Por Gabriel D’Amato Neto*
O Brasil está na mira do mundo. E desta vez por uma boa razão. O país está sendo visto como uma grande promessa na produção de hidrogênio verde para ajudar a reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Recentemente, o assunto tem ganhado as páginas da imprensa por conta dos comentários do governo sobre o Plano de Transição Ecológica – ou Plano Verde – que o presidente Lula deve apresentar nas próximas semanas na Europa.
A iniciativa, que engloba a transição energética do país, tem como intuito modernizar a economia brasileira em direção ao desenvolvimento sustentável. E dentre as bases está a produção de hidrogênio verde – incluindo a exportação do excedente para o exterior. Além de ser um combustível que pode ter fontes renováveis como base, compõe um mercado, que, de acordo com estimativas do Goldman Sachs, deve atingir US$ 11 trilhões até 2050.
Esse cenário demanda uma reflexão importante: o Brasil está pronto para surfar essa onda? Recursos não faltam, porém ainda há algumas pedras no caminho que precisam ser tiradas. Uma delas envolve deficiências na geração de energia elétrica, cuja indústria responde por cerca de 40% do volume total emitido. Em 2021, o volume total de COշ chegou a 77,8 milhões de toneladas, quantidades bastante superior ao registrado no ano anterior.
Há um esforço de investimentos por parte do governo em iniciativas que buscam colocar o Brasil na vanguarda da agenda ESG, ou seja, de governança, responsabilidade social e com o meio ambiente, que englobam a implantação de parques de energia eólica, fotovoltaica (solar), entre outras. Mas talvez seja preciso dar alguns passos a mais para trazer agilidade para conquistar esse patamar.
Potencial para isso, o Brasil tem, temos dentro de casa a capacidade de desenvolver tecnologias que podem contribuir para isso com muito mais rapidez e ajudar as empresas a cumprirem suas metas de descarbonização de sua produção. E uma delas, eu posso dizer, com grande orgulho, que está dentro do meu “quintal”. Do total de mais de 100 patentes de propriedade da GDN Innovation, cinco delas são voltadas para melhorar o meio ambiente e a vida das pessoas.
Uma delas ganhou vida por meio do desenvolvimento do equipamento GLE-1000, com capacidade de 1 megawatt (MW) – o que equivale à quantidade de energia necessária para abastecer 4 mil casas – de energia elétrica, além de produzir hidrogênio verde. Funciona 24 horas por dia e demanda apenas paradas rápidas para a realização de uma manutenção básica, semelhante à de um carro, que envolve troca de óleo, filtros, fluidos, entre outros. Necessita apenas de uma carga de energia elétrica para o início de suas atividades. Sua portabilidade permite que ele possa ser instalado em espaços reduzidos e não depende de fatores climáticos – sol, chuva, vento, entre outros – para gerar energia.
Você deve estar se perguntando como o GLE-1000 funciona para alcançar essa eficiência. Posso dizer que ele opera com uma lógica semelhante ao de um navio grande que entra em um canal. Ele é acoplado a uma comporta e sobe de forma simples, independentemente do seu peso ser enorme. Imagine que você está dentro da piscina e tenta mergulhar uma bola no fundo. A tendência é que ela suba rapidamente. Por meio de vasos comunicantes que se abrem, a água do equipamento para o outro, realizando o movimento de subida. Na segunda etapa, há a descida, e consequentemente, a saída da água, cujo movimento ocorre por inércia. Todo esse processo tem como base três motores que podem funcionar juntos ou de forma separada – um ou dois por vez. Isso vai determinar a quantidade de energia ou hidrogênio verde que será gerado.
Se comparado com as demais matrizes energéticas, o equipamento também se destaca em algumas vantagens. Com 1 MW, um parque de energia fotovoltaica é capaz de gerar de 21% a 23% de energia. Se a matriz for eólica, pode chegar entre 40% e 50% - se estiver instalada na região Nordeste do país. Já o GLE-1000, esse percentual pode chegar a 90%, excluindo 10% com as possíveis paradas para manutenção. A diferença entre elas é grande.
Para gerar 1 MW, por exemplo, uma usina fotovoltaica precisa ter quase dois hectares de área, enquanto o equipamento da GDN Innovation demanda apenas um espaço de 12 metros de diâmetro por 9 metros de altura. A implantação desses parques demora um longo tempo para serem construídos, enquanto o GLE-1000, ao ser instalado, pode começar a funcionar no mesmo momento e iniciar instantaneamente a produção de energia ou hidrogênio verde.
Para as empresas, o equipamento entrega uma economia que impacta no bolso. Se uma indústria tem um gasto médio de consumo de energia ou gás na ordem de R$ 5 milhões mensais, vai precisar de cinco equipamentos para garantir 100% de eficiência energética – cada um custa, em média, R$ 7 milhões - terá que desembolsar R$ 35 milhões, mas ficará livre do custo de R$ 5 milhões mensais para pagar o insumo.
Uma solução como essa pode gerar um impacto gigantesco para acelerar a agenda verde do Brasil, levando o país, que já é conhecido por ter a Amazônia – considerada o pulmão do mundo – e outros recursos, a se tornar um vanguardista na geração de energia renovável, podendo inclusive ajudar a reduzir a dependência de gás natural de diversos países europeus, cujo abastecimento foi prejudicado com o embargo provocado pela guerra na Ucrânia, que ainda segue em curso.
No Brasil, que sinaliza esse ano a retomada econômica, alcançar esse patamar é mais do que urgente. É preciso investir em políticas públicas relacionadas à produção de hidrogênio verde para fomentar o ganho em escala dessa tecnologia de geração de energia limpa. Se o país crescer 3% neste ano – segundo dados do último Boletim Focus, do Banco Central, essa projeção já está em 2,24% - teremos um novo cenário de falta de energia. Por isso, mais do que nunca, colocar em prática alternativas que ajudem a evitar esse tipo de problema se tornou mais do que urgente, mas sim uma prioridade.
*Gabriel D’Amato Neto é CEO da GDN Innovation.
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