Próximo passo será levar para Anvisa e, então, começar os testes em humanos
Foto: Reprodução Debora F. Barreto Vieira - OIC - Fiocruz |
"A pandemia de Covid-19 deixou um ensinamento: não deixar tudo para última hora". A frase é da pesquisadora Karine Lourenço, coordenadora do projeto de desenvolvimento da vacina contra Monkeypox, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A vacina 100% nacional vem sendo desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Vacinas da universidade, desde 2022, quando surgiu a primeira emergência global por Mpox. Os pesquisadores da UFMG trabalham em duas vertentes: uma para desenvolver a vacina em si e outra para avaliação da imunogenicidade desta vacina.
“A avaliação da imunogenicidade nada mais é do que ver se esta vacina realmente gera uma resposta protetora no desafio contra o vírus Monkeypox”, detalha Karine, que ainda explica em que ponto estão os estudos neste momento.
Como funciona a vacina nacional MVA
A vacina desenvolvida pela UFMG é feita a partir de um vírus atenuado — que não é capaz de causar o adoecimento ou infecção na pessoa que a recebe.
“Essa vacina chamada MVA contém um vírus muito parecido com o vírus da Mpox, só que incapaz de causar infecção nas células humanas. Quando tomamos essa vacina, nosso corpo produz uma resposta que, quando em contato com o vírus, impede o organismo de adoecer”, detalha a coordenadora da pesquisa.
Hoje já existem duas vacinas que protegem contra o vírus da Mpox: Jynneos e ACAM 2000. A primeira — Jynneos — já está disponível e também é produzida a partir do vírus atenuado. O maior problema dela consiste em ser produzida por apenas uma farmacêutica atualmente.
Já a ACAM 2000 é feita a partir de um vírus não atenuado, o que significa que não pode ser aplicada em pacientes imunossuprimidos — como quem tem HIV ou está em tratamento para o câncer, por exemplo — justamente as pessoas que mais precisam da vacina.
O médico infectologista Victor Bertollo ainda complementa que as vacinas existentes são derivadas da vacina contra a varíola — doença erradicada mundialmente na década de 80 — por isso a produção é muito baixa, assim como a disponibilidade dessas doses.
Houve uma estratégia pontual em 2022 do Ministério da Saúde para trazer uma das vacinas para o Brasil, mas hoje ela não está mais disponível, explica Bertollo.
“As pessoas não conseguem encontrar essas vacinas nas salas de vacina nem na rede pública, salvo em raríssimas exceções onde eventualmente tenha sobrado alguma dose.”
Entrega à Anvisa
A coordenadora da equipe de pesquisa explica que o processo está adiantado. “Estamos preparando a documentação que vai ser enviada à Anvisa para que a gente tenha a liberação para que se iniciem os testes em humanos.”
Karine explica que é agora que vem a parte mais difícil do processo — que é o processo de documentação.
O que é a Mpox?
Detectada pela primeira vez em humanos na República Democrática do Congo, em 1970, a Mpox é considerada hoje uma doença endêmica, sobretudo em países da África central e ocidental.
Entre os principais sintomas estão erupções ou lesões de pele, linfonodos inchados, além de febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza. Até que se manifeste a doença, o indivíduo pode levar entre 3 a 16 dias e o diagnóstico é feito a partir de testes de laboratório.
A transmissão do vírus Monkeypox entre humanos é feita, principalmente, por contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias ou lesões na pele de uma pessoa infectada, ou com objetos contaminados recentemente com fluidos de pacientes ou materiais da lesão. A maior parte dos infectados apresenta sintomas leves e moderados e ainda não existem tratamentos nem medicamentos específicos para a infecção pelo vírus.
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