A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês) é uma organização regional instituída em 8 de agosto de 1967 (comemorou 50 anos em 2017) e atualmente engloba 10 nações: Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia (as 5 primeiras) e, mais recentemente, Brunei, Myanmar, Camboja, Laos e Vietnã.
Estes 10 países juntos, em 2017, apresentam um PIB de US$ 7,9 bilhões (em ppp), pouco menor do que o PIB conjunto da América Latina e Caribe (ALC), de US$ 9,7 bilhões, segundo dados do FMI. Mas na atual década, os países da ASEAN crescem cerca de 5% ao ano, enquanto os países da ALC crescem menos de 2% ao ano.
O gráfico acima mostra que a participação da ALC no PIB mundial vem caindo nas últimas décadas, passando de 12% em 1980, para 7,7% em 2017 e devendo ficar em 7,3% em 2022. No mesmo período a participação dos 10 países da ASEAN subiu de 3,4% em 1980, para 6,3% em 2017 e deve chegar a 6,7% em 2022. Neste ritmo, a economia da ASEAN deve ultrapassar a economia da ALC por volta de 2025.
A 31ª Cúpula da ASEAN ocorreu nas Filipinas, nos dias 12 a 14 de novembro de 2017 e além dos 10 países do bloco contou com a presença dos seus chamados sócios de diálogo (Austrália, China, Índia, Japão, Nova Zelândia e Rússia). Estes 16 países assumiram compromissos selados com a Reunião de Líderes da Associação Econômica Integral Regional (RCEP), um bloco em formação que quando estiver organizado reunirá metade da população mundial e a maior área de livre comércio do planeta.
A prioridade temática geral da 31ª Cúpula da ASEAN foi “crescimento inclusivo e liderado pela inovação”, apoiado por três medidas estratégicas: aumentar o comércio e o investimento, integrar as micro, pequenas e médias empresas nas cadeias de valor globais e desenvolver uma economia orientada para a inovação. Ou seja, uma economia impulsionada pela inovação abarcando os desafios e oportunidades colocadas pela chamada 4ª Revolução Industrial.
A presença do presidente da China, Xi Jinping – extremamente fortalecido depois do 19º Congresso do Partido Comunista Chinês e depois de ter recepcionado e “controlado” o presidente Donald Trump em Pequim – torna as ambições da ASEAN mais concretas, pois o grupo está em sintonia com a grande iniciativa chinesa que é Um Cinturão e Uma Rota (em inglês, One Belt, One Road, ou OBOR).
Mas no encontro de cúpula ocorrido na cidade portuária de Da Nang, no Vietnam, no dia 11 de novembro, durante a 25ª reunião da APEC, a poderosa organização de 21 economias da Ásia-Pacífico (Austrália, Brunei Darussalam, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, México, Papua Nova-Guiné, Chile, Peru, Rússia, Vietnã), Donald Trump fez um discurso isolacionista e Xi Jinping fez um discurso em defesa da globalização e da cooperação em nível comercial e climático.
A 31ª Cúpula da ASEAN buscou o objetivo de integrar as empresas dos 10 países nas cadeias de valor globais, além de enfrentar o desafio de investir em capital humano para continuar a negociar e atrair investimentos e permitir economias orientadas para a inovação. Dado o impacto desigual das novas tecnologias na região, a promoção do crescimento inclusivo também deve foi vista como um pilar fundamental para sustentar a paz social e a paz na região. Abraçar a Revolução 4.0, com crescimento inclusivo e liderado pela inovação é essencial para garantir o progresso nos próximos 50 anos.
O país que serve de modelo para os demais países da ASEAN é Singapura, uma nação que investiu pesadamente em educação, em ciência e tecnologia, em infraestrutura (tem os melhores portos e aeroportos do mundo) e em proteção do meio ambiente (é o país com maior proporção de áreas verdes).
O gráfico acima mostra que, em 1980, a renda per capita de Singapura estava em US$ 8,9 mil (em ppp), contra US$ 4,8 mil do Brasil (1,8 vezes maior). Em 2017, a renda per capita de Singapura passou para US$ 90,7 mil e do Brasil para US$ 15,5 mil (5,9 vezes maior). Em 2022, a renda per capita de Singapura deve atingir US$ 109,5 mil, contra apenas US$ 18,3 mil do Brasil (6 vezes maior).
Há grandes diferenciais no nível de desenvolvimento dos países do sudeste asiático, como mostra o contraste entre a alta renda per capita de Singapura e Brunei e a baixa renda de Laos e Camboja. Mas estes países estão buscando se equilibrar entre os dois grandes polos da economia internacional (China e EUA) e tentam garantir seus espaços no mundo globalizado, inclusive atuando no sentido de se beneficiar dos avanços da Revolução 4.0.
A situação da ASEAN contrasta fortemente com a situação do Mercosul. Enquanto o bloco asiático, mesmo com todas as dificuldades, está de vento em popa, o Mercosul enfrenta ventos contrários, enquanto a América Latina está em processo de submergência no cenário econômico internacional e cada vez mais distante das oportunidades trazidas pela revolução científica e tecnológica.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2017
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