Karina Toledo| Agência FAPESP e Ricardo Zorzetto | Pesquisa FAPESP – Chi Van Dang, médico norte-americano de origem vietnamita e atual diretor científico do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer (LICR), em Nova York, tem uma visão otimista sobre o futuro da oncologia. Em sua opinião, os avanços no tratamento observados nos últimos anos e o desenvolvimento de ferramentas para a detecção precoce tornarão possível identificar tumores em um estágio muito inicial e eliminá-los antes que se desenvolvam. “Acho que na próxima década vamos começar a curar cada vez mais pacientes. É por isso que tenho uma visão muito entusiasmada e positiva”, disse em novembro durante sua primeira visita ao Brasil.
Dang se tornou internacionalmente conhecido por ter ajudado a elucidar como alterações no funcionamento dos genes da família MYC levam as células a adotar uma via de produção de energia distinta da usual, favorecendo o desenvolvimento de tumores. Há pouco mais de uma década, seu laboratório foi o primeiro a mostrar que células tumorais contendo os genes MYC mutados ou funcionando de modo aberrante produzem energia por meio da fermentação – nas células saudáveis, essa síntese ocorre preferencialmente por meio da respiração, que consome oxigênio; a fermentação só é usada na ausência desse gás. Essa mudança metabólica é conhecida como efeito Warburg, descoberto pelo médico alemão Otto Warburg (1883-1970), ganhador do Nobel de Medicina ou Fisiologia de 1931. Embora seja uma via menos eficiente para produzir energia, a fermentação permite às células acumular mais facilmente ingredientes para sua multiplicação. Os trabalhos do grupo de Dang favoreceram a hipótese de que as células tumorais podem se tornar dependentes dessa via de geração de energia e de nutrientes específicos, que poderiam se tornar alvo de drogas contra o câncer. Algumas propostas de tratamento baseadas nessa ideia se encontram em diferentes estágios de testes com seres humanos.
Dang nasceu em Saigon, atual Cidade Ho Chi Minh, antiga capital do Vietnã do Sul. Era um dos dez filhos do primeiro neurocirurgião do país, que também foi reitor da Escola de Medicina da Universidade de Saigon. Mudou-se para os Estados Unidos em 1967, durante a Guerra do Vietnã, e realizou graduação em química na Universidade de Michigan. Em 1978, ele concluiu o doutorado, também em química, na Universidade de Georgetown, antes de se graduar em medicina pela Universidade Johns Hopkins, onde atualmente é professor.
Em novembro, ele esteve em São Paulo para participar da celebração dos 20 anos da conclusão do Genoma FAPESP, que deveria ter sido comemorada em 2020, mas foi adiada por causa da pandemia. O projeto sequenciou o genoma da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros, o amarelinho, doença que derrubava a produção dos laranjais paulistas. A empreitada capacitou diversos grupos para realizar o sequenciamento de genomas no país e levou ao Projeto Genoma Humano do Câncer, desenvolvido em parceria com o Instituto Ludwig, que sequenciou genes expressos em tumores de grande incidência no Brasil. No evento, que também marcou o fim do ciclo de comemoração dos 60 anos da FAPESP, Dang prestou tributo ao médico e bioquímico Ricardo Renzo Brentani (1937-2011), criador e primeiro diretor do braço brasileiro do LICR. Brentani também foi diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista que Dang concedeu em 22 de novembro à Agência FAPESP e à revista Pesquisa FAPESP.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

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