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segunda-feira, 15 de maio de 2023

Com alta de ditaduras no mundo, professor Adriano Codato resgata bastidores do regime militar brasileiro

 Doutor em Ciência Política analisa o governo instituído a partir do golpe de 1964 e fazer um alerta sobre novas ameaças de autoritarismo

De 2012 a 2022, o número de países com regimes ditatoriais cresceu de 22 para 33. Já o número de democracias plenas caiu de 44, em 2009, para 32 no ano passado. Estes dados do instituto sueco V-Dem, ligado à Universidade de Gotemburgo, refletem a efetividade das ondas autoritárias que ganharam força no mundo todo nas últimas décadas.

Motivado a fornecer embasamento para aqueles que desejam entender de fato o que é uma ditadura e como funcionam os bastidores das decisões que são tomadas nesses governos, o Doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adriano Codato, publica o livro Ditadura Militar - Nove Ensaios sobre a Política Brasileira pelo selo Edições 70 da editora Almedina Brasil.

O lançamento revisita textos sobre temas que Codato considerava superados, mas que voltaram ao debate público com grande evidência. “A decisão por publicar um livro que estava praticamente pronto desde 2010, mas que foi abandonado porque julguei que esses assuntos todos – ditadura, militares, ditadura militar – não teriam mais o mínimo interesse para o cientista político, inesperadamente, e sinistramente, recobraram toda a sua atualidade a partir de 2018”, avalia.

Como indicativos de que o tema segue atual, o professor destaca as passeatas que plagiam as “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” e as manifestações com exigências da reedição do Ato Institucional n. 5. O interesse da imprensa pelas divisões políticas nas Forças Armadas, o emprego de militares em cargos civis para pretensamente supervisionar os processos decisórios do Estado e a recuperação do protagonismo político por generais também revelam que os termos de negociação da Nova República foram postos em xeque novamente.

Ponto alto neste livro são as discussões sobre o nível de militarização da administração pública e dos aparelhos de Estado em geral. Examinando a composição da burocracia, evidencia uma tese importante sobre o regime militar: as Forças Armadas não se apropriaram diretamente de funções de mando que envolvessem política financeira e econômica. O insulamento burocrático foi mantido não para isolar as áreas de excelência da esfera do clientelismo partidário, mas para blindar as atividades técnicas de forma que o governo militar não perdesse os quadros de excelência ou a capacidade técnica já instalada na burocracia pública. Ainda segundo suas evidências, fica explícito que as áreas mais poupadas da militarização foram os ministérios econômicos e que as áreas mais acionadas como recurso de poder militar estavam ligadas aos setores de comunicação e de informação.

Maria Celina D'Araujo, cientista política, professora de graduação e pós-graduação na PUC do Rio de Janeiro, no prefácio da obra

Ao percorrerem desde a véspera do golpe, seu desenrolar, passando pelo fechamento do regime até as relações dos militares com as políticas econômicas, os nove ensaios contidos no livro tratam da relação do governo ditatorial com a dinâmica do sistema político brasileiro. Segundo Codato, a insurreição de 1964 marcou a história do Brasil e criou a necessidade de repensar a política desde então.

Ditadura Militar - Nove Ensaios sobre a Política Brasileira trata de temas passados, mas que são surpreendentemente atuais. É um convite à reflexão sobre os posicionamentos perante o enfraquecimento de democracias em todos os cantos do globo. Ao dedicar-se para analisar com atenção o período de transição, o autor questiona se os militares realmente voltaram aos quartéis ou se foram expulsos da política e destaca que as bases democráticas construídas a partir deste momento já nasceram defasadas e seguem até hoje se pautando pelo déficit de cidadania.

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Ficha técnica

Livro: Ditadura Militar - Nove Ensaios sobre a Política Brasileira
Autor: Adriano Codato
Editora: Almedina Brasil
ISBN: 9786554270687
Páginas: 236
Formato: 23x16x1,2cm
Preço: R$ 99,00
Onde encontrar: Almedina Brasil | Amazon

Sobre Adriano Codato

Adriano Codato é professor associado de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente, é o coordenador adjunto da Área de Ciência Política e Relações Internacionais da CAPES, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política (UFPR), editor-chefe da Revista de Sociologia e Política e dirige o Observatório de elites políticas e sociais do Brasil. Em 2012, recebeu o prêmio de melhor obra científica da ANPOCS pelo livro Marxismo como ciência social (em coautoria com Renato Perissinotto). Em 1996, recebeu o Prêmio José Albertino Rodrigues da ANPOCS na categoria Melhor Dissertação de Mestrado pelo trabalho Sistema estatal e política econômica no Brasil pós-64 (Hucitec, 1997). Seus temas de pesquisa são: representação política, elites políticas e estatais, carreiras políticas e cientometria.

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Sobre a editora

Fundada em 1955, em Coimbra, a Almedina orgulha-se de publicar obras que contribuem para o pensamento crítico e a reflexão. Líder em edições jurídicas em Portugal, a editora publica títulos de Filosofia, Administração, Economia, Ciências Sociais e Humanas, Educação e Literatura. Em seu compromisso com a difusão do conhecimento, ela expande suas fronteiras além-mar e hoje traz ao público brasileiro livros sobre temas atuais, em sintonia com as necessidades de uma sociedade em constante mutação.

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