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| Fabricação de produtos alimentícios foi a atividade industrial com maior concentração de trabalhadores (2,0 milhões) em 2023 - Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná |
A Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA-Empresa), divulgada nesta terça-feira (25) pelo IBGE, mostrou que, em 2023, o Brasil contava com 376,7 mil empresas industriais com pelo menos um empregado, totalizando 8,5 milhões de pessoas ocupadas. A indústria alimentícia reafirmou seu protagonismo, sendo responsável por 23,6% da receita líquida de vendas e empregando o maior contingente do setor, com 2 milhões de trabalhadores.
Embora a indústria tenha perdido 272,8 mil postos de trabalho nos últimos dez anos — uma queda de 3,1% —, houve recuperação a partir de 2019. De 2019 a 2023, o número de ocupados cresceu 12,0%. Os segmentos mais impactados pela redução foram Confecção de artigos do vestuário e acessórios (-175 mil), Fabricação de produtos de minerais não-metálicos (-84,6 mil) e Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-69,2 mil).
“A Pesquisa Industrial Anual busca retratar as características estruturais do segmento empresarial da atividade industrial no país, que são informações relevantes para a análise e o planejamento econômico das empresas do setor privado e dos diferentes níveis de governo”, afirma Marcelo Miranda, gerente de Análise Estrutural do IBGE.
Em 2023, as empresas industriais geraram R$ 6,5 trilhões em receita líquida de vendas, sendo R$ 457,7 bilhões nas Indústrias extrativas e R$ 6,0 trilhões nas Indústrias de transformação. Os salários, retiradas e outras remunerações somaram R$ 446 bilhões. Já o valor de transformação industrial (VTI) alcançou R$ 2,4 trilhões, com 81,7% oriundos das Indústrias de transformação.
A receita bruta total das empresas foi de R$ 6,9 trilhões. As revendas de mercadorias e a prestação de serviços não industriais representaram R$ 741,9 bilhões e outras receitas — como rendimentos financeiros e societários — chegaram a R$ 711,7 bilhões.
Entre 2014 e 2023, houve estabilidade na composição das atividades industriais, com pequeno recuo na participação industrial pura (-0,2 p.p.) e nas atividades de revenda e serviços não industriais (-0,9 p.p.). Em contrapartida, a parcela de outras receitas aumentou 1,2 p.p.
As grandes empresas (com 500 ou mais empregados) concentraram 67,9% da receita líquida de vendas em 2023. Empresas com 100 a 499 empregados responderam por 17,1%, as de 20 a 99 por 9,0% e as de até 19 empregados por 6,0%. A estrutura se manteve estável nos últimos dez anos, com discreto crescimento das menores empresas (0,8 p.p.).
No ranking das atividades industriais por receita líquida de vendas, a liderança foi da Fabricação de produtos alimentícios (23,6%), seguida por produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (10,8%), produtos químicos (9,4%), veículos automotores (8,3%) e metalurgia (6,2%). A fabricação de alimentos subiu 4,0 p.p. em dez anos. Já veículos automotores perderam 1,3 p.p. no mesmo período.
A Extração de petróleo e gás natural, embora não esteja entre os líderes de receita, teve um avanço de 1,7 p.p. em participação.
Retomada do emprego industrial
Em 2023, a indústria alcançou o maior número de ocupados desde 2015, com 8,5 milhões de pessoas. As Indústrias de transformação absorveram 97,2% desse total (8,3 milhões), enquanto as Indústrias extrativas concentraram 2,8% (239,9 mil).
Nos últimos dez anos, a indústria perdeu 3,1% da força de trabalho, sobretudo nas Indústrias de transformação (-285,2 mil). Em contrapartida, as Indústrias extrativas contrataram 12,4 mil trabalhadores. A partir de 2019, houve recuperação com a criação de 910,9 mil postos de trabalho, sendo 373,8 mil apenas na fabricação de alimentos.
