Murillo Torelli
Professor de Contabilidade Financeira e Tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
A Petrobras, gigante nacional do setor de petróleo, recentemente divulgou um lucro líquido de R$ 28,7 bilhões no segundo trimestre deste ano. Embora a cifra pareça expressiva, é importante considerar o cenário mais amplo e avaliar as implicações de decisões políticas que podem transformar esse aparente sucesso em um prejuízo significativo para todos os brasileiros no futuro.
Vários fatores contribuíram para essa queda no lucro, incluindo a redução na produção de petróleo, a flutuação desfavorável da cotação internacional da commodity e a valorização do real em relação ao dólar. Por si só, esses fatores são componentes naturais do ambiente econômico global, com os quais empresas do porte da Petrobras precisam lidar constantemente. No entanto, uma preocupação mais profunda emerge quando consideramos a influência política sobre os preços dos combustíveis, é possível que os lucros futuros sejam ainda menores, se é que a Petrobras vai ter lucro no futuro.
A Petrobras tem sido manipulada como peça central nas jogadas políticas do governo populista. Sob o pretexto de proteger a população dos impactos das oscilações nos preços internacionais do petróleo, o governo interfere de maneira direta na política de preços da empresa. No entanto, essa intervenção pode resultar em consequências devastadoras para a economia do país a longo prazo.
Ao controlar artificialmente os preços dos combustíveis, o governo mascara a realidade econômica, criando uma ilusão de estabilidade. Entretanto, essa estabilidade é ilusória, pois ignora os princípios fundamentais da economia de mercado e distorce a alocação eficiente dos recursos. Ao manter os preços artificialmente baixos, o governo compromete a capacidade da Petrobras de operar de maneira lucrativa, eficiente e competitiva.
O Brasil, sendo um grande consumidor de petróleo, depende da importação de diesel e gasolina para suprir cerca de 20% a 30% de sua demanda. Com a recente recuperação nos preços internacionais do petróleo, os valores praticados pela Petrobras estão aproximadamente 20% abaixo dos preços de paridade internacional. Isso, por sua vez, cria um desafio para a Petrobras e os importadores, pois os preços domésticos podem não ser competitivos o suficiente para atrair a entrada de combustíveis importados no mercado brasileiro. A necessidade de importação torna-se ainda mais premente, visto que a demanda interna por combustíveis continua a crescer.
Nesse contexto, a Petrobras enfrenta um dilema crucial. Para garantir o abastecimento e reduzir o risco de escassez, a empresa é forçada a considerar duas opções igualmente desafiadoras: aumentar os preços dos combustíveis nas refinarias ou aumentar significativamente suas importações. Ambas as soluções levantam questões críticas sobre a viabilidade econômica da Petrobras e sua capacidade de manter uma operação lucrativa, veja o lucro de bilhões se transformando em prejuízo. Aumentar o preço e buscar a paridade internacional não parece ser uma alternativa considerada pela atual gestão da companhia, só resta importar caro e vender barato.
A empresa está operando suas refinarias em níveis de utilização excepcionalmente altos, alcançando 95% de capacidade em maio de 2023. Embora isso seja uma resposta temporária para atender à demanda interna, não pode ser considerado como uma solução sustentável a longo prazo. Operar constantemente em capacidade máxima é dispendioso e pode afetar a eficiência operacional, colocando em risco a qualidade dos produtos e a manutenção das instalações.
Além disso, a política de controle de preços imposta pelo governo brasileiro à Petrobras revela um problema mais amplo: a intervenção estatal na economia. Controlar preços pode oferecer alívio momentâneo aos consumidores, mas os efeitos colaterais são prejudiciais e de longo alcance. A interferência governamental nesse aspecto da economia afugenta investidores, inibe o crescimento do setor privado e cria um ambiente de incerteza prejudicial ao desenvolvimento econômico sustentável.
A liberdade econômica desempenha um papel crucial no funcionamento saudável de qualquer setor. No caso da Petrobras, permitir que as forças de mercado determinem os preços dos combustíveis é essencial para garantir a sustentabilidade da empresa e, por extensão, do próprio país. Quando os preços são mantidos abaixo dos níveis sustentáveis, a Petrobras enfrenta dificuldades para reinvestir em exploração, desenvolvimento e inovação, prejudicando sua capacidade de competir globalmente.
É fundamental reconhecer que as soluções para o atual dilema não estão na intervenção estatal, mas, sim, na promoção de um ambiente de mercado saudável e livre. A Petrobras deve ser capaz de ajustar os preços de acordo com as condições econômicas globais, garantindo sua viabilidade a longo prazo e contribuindo para o desenvolvimento econômico do Brasil.
A história nos ensina que a manipulação de preços e intervenção estatal na economia raramente levam a resultados positivos. Governos populistas podem oferecer soluções aparentemente rápidas e agradáveis, mas a verdadeira sustentabilidade e progresso surgem quando permitimos que os princípios de mercado orientem as decisões econômicas. Já erramos e aprendemos quando queríamos controlar o valor do dólar. Depois, com o governo Dilma controlando combustíveis e energia elétrica. No primeiro momento, é um “remédio gostoso”, mas depois se torna um “veneno” e quem paga é a população.
É fundamental que a sociedade brasileira avalie de maneira crítica a interferência do governo nos preços dos combustíveis e defenda a importância da liberdade econômica. Caso contrário, o lucro aparente da Petrobras de bilhões de reais pode se tornar uma fachada frágil para problemas econômicos muito mais profundos e prejudiciais. O futuro vai lembrar o passado, quando quase quebrou nossa maior companhia.
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