Ainda Estou Aqui e a Maturidade do Cinema Brasileiro - Blog A CRÍTICA

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Ainda Estou Aqui e a Maturidade do Cinema Brasileiro



É difícil imaginar que Ainda Estou Aqui não traga ao Brasil seu primeiro Oscar, pelo menos na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. A trama é inteligentemente construída e, acima de tudo, universal. O drama da violência gerada por Estados autoritários ecoa em qualquer canto do mundo, tornando-se uma reflexão atemporal. Afinal, a história da humanidade é, invariavelmente, a história da luta contra a tirania.


O filme se destaca por evitar os estereótipos frequentemente associados às narrativas brasileiras no cinema internacional. Não há caricaturas da sociedade, cenas apelativas ou a exploração superficial de símbolos como o carnaval ou a favela. Aqui, os personagens são, antes de tudo, seres humanos enfrentando dilemas profundamente enraizados na condição humana. Em atuações notáveis, o elenco como um todo brilha, mas é Fernanda Torres quem ascende ao Olimpo da arte dramática, entregando uma performance memorável que merece ser celebrada como um marco.


Há algo em Ainda Estou Aqui que remonta à maturidade do romance brasileiro inaugurada por Machado de Assis em Ressurreição. Machado não se esquivava do contexto local, ambientando suas histórias na única cidade que conhecia, o Rio de Janeiro, mas seus personagens e conflitos eram universais, ressoando em qualquer latitude. Da mesma forma, Graciliano Ramos, ao descrever os dramas do sertão nordestino, não reduzia seus personagens a meras caricaturas regionais. Ele capturava o drama existencial em sua essência, mostrando que a luta pela existência é universal, onde quer que se esteja.


Assim, Ainda Estou Aqui não é apenas um filme; é uma afirmação. É uma prova de que o cinema brasileiro pode ser profundamente local sem deixar de ser profundamente universal. No coração de sua narrativa, pulsa a humanidade em sua luta incessante por significado, liberdade e dignidade. E é por isso que, mais do que uma obra cinematográfica, este filme é uma janela aberta para as complexidades de nossa existência. Se o Oscar vier, será apenas o coroar de um reconhecimento inevitável. Se não vier, o impacto já terá sido gravado no imaginário mundial. Afinal, um verdadeiro clássico não precisa de estatuetas para ser eterno.

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