  1. Um levantamento feito pela TradeMap mostra que a Bolsa brasileira recebeu R$ 2,4 bilhões em capital estrangeiro entre a eleição de Lula e a última quinta-feira (24/11). Desses, R$ 1,9 bi entrou somente no dia 31 de outubro, o primeiro pregão após o segundo turno. O saldo é consideravelmente maior do que o registrado em setembro, quando o fluxo estrangeiro foi de apenas R$ 585,3 milhões. Você acredita que o investimento estrangeiro vai continuar em 2023?

Acredito que sim. A postura do governo Lula em relação a assuntos como meio ambiente e desigualdade facilita a atração de capital internacional. Mas para que isso ocorra precisamos de um fiscal minimamente estável.

  1. Quais os fundamentos que o investidor analisa no Brasil que são favoráveis ao nosso país? E quais são desfavoráveis?

Começando pelos pontos positivos, quando olhamos para Bolsa, o Ibovespa tem uma composição muito atrativa devido sua exposição a commodities e ao fator valor, na renda fixa nosso juro real elevado também é um ponto forte, a relação risco/retorno está bem interessante, principalmente em títulos atrelados à inflação.

O que mais pesa para o investidor hoje é a incerteza fiscal, inflação americana deixou os holofotes.

  1. Na sua visão, quais ativos da renda fixa e renda variável devem ser mais afetados no que resta de 2022 por conta desta volatilidade? Justifique.

Em renda variável, os ativos mais afetados devem ser as estatais. Ainda é muito incerto como o governo irá lidar com empresas como Petrobrás e Banco do Brasil.

Na renda fixa, os títulos pré-fixados sofrem a maior volatilidade. O mercado de juros sofreu muito com a expectativa de um governo expansionista.

  1. Como muda a alocação de ativos nas carteiras de investimento? Como o investidor deveria posicionar a sua carteira neste período de transição, nos últimos meses de 2022?

Em renda variável, a preferência é por empresas de qualidade, principalmente com baixa alavancagem e poder de repasse de preços.

Na renda fixa, o pré-fixado se tornou mais arriscado. Preferência por ativos pós-fixados e inflação.

  1. Quais são os ativos que devem ser evitados na renda fixa neste período de transição? E em quais ativos da renda fixa há oportunidades? Justifique.

Os pré-fixados se tornaram mais arriscados. A probabilidade de termos uma inflação elevada aumentou com as declarações recentes do governo eleito. Nos investimentos em crédito privado, a qualidade se tornou ainda mais relevante, principalmente alavancagem.

A maior assimetria se encontra nos ativos atrelados à inflação, estamos com juros reais em níveis históricos.

  1. Quais são os ativos que devem ser evitados na renda variável neste período de transição? E em quais ativos da renda variável há oportunidades? Justifique.

As estatais e empresas com endividamento alto devem sofrer maior volatilidade. É um momento em que é arriscado comprar um ativo apenas porque caiu muito e parece ter ficado barato.

Exportadoras por terem receita em dólar se tornam uma boa opção defensiva na carteira, apesar da tendência de queda do dólar frente a outras moedas.

  1. Nas ações da bolsa, existem setores que devem ser evitados neste período de transição? Existem setores que representam oportunidades pontuais para o investidor? Justifique.

Setores sensíveis a aumento de juros e com valuation esticado tendem a sofrer mais nesse período de incerteza enquanto o setor de commodities e elétricas são mais resilientes.

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