Vicenç Navarro: a economia política da felicidade - Blog A CRÍTICA

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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Vicenç Navarro: a economia política da felicidade

Neste artículo Navarro analisa um  livro (Sem publicação no Brasil como sempre) que tem causado interesse nos círculos acadêmicos do mundo anglo-saxão, com considerável  impacto n a cultura política e mediática daqueles países que vivem nessa cultura.

Publicado por Vicenç Navarro na revista SISTEMA da Espanha


Um dos livros que está  causando mais interesse em muitos círculos anglo-saxões é o escrito pelo professor de Ciência Política na Universidade de Notre Dame, dos EUA, Benjamin Radcliff, intitulado A Economia Política da felicidade humana. Eu aconselho o leitor a lê-lo. Ele irá fornecer dados que podem ser usados ​​para desmantelar o aparelho ideológico da sensibilidade  neoliberal, que surpreendentemente, ainda domina a maioria dos sites econômicos de grandes meios de comunicação e persuasão do nosso país. Digo surpreendente porque seria de esperar, considerando a enorme falha que têm as políticas promovidas pelo pensamento neoliberal, este dogma e doutrina deveria ter perdido visibilidade na mídia como resultado de sua falta de credibilidade científica. Mas não é assim. Dia após dia, esta mensagem neoliberal continua a ser promovida. E um dos elementos desta mensagem é que o menor  gasto público ou a intervenção estatal menor, maior é a eficiência economia e maior é o bem-estar e a felicidade da população.

O que o Professor Radcliff faz é analisar os tipos de intervenção, rompendo as diferentes dimensões do setor público e as diversas regulamentações governamentais que afetam o bem-estar da população, e em particular o mundo do trabalho. Esta análise  detalhada do Estado e de suas intervenções é muito necessária  para poder analisar em detalhe e rigor as diversas formas de intervenção pública. E com este estudo, que se concentra em países da OCDE, o grupo de países mais ricos do mundo, vários fatos são mostrados:

1. Que aqueles países que têm serviços públicos universais (ou seja, que serve toda a população), tais como saúde, educação e serviços sociais, são mais felizes (têm uma maior percentagem da população que está satisfeita e feliz com a sua vida) do que os países sem esses serviços, sendo substituído por bem-estar ou serviços de caridade, cujo acesso depende do poder de compra da população.

2. Que aqueles países que gastam mais per capita em cada um desses serviços têm maior felicidade do que aqueles que gastam menos.

3. Que os países governados durante mais tempo desde os anos 1940 por partidos mais favoráveis ​​à intervenção redistributiva em favor das rendas do trabalho (ou seja, partidos de centro-esquerda ou esquerda) são mais felizes do que aqueles que favorecem o rendimento de capital (partidos de direita ou de centro-direita).

4. As políticas neoliberais  afetam negativamente os níveis de felicidade da população.

Estou ciente de que alguns leitores deste artigo acreditam que este livro é um documento político a serviço de uma ideologia política. Mas eles estão errados. Os dados estão lá, com uma metodologia de trabalho rigoroso, tentando analisar o que outras variáveis ​​podem estar envolvidos na apresentação dos resultados. E, um por um, exclui outras explicações que foram dadas para explicar estes fatos, que mostra que eles são insustentáveis com base nos dados.

Esta última observação é importante, pois existe o costume nos meios de comunicação de tentar fingir objetividade, apresentando o que eles chamam os dois lados da mesma moeda. Quer dizer, que tentam apresentar um balanço, mostrando os países conservadores e os países liberais e países com tradição social-democrata (mantendo essa tradição) como países com alta felicidade, concluindo que a felicidade não tem partidos políticos. O fracasso dessas descobertas é que os dados não mostram isso. Essas sociedades mais coesas e que tem menos desigualdade permitir e facilita o desenvolvimento de mais felicidade do que aqueles que não o são. Tão claro.


Vicenç Navarro

Catedrático de Políticas Públicas. Universidad Pompeu Fabra

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