por Rodolpho Tobler e Viviane Seda Bittencourt - Blog do Ibre
O primeiro caso de coronavírus no Brasil foi divulgado em 26 de fevereiro. De lá até o dia 15 março, a possibilidade de tomada de medidas mais sérias frente a um provável surto foram ganhando força gradualmente até o dia 15 de março, quando ultrapassamos a marca de 100 casos reportados no país. A partir de então, quase todas os Estados do país passaram a adotar medidas de restrição à circulação, à abertura de estabelecimentos comerciais, além de proporem o distanciamento social.
Antecipando a possibilidade de que o quadro evoluísse desta forma, como previam especialistas, a FGV IBRE incluiu tópicos especiais nas sondagens para entender o impacto da pandemia no dia a dia de consumidores e de empresas da indústria, de serviços e do comércio.
Foram consultados 1700 consumidores entre os dias 01 e 19 de março. Destes, 81,4% afirmaram que o impacto da pandemia será forte ou moderado para a economia brasileira nos próximos meses, ainda que dois terços das respostas tenham ocorrido antes da paralisação de escolas e do comércio; 15% esperavam que a pandemia não tivesse impacto algum ou que ele seria fraco. A proporção dos que dos que acreditavam que não haveria impacto ou que não sabiam responder decresce conforme o nível da renda. Ou seja, o maior percentual dos que não acreditavam que a economia seria impactada ou que não sabiam responder era maior para os consumidores quanto menor o seu nível de renda (Tabela 1).
Tabela 1 – Expectativa dos consumidores sobre o impacto da pandemia
na economia brasileira nos próximos meses (em %)
na economia brasileira nos próximos meses (em %)
Renda familiar mensal
|
Forte
|
Moderado
|
Fraco
|
Nenhum
|
Não sei/ Não quero responder
|
Geral
|
43.3
|
38.1
|
10.7
|
4.7
|
3.2
|
Até R$2.100,00
|
46.7
|
24.6
|
12.6
|
8.3
|
7.8
|
Entre R$2.100,01 e R$4.800,00
|
45.9
|
35.5
|
10.0
|
5.4
|
3.2
|
Entre R$4.800,01 e R$9.600,00
|
40.9
|
45.8
|
9.2
|
3.0
|
1.1
|
Mais de R$9.600,01
|
40.0
|
45.6
|
10.9
|
2.5
|
1.0
|
Fonte: FGV IBRE
Entre as empresas, a enquete confirma o que já era esperado: o impacto em março foi relativamente concentrado. Espera-se que nos próximos meses os efeitos da crise terminem atingindo quase todos os setores.
A coleta realizada entre os dias 01 e 25 de março mostra que apesar das medidas restritivas terem se iniciado a partir do dia 15, mais de 30% das empresas em todos os setores já percebiam o efeito da pandemia nos seus negócios, principalmente a indústria e comércio com 43% e 35% das empresas respectivamente. A expectativa das empresas para os próximos meses é menos favorável: 68,5% das empresas da Indústria previam ser impactadas pela crise, 59,1% do Comércio e 49,7% de Serviços (49,7%). Neste último setor, é possível que as empresas não percebessem, no início do período, como a política de isolamento afetaria seus negócios.
Gráfico 1 – Percepção e expectativas das empresas sobre impacto
da pandemia na atividade (proporção de respostas em %)

da pandemia na atividade (proporção de respostas em %)

Fonte: FGV IBRE
Na indústria, os segmentos que se mostram mais afetados pela pandemia no mês foram: Petróleo e biocombustíveis (88,3%) e Química (61,4%). Para 90,7% das empresas do segmento de Petróleo, o principal fator a afetar seria a demanda externa reduzida e para 83,1% dos produtores químicos seria o fornecimento de insumos importados. Em relação aos meses seguintes, 15 dos 19 segmentos pesquisados apresentam percentuais acima de 50% de empresas se dizendo impactadas pela crise. Entre os segmentos que esperam ser mais afetados estão: máquinas e materiais elétricos (91,5%), petróleo e biocombustíveis (90,5%), limpeza e perfumaria (90,2%), informática e eletrônicos (89,4%), couros e calçados (85,9%), veículos automotores (82,7%) e metalurgia (82%). Para a maior parte dos segmentos, a principal preocupação das empresas é com o fornecimento de insumos importados. Dentre estes, os produtores de bens de consumo duráveis são os mais preocupados (86,6%). A demanda reduzida interna e externa foram os mais citados a seguir (37,4% e 37,0%, respectivamente), sendo puxadas pelas empresas de bens intermediários, que registraram 47,4% e 51,5%, na mesma ordem. A paralisação por problemas de saúde foi citada por 23,0% das empresas, tendo maior incidência nos produtos de bens de consumo não duráveis (34,6%).
O segmento do vestuário registrou o menor impacto em suas atividades: apenas 26% das empresas, número inferior ao de segmentos considerados essenciais como alimentos e farmacêuticos, em que mais de 40% das empresas esperam ser impactadas pela forte desaceleração econômica motivada pelo surto.
Gráfico 2 – Tipos de impactos na atividade das empresas industriais (em %)


