*Por Débora Telles, psicóloga e especialista em transição de carreiras
A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma ideia distante para se tornar parte integral das nossas vidas, moldando o modo como vivemos e trabalhamos. No mercado de trabalho, o impacto é visível: enquanto algumas profissões estão sendo substituídas por máquinas e algoritmos, outras, baseadas em habilidades essencialmente humanas, ganham mais relevância. Diante disso, o sentimento de incerteza é compreensível. Mas, com a abordagem certa, é possível transformar o medo em uma oportunidade de crescimento.
De acordo com um estudo recente do Fórum Econômico Mundial, até o final de 2025, mais de 85 milhões de empregos podem ser eliminados pela automação. Por outro lado, o avanço tecnológico deve criar 97 milhões de novas funções, especialmente em áreas que demandam criatividade, pensamento crítico e inteligência emocional. Esse dado revela que, longe de ser o fim do trabalho humano, a era da IA marca o início de uma reorganização profunda no mercado de trabalho, onde a adaptabilidade se torna a palavra-chave.
Em minha trajetória profissional, acompanhei muitos trabalhadores que se sentiram perdidos diante das mudanças. O segredo para navegar por esse momento é investir em aprendizado constante e em habilidades que as máquinas não conseguem replicar. Muitos profissionais, de áreas diversas, precisarão de requalificação. Isso inclui tanto a aquisição de competências tecnológicas quanto o desenvolvimento de características como empatia, comunicação e criatividade, cada vez mais valorizadas em um mundo automatizado.
Essa transformação nos desafia a encarar as máquinas não como concorrentes, mas como aliadas. Trabalhar ao lado da tecnologia, entendê-la e usá-la para potencializar resultados é essencial para se manter competitivo. Ainda que o impacto da IA seja maior em profissões repetitivas e previsíveis, como as do setor industrial e de atendimento ao cliente, outras áreas têm sido enriquecidas por ela. Profissionais que combinam conhecimento técnico com habilidades interpessoais têm se destacado em mercados em constante evolução.
A transição para um novo modelo de mercado pode ser desconfortável, mas também é uma oportunidade única para redescobrir interesses, ampliar conhecimentos e explorar novas possibilidades. Encarar essas mudanças com uma mentalidade aberta e flexível é fundamental para enxergar desafios como chances de aprendizado e crescimento.
O avanço da inteligência artificial não significa que os humanos serão menos necessários. Na verdade, estamos vivendo um momento em que o melhor de nossa humanidade – criatividade, empatia, resiliência – será mais valorizado do que nunca. É o momento de repensar as trajetórias profissionais e construir carreiras que reflitam não apenas as demandas do mercado, mas também nossos próprios valores e aspirações.
Sentir-se inseguro diante dessas transformações é normal. Buscar apoio, seja por meio de mentorias, sessões de aconselhamento ou até mesmo conversas francas com colegas e amigos, pode ajudar a ganhar clareza sobre os próximos passos. A tecnologia está aqui para ficar, mas somos nós que decidimos como vamos nos relacionar com ela.
A era das máquinas é também a era das possibilidades. O futuro do trabalho está em constante mutação e cabe a cada um de nós a escolha de como navegar por ele. Hoje é o momento de nos prepararmos, aprendermos e, acima de tudo, de acreditarmos que somos capazes de construir um amanhã melhor, mesmo em meio à incerteza. Afinal, a transformação é inevitável, mas o sucesso é uma questão de adaptação e coragem para seguir em frente.
* Débora Gusmão Telles é Psicóloga Clínica e empreendedora, com ampla experiência no mundo corporativo. Formada em Psicologia pela PUC-SP e com CBA pelo Insper-SP, construiu uma carreira sólida em grandes multinacionais, em Recursos Humanos. Com mestrado em Psicologia Clínica e especialização em Terapia Familiar e de Casal, atendendo adolescentes, adultos e casais. Débora também é autora do livro Escolha Profissional: O que você precisa saber para não errar (2024), e co-autora dos livros Família e Comunidade: Interfaces da Psicologia Clínica (2022) e Com-vivendo com a adolescência nos dias atuais. (2021)
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