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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Confederação Nacional da Indústria projeta PIB de 1,6% em 2023

PEC da Transição poderá contribuir com o PIB a curto prazo, mas irresponsabilidade fiscal vai impactar inflação, taxa de juros e desvalorização da moeda, aponta CNI em coletiva



A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o PIB do país vai crescer 1,6% no ano que vem. Em entrevista coletiva, a entidade apresentou suas perspectivas para a economia brasileira e a indústria em 2023, além de ter feito um balanço do ano de 2022. 


Para a CNI, os efeitos que estimularam o crescimento da economia em 2022 vão continuar de forma mais moderada em 2023, como a melhora do mercado de trabalho e o poder de compra da população. Ou seja, a tendência, ao menos por enquanto, é de que o país continue gerando emprego, mas em menor nível do que se observou ao longo deste ano. 


Principal responsável pelo crescimento do PIB em 2022, o setor de serviços deve perder ritmo no ano que vem. De acordo com a CNI, o setor deve crescer cerca de 1,1%. Já o comércio deve avançar com mais força. A expectativa de crescimento da atividade é superior a 3%. 


A aceleração de quase 11% da agropecuária também deve contribuir para a expansão da economia no ano que vem, de acordo com a CNI. Além da previsão de que a safra 2022-2023 será recorde, o setor deve observar os custos de produção – determinantes para o desempenho ruim em 2022 – diminuírem. 


A CNI projeta alta de 0,8% do PIB da indústria no ano que vem. É o setor que menos vai crescer, caso as previsões se confirmem. Os fatores que estimularam o setor em 2022 devem permanecer, ainda que de forma mais moderada em 2023. Mas alguns entraves serão sentidos de forma mais intensa. 


O principal deles são as elevadas taxas de juros, bastante influenciadas pela taxa básica de juros da economia, a Selic. Se fica mais caro para o empresariado adquirir empréstimos e financiamentos para ampliar as instalações, comprar máquinas e equipamentos ou contratar mais funcionários, isso freia o desenvolvimento do setor. 


Segundo o gerente executivo de economia da CNI, Mário Sérgio Telles, a curto prazo, a injeção de R$ 200 bi na economia por meio da aprovação da PEC da Transição (PEC 32/2022) também vai ajudar o PIB a crescer. “Isso vai bater muito no consumo das famílias. A nossa expectativa é que o consumo das famílias continue crescendo em 2023, abaixo do que vimos em 2022, mas ainda sustentado pelo mercado de trabalho e pelas despesas maiores do governo federal”, afirma. 


Mas, se a eventual aprovação do Congresso Nacional à PEC tende a gerar efeitos positivos na economia a curto prazo, pode trazer prejuízos ao país mais à frente. Essa é a análise de Telles. 


“A gente entende que é muito importante a manutenção da âncora fiscal. Esse nível de expansão fiscal que está previsto vai ter efeitos econômicos que preocupam: inflação, desvalorização da moeda e a manutenção da taxa Selic por um tempo mais prolongado. Politicamente é impossível os R$ 600 não serem mantidos, mas tem que ser feita uma discussão no Congresso para se identificar o ponto ótimo desse aumento de despesa”, analisou. 


Inflação e juros altos


Mais dinheiro circulando na economia com uma oferta de produtos e serviços semelhante deve contribuir para que a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), não diminua tanto quanto a CNI esperava. A expectativa da entidade é que a inflação suba 5,7% no ano que vem, e não mais 5,4%. Isso também fará com que o Banco Central demore mais a rever para baixo a Selic, projetou Telles. 


“Por isso, estamos prevendo que o Banco Central vai manter a Selic em 13,75% por mais tempo do que inicialmente esperado pela CNI. No nosso cenário, o Bacen começa a reduzir a taxa de juros apenas em agosto de 2023 e vamos fechar o ano com a Selic em 11,75%”. 


A CNI também elencou alguns fatores que podem limitar o crescimento da economia no ano que vem. Ainda se espera, por exemplo, que a atividade econômica no início de 2023 seja menor do que poderia, graças ao aumento da taxa de juros pelo Banco Central para conter a inflação. A última vez que o Bacen revisou a Selic para cima foi em agosto, mas a economia do dia a dia leva alguns meses para reagir a essas medidas.


Soma-se a isso a expectativa de restrição na concessão de crédito. Ou seja, menos pessoas e empresas vão recorrer e terão acesso ao crédito por causa dos juros elevados. Isso também deve limitar o consumo. 


Além disso, o cenário externo também deve influenciar as coisas por aqui. De acordo com o Banco Mundial, a economia global deve crescer no ano que vem, mas em um ritmo mais lento do que este ano. Isso deverá ocorrer porque os bancos centrais de vários países elevaram os juros para conter a inflação em seus domínios.

 

MDIC


Segundo Mário Sérgio Telles, a CNI apoia uma eventual recriação do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), proposta pelo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "A CNI apoia a recriação do MDIC. A gente acha que é uma decisão acertada, porque nós precisamos de um ministério forte, mas não basta apenas recriar. Precisamos ter estrutura e instrumentos para a realização de uma política industrial nova e moderna, que não necessariamente vai passar por grandes exigências do ponto de vista fiscal". 



Fonte: Brasil 61

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