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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Estudo da FGV estima que queda na economia brasileira pode chegar a 4,5% por conta do COVID-19

"Se nós perdermos o controle da pandemia domesticamente, a economia brasileira muito provavelmente se desorganizará e além das perdas de vidas, nós teríamos uma recessão muito provavelmente maior do que está sendo projetado em nosso cenário", alerta Emerson Marçal (FGV EESP)



FGV - Um estudo do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP) projetou o impacto da pandemia do coronavírus na atividade econômica brasileira. O coordenador do centro, professor Emerson Marçal, apresentou a metodologia e as conclusões da pesquisa, que estima que o PIB brasileiro poderá recuar em 2020 até 4,5%, na websérie FGV – Impactos do COVID-19.
Diante de um cenário em que é muito difícil mensurar os efeitos econômicos, ainda mais em um momento em que não há muitas informações sobre o que está acontecendo na economia brasileira, o trabalho utilizou econometria e história econômica para identificar momentos importante que podem ser comparados à crise atual.
“Um primeiro momento que pode ser comparado com o que estamos vivendo agora é a crise de 2008. Essa foi uma crise global que afetou todo mundo, e em particular o Brasil. Um outro evento importante que nos afetou foi a greve dos caminhoneiros, em 2018. A economia brasileira ficou parada por praticamente um mês sem poder operar por conta dos efeitos da greve”, justifica o professor.
A pesquisa mediu, portanto, qual foi a magnitude desses dois eventos e traçou um cenário base, simulando o que aconteceria com a economia brasileira caso não fosse impactada pela pandemia de coronavírus. Segundo essa estimativa, o PIB brasileiro avançaria 2% em uma situação de normalidade. Foi a partir dessa projeção que foram traçados os cenários de impacto da crise do COVID-19.
“Estimamos qual seria o cenário da economia se o evento que está ocorrendo agora tiver a ordem de magnitude da greve dos caminhoneiros. Nesse caso a economia deve crescer 0% em 2020, ou seja, o efeito seria de 2%. Mas nós acreditamos que isso é um cenário conservador, porque além do efeito doméstico da pandemia, há o efeito externo dos principais mercados, que estão parados: Europa, China e EUA. Então nós simulamos o que ocorreria com a economia brasileira se o choque que está ocorrendo agora com a crise da pandemia tiver a magnitude da crise de 2008. Nesse cenário, nós estimamos que a queda da atividade econômica será de 2,5% em 2020, ou seja, o efeito sobre a economia brasileira seria uma queda de 4,5% do PIB em relação ao cenário base”, explica.
Eles também avaliaram um terceiro cenário, com a junção desses dois episódios. De acordo com Marçal, essa seria a projeção mais realista, visto que a crise atual agrega o impacto na economia mundial com a paralisação da economia brasileira.
“Nós simulamos, então, um cenário ainda mais dramático, em que o efeito da crise do coronavírus será equivalente a uma greve dos caminhoneiros e a crise de 2008 ocorrendo simultaneamente. Nesse cenário mais dramático, a economia pode encolher até 4,5%. Somando todos os efeitos, nós sairemos de um cenário base de crescimento de 2% para -4,5%, ou seja, uma queda de quase 6,5%”, destaca.
Ainda de acordo com o professor, somente o tempo vai dizer qual será o real impacto do COVID-19 na economia brasileira. Marçal destacou que dois fatores serão fundamentais para determinar se as projeções realizadas são realistas, otimistas ou pessimistas.
“Vai depender de dois fatores. O grau da pandemia, ou seja, se nós perdermos o controle da pandemia domesticamente, a economia brasileira muito provavelmente se desorganizará e além das perdas de vidas, nós teríamos uma recessão muito provavelmente maior do que está sendo projetado em nosso cenário. Se a pandemia for controlada e nós conseguirmos dentro de alguns meses retomar uma certa normalidade, o ano de 2020 será difícil, será desafiador, mas em 2021, 2022, 2023 haverá uma trajetória de retomada”, conclui.

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