Entrevista com Raimundo Sales: As Contradições do Nordeste Profundo no Romance Manairama - Blog A CRÍTICA
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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

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Entrevista com Raimundo Sales: As Contradições do Nordeste Profundo no Romance Manairama

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Divulgação / Raimundo Sales


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Em Manairama, o escritor potiguar Raimundo Sales lança luz sobre as complexidades ocultas nas pequenas cidades brasileiras, particularmente no Nordeste. O romance, ambientado em uma cidade fictícia do Seridó Potiguar, utiliza personagens vívidos e simbologias poderosas para narrar histórias de desigualdades, corrupção, preconceitos e resiliência.


A obra desconstrói os estigmas frequentemente associados ao interior nordestino, mostrando não apenas os desafios do semiárido, mas também a riqueza cultural, a força coletiva e a capacidade de superação de seus habitantes. Inspirado em vivências pessoais e na cidade de Ouro Branco, onde Sales passou boa parte de sua juventude, Manairama é uma reflexão profunda sobre a realidade de muitas comunidades invisibilizadas no Brasil.


Na entrevista a seguir, o autor compartilha detalhes sobre o processo criativo, as críticas sociais presentes no romance e suas reflexões sobre o Nordeste, ao mesmo tempo que provoca seus leitores a questionar estigmas e a imaginar um futuro mais justo e próspero para a região.

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Divulgação / Scortecci Editora


Entrevista Raimundo Sales – A CRÍTICA


·  O que o motivou a escrever Manairama? Houve alguma experiência pessoal ou história específica que serviu como ponto de partida para a criação dessa narrativa?


O que me motivou a escrever Manairama foi, em parte, resgatar também aspectos do nosso Seridó Potiguar hoje não mais utilizados, a título de exemplo, o uso de jumentos nos trabalhos da zona rural, onde há várias ilustrações na obra. Hoje, a moto substituiu o animal. A vida e o trabalho do meu avô materno, agricultor na região, foi a principal fonte de experiência para a criação dessa narrativa.


·  A cidade fictícia de Manairama é inspirada em algum lugar real do Seridó Potiguar ou do Nordeste?


Manairama é inspirada na cidade de Ouro Branco - Rio Grande do Norte, localizada no Serido Potiguar e no Semiárido Nordestino. É uma cidade bem pequena, com quatro mil e poucos habitantes. Morei nela dos meus doze até meus vinte e três anos de idade. Pelo tamanho, e pelo fato de conhecermos quase todo mundo, as histórias muito cheias de vida chegam ao nosso conhecimento com mais facilidade.


·  O elemento da maldição e o clima hostil na narrativa servem como metáforas para os desafios do semiárido nordestino. Como você enxerga o papel dessas simbologias no romance?


A maldição levanta a reflexão, constantemente frisada pelos moradores se o atraso do lugar é devido à maldição lançada, o que é respondido no decorrer e no fim da obra. Quanto às secas, o personagem Luís Medeiros, por exemplo, assa xiquexique nas estiagens para saciar a fome do rebanho, fato que é muito desconhecido por pessoas que moram no próprio Semiárido Nordestino desconhecem. Essas simbologias são desafios a serem superados.


·  Os personagens de Manairama formam uma teia complexa que representa várias faces da vida em cidades pequenas. Como foi a criação dessas figuras e o que elas simbolizam para você?


Cada um desses personagens é inspirado em pessoas reais, o que é feito por todos os escritores, fazendo alterações, por se tratar de uma obra de ficção. Cada um deles tem uma função específica: Luís Medeiros e o sertanejo que passa a vida no sítio; Jorge Oliveira é o nordestino que migra; Sebastião Pereira é o prefeito do lugar e grande chefe político; Benedito Cavalo é comilão insaciável; Cobra Parida, o bêbado; e Cristina Doida, a insana mental, dentre muitos outros.


·  Seu livro aborda temas como desigualdades, preconceitos, negligências e corrupção política. Qual impacto você espera que essas críticas sociais tenham nos leitores?


Tais críticas sociais visam a incutir nos leitores a reflexão de que podemos viver numa sociedade melhor e mais justa. As muitas “tramoias” políticas que são narradas em muitos tópicos, estão na obra para a chamar a atenção e causar revolta. Vemos em muitos desses casos profundo desperdício de dinheiro público, que poderiam ser empregados corretamente, em prol do povo em geral. Um pequeno retrato do nosso Brasil.


·  Mesmo em meio às adversidades, os moradores de Manairama encontram resiliência na arte, no humor e na fé. Por que esses elementos foram tão centrais na narrativa?


É interessante que mesmo nos trabalhos braçais mais pesados, brocas, por exemplo, os trabalhadores sempre laboram com muito humor, brincando, aperreando uns os outros. Apesar de Manairama ser bem pequena, há muitos artistas locais, principalmente, poetas. A religião se faz muito presente no início do lugar e se mantém presente no cotidiano. Todos os três são remédios a aliviar as dores.


·  Qual a principal mensagem ou reflexão que você gostaria que os leitores levassem ao final de Manairama?


Que, com investimentos acertados, o Semiárido Nordestino pode se tornar um lugar ainda melhor para se viver. Acredito que a Zona Franca de Manaus, independentemente de cor, de bandeira ou de grupo político, era para ter sido criada no Semiárido Nordestino. Teria trazido bem mais efetividade e justiça social. Mais sempre haverá espaço ou tempo para se pensar em melhorias.


·  Manairama desconstrói estigmas associados ao interior nordestino. Que outros mitos ou visões equivocadas sobre o Nordeste você gostaria de abordar em futuros trabalhos?


Que ainda há muitos preconceitos contra o Nordeste Brasileiro, alguns, totalmente impertinentes, por exemplo, achar que todos os Nordestinos passam fome, o que é uma tremenda ignorância. Nas obras de ficção procuraremos desconstituir esse fato. Por isso em Manairama vários capítulos falam em muita fartura.


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