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sábado, 11 de novembro de 2017

Manifesto pela renovação da cultura nordestina


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Manifesto pela renovação da cultura nordestina

O forró fora tomado de assalto pela canalhice musical! Conjuntos vulgares e desprezadores da arte, da tradição e da cultura tomaram o núcleo artístico da cultura do Nordeste e usaram a profusão midiática para vender shows em detrimento da essência musical sobre a qual se ergueu o vulto de Luiz Gonzaga, cantor que esteve junto com a poesia popular de Patativa e da composição erudita de Humberto Teixeira.
A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia (Beethoven). As composições que circulam sobre a tutela nominal de forró se afastaram decisivamente da poesia e dos sentidos espirituais, converteram-se em estopim de instintos animalescos, da torpeza e da sevícia. Um povo sem música poética é um povo de animais usando os piores instintos não para a sobrevivência, mas para a autodestruição. Todos os que se colocam contra o que convieram em chamar “forró eletrônico” são esmagados por uma peste radioativa que impede gerações inteiras de apreciarem a música na poesia, criamos uma região de envergonhados das suas tradições, um crime contra um povo. Os símbolos se tornam mero pretexto para insuflarem nas mentes e nos hábitos maratonas de exposição às ondas mortais da música depravada.
Os momentos marcantes de renovação e criação da música brasileira popular sempre tiverem o envolvimento de nomes do Nordeste; se voltarmos a origem remota do cancioneiro teremos o nome de Gregório de Matos, inúmeros menestréis, a chegada de Catulo da Paixão Cearense ao sudeste e a mudança profunda, a criação local da cantoria de viola na Serra do Teixeira, a passagem da rabeca para a sanfona, a criação gonzaguiana do trio de forró, isso tudo sem esquecer o canto sem acompanhamento de instrumentos do aboiador, herança natural corrente na tradição remota. Quando o Nordeste renegou tudo que possui ele passou de renovador a rebotalho de excrescência musical. As porcarias que se apropriaram do termo passaram a praticar um único ato: o de piorar o máximo que puder para ser fácil obter “sucesso” vulgar.
Nunca se viu um país selecionar para o topo do sucesso cantores, duplas e conjuntos musicais de tão baixa qualidade. Os cantores e compositores que fazem música de verdade são assassinados artisticamente. Quem produz música boa no Brasil é condenado ao desprezo total. A facilidade de ganhar dinheiro vendendo o que não presta retira do país cantores que dariam letras e melodias memoráveis ao país, mas que se perdem no meio dos lixões sonoros, vaporosos e que somem com qualquer brisa.
Para a nova música nordestina (Forró Novo) que deve brotar do chorume deixado pelas bandas deverá se basear numa junção de três fatores: o sócio-cultural, o natural e o introspectivo do sujeito. Os compositores devem ser conhecedores da cultura clássica e da cultura popular, no mesmo sentido que Luís da Câmara Cascudo escreveu sua obra folclórica e de etnologia. Não devem produzir hits e sim letras. Não devem cantar as falhas morais pelo fato de a música ter uma carga comportamental profunda, dizia Platão que se mudando a música se muda o estado de uma cidade. Sempre a natureza será inspiração, as dores e as agruras do espírito, e a vida e fatos do cotidiano, só não podendo ser vulgar, Petrúcio Amorim, Humberto Teixeira e Zé Dantas são grandes modelos.
Agora, não há que se repetir o passado, é preciso uma música nordestina nova para o Nordeste novo. O Forró que existiu até a morte de Luiz Gonzaga era um ritmo rural, mesmo cantado no rádio e na cidade. A inspiração poética era a vida rural do Nordeste. Para hoje a grande dificuldade é compor, o que temos como fornecedores dos hits das bandinhas são pessoas que observam os aspectos mais medíocres de hábitos vulgares das gerações pós-1980. Não há mais relação com a natureza, com a poesia e com a filosofia. São hits que estimulam a fúria desprezível de instintos animalescos.
A estética das bandinhas é horrível, luzes excessivas, vestimentas aos molambos, bailarinos sem significado algum de dança, erotização vulgar sem expressão artística. Os cantores interrompem as letras o tempo todo falando com a platéia. Tudo isso deve ser abolido definitivamente. Deve-se civilizar a música, vestindo roupas decentes e tradicionais, a letra deve ser cantada na íntegra sem alterações ou comunicação com o auditório e se extinguir o uso de expressões bizarras.
É urgente o fim do domínio das bandas, os cantores da geração pré-bandas e novos músicos e poetas devem se unir nalguma entidade para definirem e enrijecerem aquilo que deve ser composto, a formação de poetas compositores é essencial para que o Nordeste saia do animalismo musical e volte a respirar poesia e melodia útil e necessária para a sociedade.


Luiz Rodrigues

A música em grandes pensadores:

·      A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende (Schopenhauer).
·      A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo (Oscar Wilde).
·      A música oferece às paixões o meio de obter prazer delas (Nietzsche).
·      A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição (Aristóteles).
·      Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza (Miguel de Unamuno).
·      O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas (Shakespeare).
·      A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da educação do povo (François Guizot).
·      A simplicidade é a conquista final. Depois de ter tocado uma quantidade de notas e mais notas, é a simplicidade que emerge como a recompensa coroada da arte (Chopin).
·      A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a comunicação das almas (Marcel Proust).
·      A música é a linguagem dos espíritos (Khalil Gibran).
·      A música é o barulho que pensa (Victor Hugo).
·      A boa música nunca se engana, e vai direita, buscar ao fundo da alma o desgosto que nunca devora (Stendhal).

·      Onde há música não pode haver coisa má (Cervantes).

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