Eis aí a cena do nosso pobre Brasil contemporâneo, um espetáculo tragicômico que parece ter saído de um manuscrito perdido de Rabelais. Se a tradição católica antes funcionava como um freio moral — algo que, para o bem ou para o mal, mantinha a burrice contida no curral da obediência —, a sua queda deixou um vazio que a lógica e a ciência, com suas dúvidas e complexidades, não se apressaram em preencher. Restou-nos a barbárie mascarada de modernidade.
Imagine Napoleão, no alto de sua solidão em Santa Helena, balançando a cabeça ao ouvir falar do nosso tempo: uma terra onde o carnaval não é apenas uma festa medieval replicada na era tecnológica por falta de escola, escola com livro, não de samba, mas uma metáfora do ano inteiro; onde se confunde liberdade com desvario e onde a moral foi substituída por memes. O corso, que foi estrategista de guerras, certamente entenderia que não há batalha mais perdida do que aquela contra a estupidez desenfreada.
Sempre um perigo ao sair de casa é se deparar com um idiota sendo arrastado por um pitbull. As ruas tornaram-se arenas, e os pitbulls — esses cães musculosos e brutos — são os gladiadores modernos, conduzidos por donos que, como bons romanos decadentes, perderam a noção do perigo e da civilidade. “Ele não morde”, dizem, com a confiança de quem ignora até as leis da física. Ah, mas quem se atreve a corrigir um idiota? Só um louco ou um poeta.
E assim seguimos: motos ziguezagueando sem capacetes, como que celebrando uma liberdade suicida; os cérebros atrofiados, não mais pelos jejum de quaresma, mas pelo fluxo incessante de hits descartáveis. O Brasil, meu caro leitor, parece caminhar como um bêbado em direção ao abismo, com um sorriso banguela no rosto e uma lata de cerveja na mão.
Mas, caro leitor, não vos preocupeis demais com o destino, porque ele sempre chega, queira ou não. Talvez um dia olhemos para trás, como olhamos hoje para as reflexões de Napoleão, e reconheçamos, entre risos nervosos e lágrimas tardias, o tamanho do absurdo que vivemos. Enquanto isso, se o pitbull não morder e a moto não atropelar, brindemos à nossa desgraça com uma última gargalhada. Afinal, a burrice, tal como a morte, é democrática.
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