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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Cajueiro-anão transforma a vida de agricultores do RN



Agência Embrapa -  A severa seca registrada entre 2012 e 2017 impossibilitou o plantio de várias culturas na Serra de Santana, no sertão do Seridó (RN). A longa estiagem sentenciou à morte os antigos cajueiros gigantes existentes nas propriedades. Contrariando qualquer prognóstico, muitos agricultores conseguiram melhorar a renda apesar da seca. Eles apostaram no cultivo de clones de cajueiro-anão desenvolvidos pela Embrapa e alcançaram produtividade até quatro vezes maior, comparada à do cajueiro gigante. Mesmo com o fim da estiagem, o caju consolidou-se como a principal cultura da região, à frente da pinha, da batata-doce irrigada e da mandioca.

Histórias parecidas podem ser constatadas em outras regiões do estado, onde a Embrapa Agroindústria Tropicalinstalou experimentos para testar novos materiais mais adaptados, como Serra do Mel, Apodi, Severiano Melo, Florânia, Lagoa Nova e Parnamirim. Os produtores investiram na adoção de tecnologias e na tecnificação da cultura e obtiveram bons resultados, também durante a seca. 

Mais resistente ao estresse hídrico, precoce e de porte baixo, o cajueiro-anão ofereceu aos produtores, além da maior produtividade, boa rentabilidade pelo fato de possibilitar o aproveitamento do pedúnculo, o falso fruto, como caju de mesa e na indústria de processamento de sucos e doces. Com o cajueiro gigante é difícil aproveitar o pedúnculo, pois o porte da planta inviabiliza a colheita manual, além de que seus produtos variam de qualidade entre uma planta e outra.

“Há cinco anos, com o dinheiro do caju eu não fazia uma feira”, atesta o pequeno produtor Domingos Divino da Silva, 44, morador da zona rural do município de Florânia, na Serra de Santana (veja quadro). Com 5,5 hectares de cajueiro, em 2019, depois de seis anos de secas sucessivas, ele colheu 1.800 caixas de caju de mesa. No ano passado, o preço da caixa oscilou entre R$ 20 e R$ 30. 

Histórias semelhantes às registradas na Serra de Santana irradiaram-se por boa parte do Rio Grande do Norte. O enredo é parecido: a seca matou as plantações de cajueiro-comum (em 2010 o estado possuía cerca de 120 mil hectares, enquanto em 2020 a área era de pouco mais de 50 mil hectares) e os produtores passaram a cultivar ou intensificaram o cultivo do cajueiro-anão, com o cuidado de adotar as recomendações técnicas para a boa condução dos pomares. 

Enquanto na Serra de Santana predominam pequenos produtores, no oeste potiguar o perfil é outro: médias e grandes propriedades. Na região está localizado o município de Severiano Melo, conhecido como Terra do Caju, e onde foi observado um expressivo desenvolvimento do setor.

O produtor e agrônomo Antônio Tertulino, que mantém uma área de 300 hectares de cajueiro em Severiano Melo, revela que a cajucultura sempre foi a principal atividade da região, tradicionalmente com o cultivo do cajueiro gigante. Com a seca e morte da maior parte dessas árvores, os produtores precisaram recuperar os pomares e utilizaram o cajueiro-anão. Puderam, assim, constatar as vantagens da mudança. “Foi um mal que trouxe o bem. Antes não tinha retorno. Agora o produtor investe, porque é lucrativo”, afirma.

Tecnologia e informação

O pesquisador Luiz Serrano, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), explica que não é incomum encontrar entre os cajucultores de municípios do oeste potiguar produtividade, em sequeiro, acima de 1.200 kg de castanha por hectare ao ano – bem acima da média do cajueiro gigante, que chega a 300 kg por hectare ao ano. Ele acredita que, mantido o protagonismo dos produtores, em cinco anos o Rio Grande do Norte deve se tornar referência em produção tecnificada de caju. 

O pesquisador diz que o incentivo de ações da Embrapa, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater-RN), além de parceiros da iniciativa privada, auxiliou o desenvolvimento da cadeia produtiva. “Vários treinamentos, cursos e dias de campo foram e estão sendo realizados frequentemente nas regiões produtoras; e os resultados são vistos rapidamente pela dedicação dos produtores”, afirma o pesquisador.

O projeto Melhoramento Genético do Cajueiro no Brasil (veja quadro) foi uma das ações que contribuiu para levar tecnologia e informação aos produtores. Em 2010 a Embrapa retomou e intensificou as atividades de pesquisa no Rio Grande do Norte, onde mantém áreas experimentais para avaliação de clones de cajueiro-anão, em parceria com produtores, com a Emparn e a Emater-RN. “Clones produtivos já disponibilizados para os estados do Ceará e Piauí estão agora em avaliação para validação no Rio Grande do Norte, mostrando bons resultados de adaptação e produção. Além disso, novos materiais estão sendo avaliados para futura disponibilização para os produtores dessas regiões”, explica o melhorista e pesquisador da Embrapa Francisco Vidal Neto.

Vidal Neto reforça que o desenvolvimento do setor resultou da capacidade de organização da cadeia produtiva, com o envolvimento dos produtores e instituições públicas e privadas. “Houve um protagonismo importante. Em Severiano Melo, por exemplo, já vinham trabalhando com participação da iniciativa privada, de fornecedores de insumos e com apoio político da região. Esse envolvimento colou com nossa atuação, promovendo uma série de eventos. Em outros locais não se vê isso, com esse dinamismo”, diz. 


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