Entre as 29 atividades industriais, apenas Fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, e Impressão e reprodução de gravações tiveram queda no número de ocupados no período recente.
Confecção de vestuário (6,8%) e fabricação de produtos de metal (5,9%) continuam entre as principais empregadoras, apesar da perda de representatividade (-1,8 p.p. e -0,6 p.p., respectivamente).
Queda na remuneração média
A remuneração média mensal em salários mínimos caiu de 3,5 s.m. em 2014 para 3,1 s.m. em 2023, com redução em 25 das 29 atividades industriais. Nas Indústrias extrativas, os salários foram de 6,0 s.m. para 5,3 s.m.; nas Indústrias de transformação, de 3,4 s.m. para 3,0 s.m.
Mesmo com salários mais altos, a Extração de petróleo e gás natural e a Fabricação de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis tiveram as maiores quedas: a primeira caiu de 24,2 s.m. para 17,9 s.m., e a segunda de 10,0 s.m. para 7,7 s.m.
Os menores salários foram registrados na Confecção de vestuário (1,6 s.m.) e na fabricação de calçados e artefatos de couro (1,7 s.m.). O setor com maior alta relativa foi Fabricação de produtos de madeira (aumento de 0,1 s.m.).
Região Sudeste lidera o VTI
A Região Sudeste concentrou 60,9% do VTI em 2023, seguida por Sul (18,7%), Nordeste (8,2%), Norte (6,2%) e Centro-Oeste (6,1%). Apenas Sudeste e Centro-Oeste ampliaram participação nos últimos dez anos (2,2 p.p. e 0,7 p.p., respectivamente).
A atividade de Fabricação de produtos alimentícios liderou o VTI nacional com 16,8%, sendo destaque em 18 das 27 unidades da federação. Na sequência, estão Extração de petróleo e gás natural (11,5%), Fabricação de coque e derivados de petróleo (11,2%), produtos químicos (6,7%) e veículos automotores (5,7%).
A Extração de petróleo e gás natural foi a que mais cresceu em representatividade: de 6,0% para 11,5%, subindo da quinta para a segunda posição no ranking. Já a fabricação de veículos automotores caiu da terceira para a quinta colocação (de 7,5% para 5,7%).
Distribuição regional do VTI
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Sudeste: São Paulo (34,4%) lidera o ranking, seguido por Rio de Janeiro (13,0%) e Minas Gerais (11,4%). Os destaques são as cadeias de petróleo e gás (RJ e ES) e siderurgia e metalurgia (MG, ES e RJ). A indústria automotiva perdeu posição e não figura mais entre as quatro maiores em MG e SP.
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Sul: Paraná (36,9%) ficou à frente, seguido de Rio Grande do Sul (34,2%) e Santa Catarina (28,9%). A indústria alimentícia lidera, com destaque também para máquinas e derivados do petróleo.
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Nordeste: Bahia (33,4%) teve a maior participação, mas perdeu 7,8 p.p. desde 2014. Pernambuco avançou 5,5 p.p., com destaque para o setor de petróleo. A indústria de biocombustíveis deixou o topo na Bahia.
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Norte: Amazonas (49,0%) e Pará (42,8%) responderam por 91,8% do VTI. A queda do Pará se deve à desvalorização do minério de ferro. O Amazonas retomou a liderança regional, com destaque para eletrônicos.
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Centro-Oeste: Mato Grosso (26,8%) e Mato Grosso do Sul (25,4%) ampliaram participação, enquanto Goiás (44,8%) e Distrito Federal (3,0%) perderam espaço. O setor agroindustrial segue como carro-chefe.
Em resumo, os dados da PIA-Empresa 2023 evidenciam a resiliência da indústria brasileira, especialmente a alimentícia, mesmo diante de desafios estruturais como a queda na remuneração média e a perda de postos de trabalho ao longo da última década. A retomada do emprego desde 2019 e a reconfiguração regional da produção apontam para uma transformação contínua do setor.





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