Sylmara Gonçalves Dias conta que todos os anos cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos escapam para os oceanos
A humanidade produz cerca de 460 milhões de toneladas de plástico por ano, segundo a ONU – Foto: stockgiu – Gerada por IA – Freepik
A Organização das Nações Unidas (ONU) acendeu o alerta amarelo: a poluição plástica já é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta. A situação é urgente justamente porque o aumento na produção de produtos plásticos descartáveis supera a capacidade do mundo em lidar com ele. Conforme pesquisa da ONG americana Center for Climate Integrity, apenas 9% dos plásticos são reciclados no mundo e a situação é mais crítica ainda no Brasil: 1,3% dos plásticos passam pelo processo de reciclagem.
A professora Sylmara Gonçalves Dias, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) e do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, pesquisadora nas áreas de Sustentabilidade, Gestão Socioambiental e Políticas Públicas Ambientais, explica que o quadro se agravou na última década com a presença do plástico no oceano. “Todos os anos, cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos escapam para os oceanos. Não adiantam políticas locais como, por exemplo, banir o uso no Brasil se outros locais no mundo continuam produzindo”, defende Sylmara.
No entanto, Sylmara destaca que a poluição pelo plástico existe desde que o produto foi inventado, no final década de 1940. “Tudo o que a gente produziu lá está por aqui; ou no ar, ou na água ou no solo”, reforça. Como se trata de um material resistente, que pode se decompor entre 400 e 500 anos, a pesquisadora argumenta que “se somarmos tudo que já foi produzido em quase 70 anos é uma quantidade estratosférica”, insiste.
Tratado global do plástico
A humanidade produz cerca de 460 milhões de toneladas de plástico por ano, segundo a ONU; 46% desses resíduos são depositados em aterros. Um movimento que vem acontecendo nos últimos três anos caminha em direção ao banimento do uso do plástico em produtos de uso único. “Isso seria uma solução para fechar a torneira”, explica. Esse movimento faz parte do Tratado Global do Plástico, primeiro passo para combater a poluição plástica, discutido em março de 2022 na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Está em curso essa negociação porque, se antes o resíduo era considerado uma poluição local, era um problema local, hoje a poluição por plástico é um grande dilema global e que precisa ser tratado globalmente”, defende a professora.
O acordo internacional, que deve ser negociado com todos os Estados membros da entidade, ainda enfrenta a barreira de alguns poucos países. As principais medidas, que terão o maior impacto na poluição plástica, começam com as proibições globais de plásticos descartáveis, que são mais nocivos e evitáveis. “A luta neste momento é a de políticas públicas para banir o plástico de produtos de consumo único como copos, canudos, sacolas plásticas, embalagens de alimentos, entre outros”, explica Sylmara. Outras medidas estão relacionadas com a redução e a reutilização e reciclagem de todos os produtos plásticos.
Políticas públicas
A pesquisadora acredita que a solução pode estar em políticas públicas conjuntas, com a ação de diversos Ministérios, assim como instâncias de políticas regionais, além de instituições de apoio à causa da poluição por plástico. “A gestão pública precisa de uma ação interinstitucional, interministerial, isso falando em nível federativo. Mas, quando a gente chega em outras instâncias, precisamos pensar em políticas regionais, estaduais e municipais. A gestão pública é interníveis federativos e intersecretarial; precisa ser acionada no seu conjunto para que a tomada de decisão atinja todas as dimensões do problema da poluição por plástico”, avalia.
O principal poluidor é o extrativismo, com a extração do petróleo. As projeções são de um crescimento do uso e consumo de plástico de mais de 50% nos próximos 20 anos. Só para se ter uma ideia 2,3 milhões de toneladas em 1950 para 448 milhões de toneladas em 2015. A expectativa é que essa produção dobre até 2050.
O Brasil é hoje o 8º maior poluidor global de plásticos e o maior na América Latina. Todos os anos, nosso país injeta 500 bilhões de itens de plásticos de uso único no mercado. Mas o consumidor pouco pode fazer para evitar essa proliferação de plásticos, principalmente no que diz respeito a embalagens. “Não está em nossas mãos, porque os produtos nos supermercados já estão embalados em plástico”, avalia.
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