Tanta coisa acontece na política brasileira que já nada mais impressiona, tudo se tornou trivial. Vimos há poucos dias a fuga de um presidente em fim de mandato para outro país, supostamente por não querer passar a faixa para o seu sucessor, ato voluntário que simboliza a alternância de poder, fato próprio das repúblicas democráticas. Mas, essa não pode ser a razão suficiente, já que nada obrigaria Bolsonaro a passar a faixa para Lula, bastava sair para sua casa antes do início da cerimônia de posse.
A primeira coisa que nos vem à mente é a ideia de fuga, o medo da prisão, coisa também a se tornar comum entre nós, desde 2018 dois ex-mandatários foram presos, primeiro o Lula e depois o Temer, sendo que no caso do Bolsonaro grandes foram os atritos com o poder judiciário, sendo, justamente o cerne da presidência do capitão de reserva o incômodo com a palavra final do STF em se tratando de interpretação da Constituição, o Bolsonaro chegou a dizer que ele era a constituição.
A Revista Istoé aventou que o Bolsonaro teria o plano de viver na Itália, por ter origem italiana, e, isso nos faz cogitar que a ideia seria criar a narrativa de exilado político em razão de supostas perseguições político-judiciais, para, certamente, comandar o bolsonarismo de fora do Brasil. Todos os políticos levados às barras dos tribunais se disseram vítimas de perseguições ou então adoeceram.
Uma fuga como esta teria o potencial de aniquilar uma carreira política, como foi o impacto da ida do Ciro Gomes a Paris entre o primeiro e o segundo turno de 2018, mas, no caso do Bolsonaro, se trata de político com eleitorado extremamente fiel que acaba relativizando todos os deslizes do chefe, passar pano, como dizem, da mesma forma que ocorre do lado do Lula.
A narrativa de exílio fomentaria a dialética essencial dos demagogos de que sofrem a perseguição de poderoso e malvado "sistema" e, portanto, haveria chance de sobrevida de uma seita política; pode ser somente o puro e covarde medo de uma prisão e a tentativa de ver como as cosias se desenrolam a princípio por aqui, no primeiro momento o impacto do ato não teve tanta relevância no bolsonarismo.
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