Ricardo Viveiros. Crédito: divulgação.
Ricardo Viveiros*
Em uma economia emergente como a do Brasil, a valorização do Real é ferramenta correta para conter a inflação. Utilizar altos juros para esse fim significa um remédio amargo que, além de aumentar os custos financeiros sobre os produtos, causa sequelas. De janeiro a junho deste ano, devido aos juros elevados, houve 1.014 pedidos de recuperação judicial por parte de empresas. Além das críticas direcionadas ao presidente do Banco Central (BACEN), Roberto Campos Neto, pelos juros altos, é importante observar que, ao promover a desvalorização do Real, ele está contribuindo para a alta da inflação.
Há evidências de que o mercado tem manipulado a alta do dólar com o intuito de também elevar a inflação. Ademais, entre maio e o mês de agosto de 2024, o BACEN aumentou nossas reservas cambiais em 19 bilhões de dólares, o que contribuiu para a subida do dólar e, consequentemente, da inflação. Nesse cenário, o presidente do órgão parece estar mais a serviço do mercado financeiro do que da sociedade. Se não fosse isso, ele, em vez de aumentar as reservas cambiais, estaria reduzindo parte delas para valorizar o Real e, assim, diminuir a inflação. Campos Neto promove a alta inflacionária com a desvalorização da nossa moeda e, em seguida, dissimuladamente usa o álibi da inflação para justificar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) elevada, satisfazendo parceiros do mercado financeiro – sua origem e seu provável futuro.
Quanto à valorização do Real ser danosa às exportações, não é verdade, pois não afeta os resultados das vendas para o exterior, uma vez que elas são realizadas em dólares. A rigor, reduz os custos com a logística e os insumos importados, enquanto os ativos em dólares dos exportadores também valorizam, contribuindo para que nossa economia torne-se uma das mais sustentáveis do mundo.
Ao reduzir nossas reservas cambiais em 100 bilhões de dólares para o pagamento de parte da dívida pública federal, ainda manteríamos montante superior ao das quatro maiores economias europeias juntas. Isso, além de reduzir a dívida pública, seria suficiente para colocar em pouco tempo o dólar abaixo de R$ 4,50, o que promoveria a queda da inflação para a meta de 3% em cerca de oito meses. É recomendável manter as nossas reservas cambiais em, no máximo, 12% do PIB, o que favorece sua valorização e, por consequência, impede a alta da inflação e melhora nossa posição no ranking mundial.
Caso Gabriel Galípolo, como se comenta, venha a ser o presidente do BACEN e adote a estratégia de substituir juros altos pela valorização do Real no combate à inflação, os investidores estrangeiros se interessariam por colocar mais dinheiro no Brasil, porque obteriam lucros em suas operações, como ocorreu no governo anterior de Lula, quando o Real passou de R$ 3,54 por dólar, em 2003, para R$ 1,66, em 2010. Não é compreensível que os investidores estrangeiros ainda acreditem na estratégia de Campos Neto e do mercado financeiro de promover previsões pessimistas sobre o crescimento do PIB brasileiro e, assim, inibir o ingresso de dólares na economia nacional para promover a queda da inflação.
Para o bem do Brasil, no combate à inflação, o Real valorizado é a solução!
*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, dentre outros livros, de “A vila que descobriu o Brasil”, “Justiça seja feita” e “Memórias de um tempo obscuro”.
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