Poema do poeta palestino condenado à morte na Arábia Saudita por "renunciar ao islã" - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

sábado, 16 de janeiro de 2016

Poema do poeta palestino condenado à morte na Arábia Saudita por "renunciar ao islã"



PETRÓLEO




1
o petróleo é inofensivo, exceto pelo rasto de pobreza que deixa atrás de si
naquele dia, quando as faces daqueles que irão descobrir mais um poço de petróleo enegrecerem,
quando a vida for insuflada no teu coração de modo a extrair mais um poço de petróleo da tua alma
para usufruto público...
isto... é... a promessa de petróleo, uma verdadeira promessa.
O fim.

2
foi dito: assentem aqui..
mas alguns de vocês são inimigos para todos
portanto saiam agora
contemplem-se desde o fundo do rio;
aqueles de vós no topo deveriam ter alguma piedade para com aqueles cá em baixo...
os deslocados são inúteis,
como sangue que ninguém quer comprar no mercado petrolífero.

3
desculpa-me, perdoa-me,
por ser incapaz de extrair mais lágrimas para ti
por não murmurar o teu nome em nostalgia.
direcionei a minha face para o calor dos teus braços
não tenho amor para ti, para ti apenas, e sou o primeiro dos que te buscam

4
noite
tu és inexperiente no Tempo
faltam-te gotas de chuva
que possam lavar tudo o que resta do teu passado
e libertar-te daquilo a que chamaste piedade...
desse coração... capaz de amar,
de brincar,
e de interagir com a tua desistência obscena dessa flácida religião
a partir desse falso Tanzil*
de deuses que perderam o seu orgulho...

5
arrotas, mais do que aquilo a que estavas habituado...
à medida que as barras abençoam os seus visitantes
com récitas e danças sedutoras...
acompanhando o DJ
recitas as tuas alucinações
e as tuas orações para esses corpos que se balançam nos versos** do exílio.

6
contudo, ele não tem direito a caminhar,
contudo não tem direito a cantar, contudo não tem direito a chorar.
ele não tem direito a abrir a janela da sua alma
a renovar o seu ar, o seu desperdício, as suas lágrimas...
também tu tendes a esquecer
que és um pedaço de pão

7
no dia em que são banidos, eles erguem-se nus,
enquanto tu nadas nos canos de esgoto enferrujados, de pés descalços...
isto poderia ser saudável para os pés
mas não para a terra

8
os profetas reformaram-se
portanto não esperes que os teus venham ter contigo
e para ti,
para ti os monitores trazem o seu relatório diário
e recebem os seus salários elevados...
como é importante o dinheiro
para uma vida com dignidade

9
o meu avô ergue-se nu todos os dias
sem decretos a banirem-no, sem criações divinas...
eu já fui ressuscitado sem um sopro divino na minha imagem.
sou a experiência do inferno na terra...
a terra
é o inferno preparado para os refugiados

10
o teu sangue emudecido não irá falar
enquanto te orgulhares na morte
enquanto continuares a anunciar – secretamente – que depositaste a tua alma
nas mãos daqueles que não sabem mais***...
perder a tua alma levará tempo
muito mais do que o que leva a acalmar
os teus olhos que choraram lágrimas de petróleo



Ashraf Fayadh


Petição da Anistia Internacional que pede a liberdade de Ashraf: https://www.amnesty.org.uk/actions/free-ashraf-fayadh-saudi-arabia-palestinian-poetry-apostasy-execution#.VlyGQVzFfoY.twitter

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages