Foto: Tânia Rego/Agência Brasil |
Em 12 de março começou a vigorar a tarifa de importação de 25% aplicada multilateralmente sobre produtos siderúrgicos e de alumínio. O Brasil será afetado, mas estimativas de um estudo de Fernando Ribeiro consideram que o impacto sobre o PIB do Brasil é de uma queda de 0,01% e nas exportações totais, um recuo em 0,03% . As empresas dos setores afetados que exportam para os Estados Unidos terão perdas.
Os semimanufaturados de ferro explicaram 11% das exportações brasileiras para os Estados Unidos no primeiro bimestre de 2025 com aumento de 22,3% em relação ao bimestre de 2024. Para os Estados Unidos, o recuo estimado nas exportações totais é de 36,2%.
O vai e vem da política tarifária de Trump é imprevisível e especula-se da possibilidade do governo brasileiro conseguir fazer alguma negociação. No entanto, o estrago trazido pela política errática de Trump no comércio exterior já é um fato que traz efeitos adversos para as decisões de investimento e de comércio.
Independente do efeito Trump que ainda não se faz presente nos dados para o Brasil, o início do ano começou com uma redução do saldo da balança comercial em relação a igual período de 2024. No mês de fevereiro de 2024, o saldo foi de US$ 5,1 bilhões e no mês de fevereiro de 2025 foi registrado um déficit de US$ 0,3 bilhões. No primeiro bimestre do ano de 2025 o superávit foi de US$ 1,9 bilhões, enquanto que até o mesmo mês em 2024 foi de US$ 11,3 bilhões.
Na comparação das variações entre o primeiro bimestre de 2024 com o de 2023 e do primeiro bimestre de 2025 com o de 2024, observa-se a redução na variação do volume.
Ela passou de um aumento de 20,2% (2024/2023) para 0,7% (2025/2024). Esse resultado levou a um recuo de 3,6% no valor exportado em 2025. Os preços caem em ambas as comparações, mas a diferença é menos marcante do que entre os volumes.
Nas importações, o Gráfico 2 mostra que nos dois períodos comparados no gráfico, as importações aumentaram em volume, mas há uma diferença de 12,3 pontos percentuais entre o resultado da variação de 2024/2023 (11,4%) e de 2025/2024 (23,7%). O resultado foi um aumento em valor de 19,6% em 2025/2024, também influenciado pela menor queda nos preços.
As commodities explicaram 65% das exportações brasileiras. Como mostra o Gráfico 3, a piora no desempenho exportador está associada ao recuo nas vendas de commodities em 3%, em temos de volume, que junto com a queda nos preços levou a uma queda de 10,3%, em valor. Na comparação do bimestre 2024/2023, as exportações de commodities haviam crescido 33,2% com aumento de valor em 29,5%. As exportações de não commodities registraram um melhor desempenho na comparação da variação entre 2025/2024 (7,7%) e 2024/2023 (-2,0%) em volume (+12,1%) e em valor, um recuo de 3,6%.
As não commodities respondem por 7,7% das importações, e registraram um aumento em volume de 25,1%, levando a uma variação positiva de 21,2% em valor. As importações de commodities aumentaram 8,9%, em volume e 3,1% em valor. Os preços recuaram em 5,3% para as comodities e 3,0% para as não commodities.
A análise por setor de atividade do volume exportado e importado mostra como a queda no volume exportado das commodities afetou o desempenho da agropecuária e da indústria extrativa. No primeiro caso, a variação positiva entre os bimestres de 2023 e 2024 (29,3%) da agropecuária e da extrativa (47,1%) passaram a ser negativas em 7,6% na agropecuária e 2,5% na extrativa, na comparação dos bimestres de 2024 e 2025. As exportações da indústria de transformação se mantiveram positivas.
Nas importações, chama a atenção o aumento das importações da agropecuária e da transformação na comparação dos bimestres. No acumulado do ano até fevereiro de 2025 comparado com o de 2024, as importações da agropecuária cresceram 22,6% e da transformação, 25,6%.
