Números divulgados pela Receita Federal mostram crescimento da concentração de renda nos últimos anos
Os mais pobres estão ganhando menos e pagando mais imposto de renda que os ricos. Com uma regressividade que só cresce no sistema tributário nacional, o aprofundamento da desigualdade social é evidente na análise dos grandes números do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), divulgados pela Receita Federal em junho. Referentes às declarações de 2022, os dados demonstram um crescimento da concentração na renda entre 2020 e 2021, em estudo feito pelo Sindifisco Nacional (Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal).
Em 2021, a renda total declarada no país foi de R$ 4,238 trilhões, um aumento expressivo se comparado ao ano de 2020, que foi de R$ 3,403 trilhões. Porém, essa elevação se deu em um contexto de maior concentração de renda. A classe média e os mais pobres, que recebem até 20 salários-mínimos, diminuíram a sua porcentagem na renda declarada, passando de 56% para 54,5%. Já os mais ricos, foram de 44% de participação na renda total declarada para 45,5% em apenas um ano.
“Podemos atribuir o aumento na concentração de renda a três fatores principais: inflação, falta de correção da tabela do imposto de renda e isenção de lucros e dividendos do Imposto de Renda de Pessoa Física. A participação relativa dos rendimentos isentos e não tributáveis, como lucros e dividendos, no total da renda declarada aumentou de 32% para 36%. O que demonstra que a regressividade do sistema tributário está se aprofundando, pois os super-ricos estão utilizando esses recursos como nunca, contribuindo ainda menos para a arrecadação federal”, afirma Isac Falcão, presidente do Sindifisco Nacional.
A categoria dos “lucros e dividendos recebidos pelo titular e pelos dependentes” totalizou, em 2021, R$ 555,68 bilhões. Observa-se um crescimento de 44,61% ante os R$ 384,27 bilhões declarados em 2020. Para o Sindifisco Nacional, esse movimento se deve às expectativas dos agentes econômicos de um possível restabelecimento da tributação sobre lucros e dividendos distribuídos, discutido pela equipe econômica do antigo governo. Assim sendo, parte do empresariado antecipou a distribuição dos lucros para evitar uma provável taxação.
Alíquotas menores para quem ganha mais
A desigualdade de renda se aprofunda frente aos privilégios tributários dados ao topo da pirâmide social. A maior alíquota efetiva média do IRPF brasileiro é de 11,25%, e corresponde à faixa entre 15 e 20 salários-mínimos. A partir deste ponto, ela decresce até 5,31%, para os indivíduos com renda de 240 a 320 salários-mínimos mensais e aumenta para 5,43% para rendimentos acima de 320 salários-mínimos. Ou seja, quem ganha cerca de R$ 300 mil ao mês paga menos imposto de renda proporcionalmente do que quem recebe, aproximadamente, R$ 7 mil mensais.
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