Manifesto
pela renovação da cultura nordestina
O
forró fora tomado de assalto pela canalhice musical! Conjuntos vulgares e
desprezadores da arte, da tradição e da cultura tomaram o núcleo artístico da
cultura do Nordeste e usaram a profusão midiática para vender shows em
detrimento da essência musical sobre a qual se ergueu o vulto de Luiz Gonzaga,
cantor que esteve junto com a poesia popular de Patativa e da composição
erudita de Humberto Teixeira.
A música é o vínculo que
une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da
poesia (Beethoven). As composições que circulam sobre a tutela
nominal de forró se afastaram decisivamente da poesia e dos sentidos
espirituais, converteram-se em estopim de instintos animalescos, da torpeza e
da sevícia. Um povo sem música poética é um povo de animais usando os piores
instintos não para a sobrevivência, mas para a autodestruição. Todos os que se
colocam contra o que convieram em chamar “forró eletrônico” são esmagados por
uma peste radioativa que impede gerações inteiras de apreciarem a música na
poesia, criamos uma região de envergonhados das suas tradições, um crime contra
um povo. Os símbolos se tornam mero pretexto para insuflarem nas mentes e nos
hábitos maratonas de exposição às ondas mortais da música depravada.
Os
momentos marcantes de renovação e criação da música brasileira popular sempre
tiverem o envolvimento de nomes do Nordeste; se voltarmos a origem remota do
cancioneiro teremos o nome de Gregório de Matos, inúmeros menestréis, a chegada
de Catulo da Paixão Cearense ao sudeste e a mudança profunda, a criação local
da cantoria de viola na Serra do Teixeira, a passagem da rabeca para a sanfona,
a criação gonzaguiana do trio de forró, isso tudo sem esquecer o canto sem
acompanhamento de instrumentos do aboiador, herança natural corrente na
tradição remota. Quando o Nordeste renegou tudo que possui ele passou de
renovador a rebotalho de excrescência musical. As porcarias que se apropriaram
do termo passaram a praticar um único ato: o de piorar o máximo que puder para
ser fácil obter “sucesso” vulgar.
Nunca
se viu um país selecionar para o topo do sucesso cantores, duplas e conjuntos
musicais de tão baixa qualidade. Os cantores e compositores que fazem música de
verdade são assassinados artisticamente. Quem produz música boa no Brasil é
condenado ao desprezo total. A facilidade de ganhar dinheiro vendendo o que não
presta retira do país cantores que dariam letras e melodias memoráveis ao país,
mas que se perdem no meio dos lixões sonoros, vaporosos e que somem com
qualquer brisa.
Para
a nova música nordestina (Forró Novo) que deve brotar do chorume deixado pelas
bandas deverá se basear numa junção de três fatores: o sócio-cultural, o
natural e o introspectivo do sujeito. Os compositores devem ser conhecedores da
cultura clássica e da cultura popular, no mesmo sentido que Luís da Câmara
Cascudo escreveu sua obra folclórica e de etnologia. Não devem produzir hits e
sim letras. Não devem cantar as falhas morais pelo fato de a música ter uma
carga comportamental profunda, dizia Platão que se mudando a música se muda o
estado de uma cidade. Sempre a natureza será inspiração, as dores e as agruras
do espírito, e a vida e fatos do cotidiano, só não podendo ser vulgar, Petrúcio
Amorim, Humberto Teixeira e Zé Dantas são grandes modelos.
Agora,
não há que se repetir o passado, é preciso uma música nordestina nova para o
Nordeste novo. O Forró que existiu até a morte de Luiz Gonzaga era um ritmo
rural, mesmo cantado no rádio e na cidade. A inspiração poética era a vida
rural do Nordeste. Para hoje a grande dificuldade é compor, o que temos como
fornecedores dos hits das bandinhas são pessoas que observam os aspectos mais
medíocres de hábitos vulgares das gerações pós-1980. Não há mais relação com a
natureza, com a poesia e com a filosofia. São hits que estimulam a fúria
desprezível de instintos animalescos.
A
estética das bandinhas é horrível, luzes excessivas, vestimentas aos molambos,
bailarinos sem significado algum de dança, erotização vulgar sem expressão
artística. Os cantores interrompem as letras o tempo todo falando com a platéia.
Tudo isso deve ser abolido definitivamente. Deve-se civilizar a música,
vestindo roupas decentes e tradicionais, a letra deve ser cantada na íntegra
sem alterações ou comunicação com o auditório e se extinguir o uso de
expressões bizarras.
É
urgente o fim do domínio das bandas, os cantores da geração pré-bandas e novos
músicos e poetas devem se unir nalguma entidade para definirem e enrijecerem aquilo
que deve ser composto, a formação de poetas compositores é essencial para que o
Nordeste saia do animalismo musical e volte a respirar poesia e melodia útil e
necessária para a sociedade.
Luiz Rodrigues
A música em grandes pensadores:
· A
música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende
(Schopenhauer).
· A
música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo (Oscar
Wilde).
· A
música oferece às paixões o meio de obter prazer delas (Nietzsche).
· A
música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a
eleva acima da sua condição (Aristóteles).
· Entre
as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é
tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos
de pureza (Miguel de Unamuno).
· O
homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto
de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas (Shakespeare).
· A
música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da
educação do povo (François Guizot).
· A
simplicidade é a conquista final. Depois de ter tocado uma quantidade de notas
e mais notas, é a simplicidade que emerge como a recompensa coroada da arte
(Chopin).
· A
música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido - se não tivesse havido
a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias - a
comunicação das almas (Marcel Proust).
· A
música é a linguagem dos espíritos (Khalil Gibran).
· A
música é o barulho que pensa (Victor Hugo).
· A
boa música nunca se engana, e vai direita, buscar ao fundo da alma o desgosto
que nunca devora (Stendhal).
· Onde
há música não pode haver coisa má (Cervantes).
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