A análise dos principais mercados ajuda a esclarecer os resultados das exportações e das importações. O Gráfico 5 mostra a queda das exportações para a China em volume (-12,0%) e preços (-15,7%). O país é o principal mercado de exportações do Brasil, com uma pauta concentrada em commodities. Entre os dois primeiros meses de 2025, o principal produto exportado foi o minério de ferro (24% de participação), que registrou queda de 30,0% em valor na comparação com igual período de 2024. Petróleo e Soja, ambos com participação de 22%, registraram queda em valor de 37,0% e 27,0%, respectivamente.
Chama a atenção nas exportações, o resultado para a Argentina, com aumento em volume de 64,8%. Esse resultado foi liderado pelas vendas de automóveis, com aumento de 172% e participação de 22% na pauta.
Nas importações, o destaque é o aumento das importações chinesas em volume, 57,0%. O que é explicado pela compra de plataforma flutuante no valor de US$ 2,7 bilhões. Na pauta total de importações do país, as plataformas foram o principal produto importado, explicando 11,5% das compras totais do Brasil, enquanto que em fevereiro de 2024, a participação foi de 0,1%.
A Argentina fica em segundo lugar no ranking das maiores variações das importações, onde o comércio do setor automotivo se destaca. O aumento nas importações de automóveis foi de 101%, com participação de 11% e de veículos automotores para transporte de mercadorias, com participação de 17%, e aumento de 31,5%. São trocas de comércio intra-indústria Brasil-Argentina.
Para os Estados Unidos, o principal produto exportado foi o petróleo bruto, com de participação de 15% e aumento de 1,3%. Em segundo lugar estão as semimanufaturas de ferro já mencionadas e o terceiro lugar é o café, com aumento de 36,5%. Destacam-se as exportações de carne bovina (participação de 3% e incremento de 28,8%) e os sucos de frutas e vegetais (participação de 3,6% e variação de 42,2%). Esses dois últimos poderão ser alvo de medidas protecionistas, pois competem com setores domésticos nos Estados Unidos.
Na União Europeia, o aumento das exportações é explicado pelas vendas de petróleo bruto (participação de 25% e aumento de 52,6%) e café (participação de 15% e aumento de 60,3%) sendo que, nesse último caso, o aumento em valor foi beneficiado com o aumento dos preços do produto, (67%), entre os dois primeiros bimestres de 2024 e 2025.
Observa-se que o aumento em valor das exportações de petróleo para a União Europeia é liderado pelo aumento de volume. Para o total das exportações brasileiras de petróleo bruto, os preços recuaram 10,1% e o volume 1,2%, na comparação dos primeiros bimestres de 2024 e 2025. Nas importações, o preço caiu 3,7% e o volume 8,9%, na mesma base de comparação.
O petróleo bruto foi o principal produto de exportação no primeiro bimestre de 2025, com participação de 14,1%. O superávit da balança de petróleo bruto foi de US$ 5,7 bilhões, o déficit de derivados de petróleo, US$ 900 milhões e, portanto, o saldo de petróleo de derivados foi positivo em US$ 4,7 bilhões.
A queda no superávit da balança comercial foi liderada pela China, que passou de um saldo positivo de US$ 5 bilhões no primeiro bimestre de 2024 para um déficit de US$ 3,2 bilhões, em igual período de 2025. A retração nas vendas de commodities e o aumento das importações associado às plataformas explicam o resultado. Com os Estados Unidos, houve troca de sinal no resultado do saldo, mas a diferença foi pequena: de um superávit de US$ 137 milhões para um déficit de US$ 343 milhões. Com a Argentina, o superávit aumentou de US$ 192 milhões para US$ 710 milhões e na União Europeia o déficit caiu de US$ 1,3 bilhões para US$ 603 milhões.
Conclui-se que a piora do saldo comercial pode ser atribuída principalmente ao resultado com a China. Espera-se que com o início dos embarques de soja, o saldo comercial melhore.
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