Ivan Jacob, professor mestre dos cursos de Ciências Econômicas e de Relações Internacionais da Universidade Cruzeiro do Sul, comenta sobre as tendências da taxa Selic e como se manter estável até a primeira metade de 2023
São Paulo, 27 de fevereiro de 2023 - A taxa básica de juros é chamada de taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Ela influencia diretamente todas as demais taxas de juros do país, como as de investimentos e de crédito para empréstimos e financiamentos. Quando a taxa de juros está alta, isso significa crédito mais caro para quem precisa, já para quem investe, pode significar maior rentabilidade (de acordo com o investimento escolhido). Hoje, após dois anos com taxas bastante oscilantes, qual é a expectativa dos juros para 2023?
Para Ivan Jacob, professor dos cursos de Ciências Econômicas e de Relações Internacionais da Universidade Cruzeiro do Sul, as taxas de juros devem se manter estáveis na primeira metade de 2023; a partir do meio do ano, pode haver um movimento de queda, tanto no Brasil quanto para outras economias.
“Depois de um período de aumento contínuo das taxas de juros, de forma coordenada pelos principais bancos centrais do mundo (FED americano, Banco Central Europeu e Bancos Centrais da Inglaterra e Japão, por exemplo), as taxas de inflação devem finalmente começar a ceder, permitindo às autoridades monetárias a reversão deste ciclo de alta. Em que pese a continuação da guerra na Ucrânia e a tendência de alta dos preços das commodities, a maior parte das pressões inflacionárias foi assimilada pelas economias mundo afora”, comenta.
Por ora, com as altas taxas ocorrendo, quem sai ganhando com juros é uma parcela ínfima de rentistas com títulos públicos. Na contramão, o setor mais prejudicado diante dos altos juros, além da própria população, é o produtivo, que vê encarecer o custo para novos investimentos, melhorias no parque produtivo, investimento em inovação, tecnologia e pesquisa, entre outros.
“Aumenta o custo do capital. E isso tem impacto direto na geração de empregos, pois esses novos investimentos poderiam significar aumento de postos de trabalho, ou seja, menos investimento, menos emprego e menos renda: o ciclo vicioso causado pelos juros altos que, como já dito, só beneficiam uma parcela pequena de financistas”, considera.
A partir desse argumento, há um levantamento feito pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management ilustrando que, no dia 1º de fevereiro, o Brasil era o país com a maior taxa de juros reais (descontada a inflação) do mundo. A taxa de juros de 13,75% favorece apenas 1% dos mais ricos e trava diretamente o crescimento econômico do país para 2023.
“A economia brasileira viu seus indicadores sociais desabarem por conta da pandemia: aumento da pobreza, desemprego, fome. A geração de emprego e renda deve ser urgente no Brasil, prioridade número um. Nesse sentido, os juros altos são contraproducentes, pois inibem novos investimentos. Ademais de encarecer o crédito, já que o consumo também pode ser um motor do crescimento econômico”, destaca Jacob.
O docente ainda salienta que a política fiscal pode ser um bom apoio para a redução das taxas de juros. “Há uma corrente teórica dentro da economia que afirma que a expansão dos gastos públicos (política fiscal) gera inflação, então é sempre importante manter as contas públicas em dia. E nesse sentido, ter uma regra que determine os gastos públicos é importante para manter a inflação sob controle, já que os juros altos têm como objetivo conter a inflação. Esse argumento não é inexorável, mas pode ter um papel importante na sinalização futura das expectativas”, pontua.

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