Por Martín Morelli, consultor em transformação digital em instituições de ensino na América Latina.
O ensino superior no Brasil enfrenta desafios estruturais cada vez mais evidentes. De acordo com o Censo da Educação Superior do Inep-MEC (2023), 87,8% das 2.580 instituições ativas são privadas, enquanto apenas 12,2% são públicas. Nesse cenário, as matrículas cresceram 13,4% em relação ao ano anterior: 13,6% no setor privado e 10,3% no público.
No entanto, esse crescimento não se reflete nas taxas de conclusão. Segundo a Pesquisa FAPESP, a taxa líquida ajustada de matrícula (jovens de 18 a 24 anos matriculados ou formados) era de apenas 25%, bem distante dos 33% propostos pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Ainda mais preocupante, apenas 4,3% dos jovens nessa faixa etária haviam concluído o ensino superior em 2023, de acordo com o próprio Inep.
A educação a distância (EAD), que expandiu 19,7% no último ano, representa uma oportunidade importante, mas também impõe novos desafios de acompanhamento, retenção e apoio ao estudante.
Como profissional com mais de uma década liderando projetos de transformação digital em universidades da América Latina, pude observar como a falta de integração entre sistemas, áreas administrativas e unidades acadêmicas contribui diretamente para a evasão estudantil. Adotar uma gestão baseada em tecnologia e dados não é apenas uma melhoria operacional: é uma estratégia institucional. Quando uma universidade consegue visualizar em tempo real quais alunos estão em risco, onde estão se concentrando os atrasos acadêmicos ou quando os processos de comunicação estão falhando, ela se coloca em posição de agir de forma proativa. A tecnologia permite transformar a complexidade em decisões informadas e centradas no aluno. Não se trata de digitalizar por modismo, mas de construir uma cultura de eficiência, empatia e prevenção.
Ferramentas como plataformas analíticas, CRMs acadêmicos e automação de processos permitem unificar informações-chave: taxas de aprovação por turma, evolução do progresso curricular, frequência, pedidos de apoio e muito mais. Assim, as instituições podem gerar alertas precoces, enviar lembretes automatizados, ativar tutorias específicas e facilitar a comunicação direta entre estudantes, professores e áreas de apoio.
O setor privado, que concentra mais de 50% da matrícula nacional, enfrenta uma concorrência crescente, onde a qualidade da experiência estudantil é um diferencial decisivo. A transformação digital também permite agilizar processos de admissão, reduzir prazos de atendimento e otimizar a alocação de recursos humanos.
Em conclusão, o Brasil apresenta avanços em termos de acesso, mas precisa urgentemente fechar a lacuna entre ingresso e conclusão. Com apenas 4,3% dos jovens concluindo o ensino superior, é indispensável adotar uma gestão centrada em dados, conectividade e eficiência. A tecnologia, quando bem implementada, é a ponte entre a promessa do acesso e a conquista efetiva da formatura.


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