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segunda-feira, 12 de agosto de 2024

PIB da Bioeconomia cresce 1,03% em 2023, ante a retração de 2022, revela o Observatório de Bioeconomia da FGV

O PIB-Bio é composto pelas atividades de origem vegetal, animal e florestal da bioeconomia, bioindústria e indústria bio-based (com viés biológico). O valor de mercado do PIB-Bio é de R$ 2,74 trilhões e representa 25,3% do PIB do Brasil.

 


O PIB da Bioeconomia registrou o valor total de R$ 2,7 trilhões em 2023, atingindo 25,3% do PIB brasileiro (Tabela 1), é o que revela o Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV). A bioindústria ainda é a atividade com maior representação econômica, cerca de 46% ou R$ 1,8 trilhão. Já a bioeconomia primária representa 41% e chegou a R$ 1,1 trilhão. As duas atividades, bioindústria e bioeconomia primária , representam 87% do PIB-Bio, enquanto bioenergia e indústria com viés biológico representam, respectivamente, 5% (R$ 131 bilhões) e 8% (R$ 213 bilhões) do agregado “macrobioeconômico”.
 

Em termos reais, o PIB-Bio cresceu cerca de 1,03% em relação a 2023 (Tabela 2). Esse resultado representa uma recuperação parcial da queda em 2022 (–2,3%) e faz com que o indicador se aproxime novamente da trajetória de crescimento que se estendia desde 2017. Esse resultado deve-se ao crescimento da bioeconomia primária (5,9%), enquanto as demais atividades recuaram. A bioindústria recuou cerca de 1,3% como indústria com viés biológico 0,1% e 15,1% enquanto bioenergia. Embora a bioeletricidade tenha crescido em termos reais (0,3%), a cadeia de valor de biocombustíveis recuou cerca de 17%, o que impacta o resultado da bioenergia de modo geral.
 

A série base fixa apresenta as trajetórias de crescimento de cada atividade que compõe o PIB-Bio e seu valor agregado. No período analisado, 2010-2023, o PIB-Bio acumula um crescimento real de 13,8% o que representa uma taxa anual média de crescimento de 0,81% (Tabela 3). No mesmo período, as atividades da bioeconomia primária apresentam um crescimento real acumulado de 47% , o que implica um aumento da participação dentro do PIB-Bio – cerca de 41% em 2023 contra 32% em 2010. Já as demais atividades perdem participação do PIB-Bio devido ao baixo crescimento observado no período analisado. O período compreende inúmeras crises internas, pandemia de Covid-19 e instabilidade nos mercados internacionais devido às guerras.


“De modo geral, o PIB-Bio está crescendo ao longo do tempo, ou seja, a participação das atividades da bioeconomia está ganhando espaço dentro da economia brasileira. Essa maior participação se dá na cadeia da bioeconomia primária, que é composta por atividades agropecuárias, extrativismo vegetal, pesca e aquicultura. Já as cadeias da bioindústria e indústria com viés biológico apresentam de modo agregado uma maior inércia devido à dependência do mercado interno para o crescimento”, afirma Cícero Lima, pesquisador do Observatório de Bioeconomia da FGV.

 

Tabela 1. Valores correntes (milhões R$) das atividades do PIB da Bioeconomia e participação (%) no PIB do Brasil.


Fonte: Observatório de Bioeconomia, 2024.


Tabela 2. Variação (%) de volume das atividades do PIB da Bioeconomia – ano contra ano anterior.


Fonte: Observatório de Bioeconomia, 2024.

Tabela 3. Série encadeada de volume do PIB-Bio e suas atividades – 2010 = 100.


Fonte: Observatório de Bioeconomia, 2024.

O que é o PIB da Bioeconomia?


O PIB da Bioeconomia considera o valor de mercado de todos os bens e serviços que integram a cadeia de valor da Bioeconomia. A construção do PIB-Bio leva em consideração parcelas importantes dos segmentos de insumos, bioindústria e serviços e do próprio valor adicionado das atividades que têm origem na Bioeconomia. Como resultado, tem-se um conjunto de Contas-Satélite de segmentos e grupo de atividades que descrevem o comportamento econômico da Bioeconomia em um determinado ano. Considera-se como atividades da Bioeconomia a agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, pesca e aquicultura, alimentos e bebidas, celulose e papel, têxteis, biocombustíveis, produtos do fumo, bem como partes das indústrias de vestuário, calçados, madeira, farmoquímicos, borracha e plástico, móveis e energia elétrica. Conceitualmente, a definição de Bioeconomia adotada para a determinação do PIB-Bio tem como base as visões de biotecnologia e biorrecursos da Bioeconomia, desconsiderando, nesse momento, aspectos de sustentabilidade da produção ou valores intrínsecos da biodiversidade.
 

Avanços para a Valoração da Bioeconomia


Assim como a tradicional métrica de crescimento econômico – Produto Interno Bruto (PIB) – o PIB-Bio baseia-se nas métricas derivadas do sistema de contas nacionais (SNA em inglês). No Brasil, as contas nacionais (anuais e trimestrais) são divulgadas periodicamente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Uma das principais métricas do SNA é o valor adicionado. A combinação dos valores adicionados de diversas atividades (com ajuste de formação de capital e impostos) é equivalente ao PIB.
 

O PIB resume os esforços econômicos de todos os residentes em um país, é de fácil interpretação e comparabilidade; por esse motivo, é a métrica de desempenho econômico mais usada mundialmente. Intuitivamente, um PIB maior que o do ano anterior gera renda adicional a ser distribuída às populações em crescimento e tem uma conotação positiva, enquanto o contrário tem conotação negativa.
 

Ao ser derivado do mesmo sistema de contas, o PIB-Bio se limita à métrica do PIB e considera o rendimento das atividades como fluxos que contribuem para o seu crescimento; entretanto não explicita se esses rendimentos têm origem, por exemplo, em renda do investimento de capital ou pela liquidação dos estoques de capital, seja ele físico ou natural.
 

Para valorar a Bioeconomia, há critérios específicos de sustentabilidade que precisam ser incorporados para, por exemplo, qualificar ou desqualificar uma atividade como sendo ou não parte da Bioeconomia. Os critérios e métricas de sustentabilidade são de difícil mensuração e demandam sistematização de dados de diferentes atividades. Existem diversos esforços nesse sentido. Assim que tais indicadores e métricas de sustentabilidade estiverem disponíveis, eles farão parte da valoração da Bioeconomia.
 

Por fim, o estoque de capital natural e biodiversidade, extremamente relevantes para a realidade brasileira, também deverá ser incorporado na valoração. As contas econômicas ambientais, conhecidas como contas-satélite do sistema de contas nacionais, estabelecem diretrizes para a mensuração e sistematização de contas de fluxo e estoque de ativos ambientais e serviços ecossistêmicos. Para o caso brasileiro, as contas econômicas ambientais já contemplam energia e uso de água, entretanto ainda há a necessidade de avanços sobre mensuração de serviços ecossistêmicos e demais recursos naturais.

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