Fonte: FGV IBRE
Em linha com o resultado da indústria, no comércio os segmentos mais impactados são em parte ligados a revendedores de bens duráveis e semiduráveis. Segmentos com maiores percentuais foram Veículos, motos e peças (46,4%), material para construção (39,9%) e tecidos, calçados e vestuário (37,2%). Apenas 18,0% das empresas de hiper e supermercados reportaram problemas em março, o que sugere algum efeito do isolamento, considerando que as pessoas precisavam abastecer suas casas para que pudessem se manter em casa.
Tabela 2 – Empresas impactadas pela pandemia de coronavírus – Comércio (em %)
Segmentos
|
Empresas que afirmam que atividade está sendo afetada em março (em %(
|
Empresas que acreditam que sua atividade será ou continuará sendo afetada nos próximos meses (em %)
|
Varejo Ampliado
|
35,4
|
59,1
|
Veículos, motos e peças
|
46,4
|
71,6
|
Material para Construção
|
39,9
|
51,4
|
Varejo Restrito
|
33,0
|
58,2
|
Hiper e supermercados
|
18,0
|
49,1
|
Tecidos, vestuário e calçados
|
37,2
|
74,7
|
Móveis e eletrodomésticos
|
31,9
|
71,5
|
Outros produtos varejistas
|
38,8
|
54,7
|
Fonte: FGV IBRE
Em relação aos próximos meses, seguindo a tendência de outros setores, os percentuais aumentam para todos os segmentos, com destaque para tecidos, vestuário e calçados (74,7%) em que 60,5% esperam redução de demanda por conta da pandemia, indo em sentido contrário do que espera a indústria. Além dele, veículos automotores (71,6%) e móveis e eletrodomésticos (71,5%). Vale ressaltar o setor de hiper e supermercados, com o menor impacto nos próximos meses, sugerindo que a demanda por produtos básicos, como alimentos e bebidas, pode contribuir para reduzir o impacto no setor, apesar disso, o segmento, assim como os demais, se preocupa com problemas que possam vir ocorrer na produção ou entrega por parte de fornecedores (73,4%).
No comércio, a necessidade de paralisação por questão de saúde de colaboradores é mais citada do que nos demais setores (34,5%) com uma influência maior no segmento de hiper e supermercados (44,6%) possivelmente pela necessidade de se manter comércio aberto para suprir as famílias.
Gráfico 3 – Tipos de impactos na atividade das empresas do comércio (em %)


Fonte: FGV IBRE
O setor de serviços aparece como setor com menor preocupação até o momento. Apesar disso, em alguns segmentos do setor, é possível notar uma grande preocupação com os impactos da pandemia na atividade da empresa nos próximos meses principalmente no segmento transportes, serviços auxiliares e correios (62,9%), onde estão as companhias aéreas, ferroviária, metroviárias e de correios e por prestadoras de serviços às famílias (54,5%), onde empresas de alojamento e alimentação projetam ser mais afetadas.
Tabela 3 – Empresas impactadas pela pandemia de coronavírus – Serviços (em %)
A atividade da empresa já está sendo impactada
|
A atividade da empresa será (ou continuará sendo) impactada
| |
Serviços
|
30.2
|
49.7
|
Serviços prestados às famílias
|
35.2
|
54.5
|
Serviços de informação e comunicação
|
35.9
|
53.1
|
Serviços profissionais, administrativos e complementares
|
24.2
|
39.7
|
Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio
|
34.0
|
62.9
|
Atividades imobiliárias
|
29.4
|
50.5
|
Serviços de manutenção e reparação
|
23.3
|
39.3
|
Outras atividades de Serviços
|
24.1
|
34.7
|
Fonte: FGV IBRE
Entre os fatores que contribuem para essa expectativa mais negativa é a redução da demanda sendo citado por 68,8% das empresas, com destaque nas empresas de serviços imobiliários e de transporte (84,1% e 78,2%, respectivamente). O segundo fator mais citado foi a paralisação das empresas por questão de saúde (42,5%) influenciado por serviços de informação e comunicação e profissionais, administrativos e complementares (52,1% e 49,5%, respectivamente). Problemas no fornecimento de insumos foi assinalado por 22,3%, sendo muito influenciado pelo segmento de serviços de manutenção e reparação (50%).
Gráfico 4 – Tipos de impactos na atividade das empresas de serviços (em %)


Fonte: FGV IBRE
O cenário para os próximos meses causa preocupação para empresas e consumidores. O impacto econômico mundial já está anunciado os efeitos sociais e no bem-estar das pessoas serão grandes. Observa-se uma queda da confiança em todos esses setores, cautela dos consumidores. A incerteza no momento em relação a velocidade da disseminação do vírus nas próximas semanas e quais ações serão tomadas para contê-lo podem agravar a situação que já é crítica.

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