Por Marcelo Caldeira Pedroso, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP
No empreendedorismo, há dois elementos críticos e divergentes. Primeiro, todo empreendedor deseja ser bem-sucedido – isso é fato. Segundo, a probabilidade de fracasso é maior do que a chance de sucesso.
Diversas estatísticas corroboram essa segunda questão. Podemos considerar que, em geral, 30% dos novos negócios falham nos primeiros dois anos, e 50% não sobrevivem além de cinco anos. Outros dados mostram que a maioria das startups não obtém sucesso: mais de dois terços delas não oferecem retorno positivo aos investidores.
Como podemos alinhar essas duas questões? Em outras palavras, como podemos manter, ou incrementar, o ímpeto empreendedor e, ao mesmo tempo, aumentar a probabilidade de sucesso de uma iniciativa empreendedora?
Minhas pesquisas e experiência no empreendedorismo inovador apontam três fatores essenciais para avaliar as chances de sucesso de uma startup: empreendedores, modelo de negócio e momento ideal (ou timing). Denomino essa convergência de fatores como o ponto ideal (ou sweet spot) do sucesso empreendedor.
Empreendedores
Os empreendedores são indivíduos especiais. Eles possuem algumas características e competências que os diferenciam daqueles que optam por outras trajetórias profissionais.
As características pessoais que mais se destacam nos empreendedores são: autonomia, capacidade de inovação, orientação para realização (e resultados), propensão a assumir riscos, proatividade, autoeficácia e locus de controle (ou seja, o indivíduo entende que os resultados são decorrentes de suas próprias decisões e ações). Ressalto ainda a capacidade de adaptação e de aprendizado.
As competências empreendedoras remetem ao conjunto de conhecimentos, experiências e habilidades do indivíduo em empreender, e são principalmente associadas ao processo de aprendizagem do empreendedor.
Quando os empreendedores formam um time de fundadores de uma startup, as características pessoais de cada um deles são moldadas e complementadas. Ademais, as competências individuais se somam, e representam um conjunto de ativos de capital intelectual, social e emocional. Esses ativos indicam sinais de que a iniciativa empreendedora liderada por eles pode ser bem-sucedida.
Por esse motivo, quando os empreendedores buscam uma captação de capital de risco, a qualidade do time de fundadores é um dos principais elementos considerados na decisão de alocação de capital.
Modelo de negócio
O modelo de negócio de uma startup determina como ela gera valor econômico e social. Assim, é uma das principais decisões de um empreendedor. Particularmente, considero que esta é a principal decisão de um novo negócio.
O desenho e a validação de um modelo de negócio inovador são atividades complexas. Afirmo isso pela quantidade de variáveis que um empreendedor precisa lidar e o impacto resultante das respectivas escolhas. Além disso, há um elevado nível de incerteza, particularmente nos estágios iniciais de uma iniciativa empreendedora. Assim, cabe ao empreendedor desenhar o modelo de negócio adequado, ajustar esse modelo (ou pivotar) conforme as validações são realizadas e, ao mesmo tempo, tentar mitigar os principais riscos, tais como tecnológicos, de mercado, legais e regulatórios.
Várias abordagens podem ser utilizadas para o desenho do modelo de negócio. Adoto (e sugiro) uma abordagem de natureza científica, por meio de um processo iterativo e estruturado com decisões, validações e ações claramente definidos.
Momento ideal
O momento ideal (ou timing) de empreender está relacionado a duas habilidades do empreendedor: identificação da oportunidade, e decisão sobre o desenvolvimento da iniciativa empreendedora.
A primeira remete à busca, conexão e avaliação de informações sobre oportunidades potenciais. Essa habilidade é conhecida como alerta empreendedor. A segunda implica na decisão e consequente efetiva alocação de recursos por parte do empreendedor – essa atividade é a ação empreendedora.
O momento ideal de empreender está conectado a outros dois elementos: um interno e outro externo. O elemento interno diz respeito ao momento do próprio empreendedor. Ele precisa avaliar se ele apresenta condições financeiras, familiares, profissionais e de saúde favoráveis para empreender naquele momento.
O elemento externo considera o mercado que ele pretende atuar. O empreendedor necessita avaliar se o mercado é (ou será) adequado para empreender. Por exemplo, as descontinuidades (ou rupturas) de diferentes naturezas – tecnológicas, políticas, sociais, econômicas, ambientais, epidemiológicas e legais – podem proporcionar oportunidades de inovação. Há vários exemplos de descontinuidades tecnológicas que estão associadas ao surgimento e crescimento de novas empresas. Dentre as mudanças tecnológicas, posso citar a computação pessoal, internet, vídeo streaming, smartphone, RNA-mensageiro, veículos elétricos e inteligência artificial.
Ponto ideal
O ponto ideal do sucesso empreendedor ocorre na convergência desses três fatores: empreendedores (fator “quem”), modelo de negócio (fator “como”) e timing (fator “quando”). Assim, três questões merecem uma análise crítica ao lançar uma iniciativa empreendedora:
No mundo das startups, é comum utilizar a analogia do hipismo e debater a importância relativa do jóquei (empreendedor) ou cavalo (modelo de negócio). Na minha opinião, precisamos do jóquei certo (empreendedor), com o cavalo certo (modelo de negócio) no momento certo (timing). Não obstante, ressalto que os empreendedores (ou o time de fundadores da startup) são responsáveis por escolher ou adaptar o modelo de negócio e decidir sobre o momento adequado de uma iniciativa empreendedora. Assim cabe a eles encontrar o ponto ideal do seu sucesso!
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