Enquanto nos debruçamos sobre os cálculos mirabolantes de quanto a Caicó Eventos, outrora conhecida como Prefeitura Municipal de Caicó, irá despejar nos blocos carnavalescos, uma polêmica floresce em meio ao calor do semiárido – e, como sempre, a Caicó Eventos nunca nos decepciona na capacidade de surpreender.
Os blogs simpáticos à referida empresa de shows, sempre atentos às “grandes questões” da cidade, trazem à tona o que consideram um impasse alarmante: uma rua pode deixar de ser calçada porque seus moradores se recusam a sacrificar uma árvore. Isso mesmo, prezado leitor, uma árvore! Em tempos de cidadania sonolenta, uma resistência dessas merece aplausos de pé.
Mas permitam-me perguntar: que engenharia é essa que sucumbe à presença de uma única árvore? Seria esta uma árvore anciã, plantada pelos fundadores da cidade, ou apenas uma vítima ocasional da miopia administrativa? É fascinante ver como a criatividade da engenharia moderna, capaz de erguer arranha-céus em áreas sísmicas e construir pontes que atravessam oceanos, é subitamente vencida por um tronco e algumas folhas.
E a Caicó Eventos, pergunto-lhes: quantas árvores plantou nesta cidade que padece sob o sol inclemente? Em uma região onde o calor nos abraça como um velho conhecido indesejado, o que se tem feito pela sombra, pelo verde e pela brisa? Que ações práticas foram tomadas para transformar a área em volta da Ilha de Santana, localizada no coração do Rio Seridó, em um parque ambiental digno de sua importância histórica e ecológica?
Parece que a única preocupação gira em torno de trilhas elétricas, e não trilhas ecológicas. Ah, claro, eis a questão subjacente: será que a rua em questão abriga a rota de algum trio elétrico? Pois, se assim for, o destino da pobre árvore já está selado, pois o desfile da folia e da espuma jamais se curvará diante de tão modesta existência vegetal.
E que irônico é pensar que, no século XXI, quando a consciência ambiental ganha corpo mundo afora, nossa pequena Caicó, tão rica em história, parece caminhar na contramão. Sacrificar o verde em nome de blocos carnavalescos e calçamentos inflexíveis soa como uma ode à mediocridade administrativa.
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