Com cenários doméstico e global incertos, Banco Central muda guidance para próximas reuniões
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (20/03) a redução em 0,50 ponto percentual (p.p) da taxa básica de juros (Selic). Com isso, os juros brasileiros passam a ser 10,75% ao ano (a.a). De acordo com o comunicado do Banco Central, o colegiado segue vigilante em relação ao cenário externo, tendo em vista que o “ambiente externo segue volátil” e no que se refere ao Brasil, o texto destaca que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom”.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária”, diz o comunicado do Copom.
Na avaliação do economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, o Copom confirmou as projeções de corte de 0,50 p.p da taxa de juros e não trouxe surpresas em relação a isso. No entanto, ele destaca que o comunicado traz algumas novidades, dentre elas o reconhecimento pelo comitê de que o cenário externo está um pouco mais complexo.
“Há um reconhecimento de que o cenário externo ficou um pouco mais complicado e difícil. Ainda que você se aproxime da flexibilização monetária, há uma discussão ali sobre eventuais pressões na inflação vindas do mercado de trabalho. Esse não é um ponto novo, vimos isso acontecendo nos dados, principalmente nos Estados Unidos, mas o BC faz o reconhecimento desse processo”, explica Cardoso.
Para o economista-chefe, outro aspecto importante do comunicado é que o Banco Central destaca que a inflação subjacente está acima do compatível com a meta.
“A conclusão desse processo, dessa alteração do cenário, onde ele fica mais incerto pelo cenário internacional e mais incerto aqui em relação à inflação dos subjacentes, fez o BC optar por migrar e falar explicitamente que o balanço de riscos realmente ficou mais incerto”, conclui Cardoso.
A partir desta conjuntura, o Copom passa a se comprometer com novos cortes na Selic somente para o próximo encontro do comitê e deixa em aberto o que deverá ocorrer nas reuniões seguintes.
“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o comunicado do BC.
Nesta mesma quarta-feira, o Fed, banco central dos Estados Unidos, anunciou a manutenção da taxa de juros da economia norte-americana nos atuais 5,50%. Na leitura de Fábio Zaclis, gestor de fundos multimercados da Daycoval Asset, havia uma expectativa para os caminhos que o Fed e o Copom iriam adotar.
“Depois de alguns dias de abertura na taxa de juros, a gente já tinha visto um certo alívio nas curvas nesta terça e quarta-feira, especialmente após o Federal Reserve ter divulgado um comunicado muito em linha com o que era a expectativa do mercado. Soma-se a isso o fato da entrevista pós-anúncio do Fed ter indicado que mesmo com a inflação mais forte neste começo de ano, foi mantido o indicativo de que eles vão fazer cortes mais lentamente ou que a taxa de equilíbrio pelo menos para frente, mantendo a projeção de três cortes nesse ano. Isso trouxe um alívio para o mercado de juros tanto internacional quanto no local”, explica Zaclis.
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