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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

As cores da população idosa no Brasil

As cores da população idosa no Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Multidão de pessoas na 25 de Março, em São Paulo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


A população brasileira tem se percebido de maneira mais miscigenada e menos predominantemente branca, embora haja diferenças entre os diversos grupos etários.

A proporção de pessoas que se autoidentificam com a cor branca tem diminuído nos anos 2000 em todas as idades. Para o conjunto da população, o número de indivíduos que se autodeclaram pardos ultrapassou aqueles que se autodeclaram brancos. Mas entre os idosos, a autodeclaração de brancos ainda abarca a maioria dos habitantes com 60 anos e mais de idade, como mostrou o censo 2022.

O IBGE investiga o quesito cor ou raça da população brasileira a partir do critério de autoidentificação. São apresentadas 5 categorias de escolha: Branca – para a pessoa que se declara branca; Preta – para a pessoa que se declara preta; Amarela – para a pessoa de origem do leste asiático (japonesa, chinesa, coreana, etc.); Parda – para a pessoa que se identifica com a mistura ou miscigenação de duas ou mais opções de cor ou raça; Indígena – para a pessoa que se declara indígena, morando ou não em terras indígenas.

Dentro de cada domicílio visitado pelo IBGE, o informante responde não só a sua percepção sobre a sua cor ou raça, como também responde para os outros membros da moradia. A escolha é subjetiva, pois não existe um critério biológico ou uma palheta de cores pré-definidas. Segundo o manual do censo demográfico, existirem vários critérios que podem ser usados pelo informante para a classificação (origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia, pertencimento comunitário, entre outros). Desta forma, as cinco categorias estabelecidas na investigação (branca, preta, amarela, parda e indígena) podem ser entendidas pelo informante de forma variável no tempo e no espaço e de acordo com as opções individuais.

O gráfico abaixo mostra que, para o total da população brasileira, a percentagem de pessoas que se autodeclaravam brancas era de 53,7% no ano 2000, caiu para 47,7% em 2010 e diminuiu ainda mais em 2022, para 43,5%. A percentagem de pardos subiu de 38,5% em 2000, para 43,1% em 2010 e 45,3% em 2022. Portanto, a autodeclaração de pardos superou a autodeclaração de brancos no último censo. O Brasil tem se enxergado mais miscigenado.

percentagem do total da população brasileira por cor ou raça

 

Os dados acima evidenciam que, até o ano 2000, a maior parte da população brasileira se autodeclarava branca. Mas este quadro mudou no século XXI, principalmente depois da Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância. A Conferência de Durban, de 2001, impulsionou a criação de políticas públicas para o enfrentamento ao racismo. Houve uma grande mobilização da sociedade brasileira e das políticas públicas no país no sentido de valorizar os direitos da população preta, parda e indígena. Houve uma mobilização pelo orgulho negro (população negra = preta + parda), pelos direitos dos povos originários e uma valorização do processo de miscigenação.

Desta forma, muitas pessoas que se autodeclaravam brancas passaram a se declarar pardas e muitas pessoas que se declaravam pardas passaram a se declarar pretas. Houve um processo de “desbranqueamento” do Brasil. Os habitantes do país passaram a enxergar a cor/raça de um espectro diferente, valorizando mais a miscigenação e a variedade dos tons não brancos.

Assim, o percentual de pessoas que se autodeclaram pretas passou de 6,2% no ano 2000, para 7,6% em 2010 e para 10,2% em 2022. Enquanto, a população total cresceu 6,5% entre 2010 e 2022, a população que se autodeclara preta cresceu 42,3% no mesmo período. A população que se autodeclara amarela (de origem oriental) ficou em torno de 0,4% entre 2000 e 2022. A população indígena que estava em torno de 0,4% na primeira década do século XXI, passou para 0,6% em 2022, sendo o grupo que apresentou o maior crescimento absoluto entre 2010 e 2022 (mais de 50% de aumento absoluto).

O gráfico abaixo mostra os mesmos dados do gráfico anterior, mas para a população de 60 anos e mais de idade. A percentagem de idosos que se autodeclaravam brancos era de 60,7% no ano 2000, caiu para 55,9% em 2010 e chegou a 51,7% em 2022. Portanto, a autodeclaração de brancos continua majoritária no topo da pirâmide etária.

percentagem da população idosa por cor ou raça no brasil

 

A percentagem de idosos que se autodeclaram pardos subiu de 30,4% em 2000, para 34,6% em 2010 e 37,3% em 2022. A presença de pardos entre os idosos é menor do que na população total. O percentual de idosos que se autodeclaram pretos passou de 7,0% no ano 2000, para 7,8% em 2010 e para 9,9% em 2022. A presença de pretos entre os idosos é semelhante ao que ocorre na população total. O percentual de idosos que se autodeclaram amarelos ficou em torno de 0,8% e o percentual de indígenas entre os idosos ficou em 0,4%. Isto indica que a população amarela (de origem do leste asiático) possui uma estrutura etária mais envelhecida e a população indígena possui uma estrutura etária mais rejuvenescida.

Há, pelo menos, duas possíveis explicações para a maior proporção de autodeclaração de brancos na população idosa, quando comparada com a população de 15 a 59 anos. A primeira, diz respeito às políticas de ação afirmativa que são mais voltadas para a população adolescente e adulta, especialmente nas áreas de educação e mercado de trabalho.

A segunda explicação tem a ver com a questão especificamente da cor, pois, em um país tropical, com o avanço da idade as pessoas tendem a ficarem menos expostas ao sol e com cabelos mais prateados, o que pode aumentar, proporcionalmente, a autodeclaração de brancos.

Sem dúvida, a forma como as pessoas vivenciam suas percepções de etnia e cor varia com a região, a interação social, os gêneros e as gerações. Todas as cores importam. Nas últimas duas décadas, o orgulho da pluralidade da cor da pele está aumentando e os preconceitos estão diminuindo. O Brasil está ficando mais multifacetado na declaração de cor e com maior reconhecimento do processo de miscigenação que faz parte da história do país.

O fundamental é que haja respeito e uma convivência fraternal e pacífica entre todas as pessoas na construção de um país sem discriminações e segregações, com liberdade para que cada habitante se expresse na sua singularidade, em meio à saudável unidade da diversidade.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:

Referências:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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