Diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano falou à ONU News sobre os efeitos da Covid-19; padrões mundiais de educação, saúde e expectativa de vida devem cair na maioria dos países, ricos e pobres.
ONU News - O desenvolvimento humano global pode baixar este ano, pela primeira vez desde que o conceito foi introduzido em 1990, alertou esta quarta-feira o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud.
O Índice de Desenvolvimento Humano é uma combinação dos padrões mundiais de educação, saúde e expectativa de vida. Quedas nessas áreas estão sendo sentidas na maioria dos países, ricos e pobres, em todas as regiões.
Efeitos
Falando à ONU News, em Nova Iorque, o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano, Pedro Conceição, disse que “esta é uma crise sem precedentes sob o ponto de vista do desenvolvimento humano.”
“É uma crise que está a afetar a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo, não só devido aos efeitos diretos do vírus, mas também devido aos efeitos indiretos da pressão sobre os sistemas de saúde. Afeta também o rendimento das famílias, com aquilo que o Fundo Monetário Internacional chama a maior crise econômica desde a Grande Depressão de 1930. É também uma crise que afeta a educação, uma vez que nove em cada 10 alunos se confrontam com escolas fechadas.”
Segundo a agência, a renda per capita global deve cair 4% em 2020. O Pnud também calculou a taxa efetiva de crianças que estão estudando, ajustada para refletir aqueles que não têm acesso à internet. Cerca de 60% das crianças não estão recebendo educação, um nível que não é visto desde os anos 80.
Em países com baixo desenvolvimento humano, esse número sobe para 86%. Nos países com muito alto desenvolvimento humano, esse valor é de 20%, mostrando o impacto da desigualdade no setor da educação.
Desigualdades
A análise afirma que a queda no desenvolvimento humano deve ser muito maior nos países em desenvolvimento, que são menos capazes de lidar com as consequências sociais e econômicas da pandemia.
Para Pedro Conceição, a crise mostra que, sem maior promoção de igualdade, muitos ficarão para trás. Medidas políticas são, sobretudo, necessárias em novas necessidades do século 21, como o acesso à internet, que facilita serviços de educação, medicina e trabalho.
“Esta é também uma crise que pode inspirar atitudes e decisões que reduzem a desigualdade, uma vez que esta crise foi imposta num contexto em que há um grande número de desigualdades que se estão a acumular. Por exemplo, as desigualdades no acesso à internet determinam a capacidade de crianças em todo o mundo continuarem a sua educação. Por isso, políticas orientadas para a redução dessas desigualdades seriam possíveis num contexto em que os países em todo o mundo estão a mobilizar US$ 8 mil milhões de dólares para fazer face a crise.”
Aumentar o acesso à internet nos países de baixo e médio rendimento custaria aproximadamente 1% do valor investido no combate à pandemia.
Recomendações
O Pnud recomenda cinco etapas prioritárias para lidar com a crise.
Primeiro, proteger os sistemas e serviços de saúde, aumentar a proteção social, proteger empregos e pequenas e médias empresas e trabalhadores do setor informal. Depois, implementar políticas macroeconômicas que funcionem para todos. Por fim, deve ser promovida a paz, a boa governança e a confiança para fortalecer a coesão social.
Em nota, o administrador do Pnud, Achim Steiner, disse que “o mundo passou por muitas crises nos últimos 30 anos, incluindo a crise financeira global de 2007-09, que afetaram fortemente o desenvolvimento humano, mas, em geral, os ganhos de desenvolvimento foram se acumulando.”
Segundo Steiner, no entanto, a impacto triplo em saúde, educação e renda da crise da Covid-19 “pode mudar essa tendência."
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