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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Desmatamento no Matopiba já derrubou 494 mil hectares de Cerrado desde janeiro

Dados do SAD Cerrado mostram que 75% da vegetação perdida no bioma em 2023 estava na região; em agosto, foram 58 mil hectares suprimidos.

 

O Matopiba – fronteira agrícola composta por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – desmatou 494 mil hectares em 2023, que representa cerca de 75% da área desmatada de todo o bioma Cerrado no ano. Em agosto, foram 58 mil hectares perdidos na fronteira agrícola, 76,8% do desmatamento do bioma no último mês. A área total convertida na região foi 32,6% maior do que o registrado nos primeiros oito meses de 2022, segundo dados detectados pelo SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados nesta terça-feira.

 

Dos quatro estados da fronteira agrícola, três registraram uma aceleração no ritmo de desmatamento em seu território em agosto. Na Bahia foram desmatados 8,7 mil hectares, 5,3% a mais do que em 2022. No Tocantins, o aumento foi de 36%, com 15,3 mil hectares abertos, enquanto o Piauí teve um aumento de 11% em sua área desmatada, que chegou a 7 mil hectares.






Mesmo mantendo sua área desmatada semelhante a agosto do ano passado, o Maranhão ainda é líder de desmatamento na região, com 30,6 mil hectares perdidos, o dobro do registrado no Tocantins, segundo colocado. O desmatamento maranhense se concentrou, principalmente, nos municípios de Balsas, Caxias e Mirador, que juntos derrubaram 7,3 mil hectares.
 

Em agosto, foram desmatados 76 mil hectares em todo o Cerrado. Apesar de extensa, a abertura de novas áreas foi menor quando comparada aos 91 mil hectares perdidos em julho deste ano e semelhantes aos 75 mil hectares de agosto do ano passado. Os dados para o ano de 2023, no entanto, ainda são alarmantes: foram 658 mil hectares de vegetação nativa derrubados nos primeiros 8 meses do ano, 16,9% a mais do que em 2022 e 28,6% maior do que em 2021.
 

“Precisamos aumentar a fiscalização tanto do governo federal, como dos governos estaduais e municipais, para proteger o Cerrado e cumprir com o compromisso de zerar a perda de vegetação nativa no país até 2030. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Bioma Cerrado (PPCerrado) precisa ser implementado rapidamente, pois a conservação do bioma é urgente”, alerta Julia Shimbo, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
 

O SAD Cerrado é um sistema de monitoramento desenvolvido por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) que fornece alertas de desmatamento de vegetação nativa em todo o bioma. O projeto faz uso de imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, e técnicas avançadas de processamento de imagem.
 

Municípios

 

A lista de municípios que mais desmataram o Cerrado também é liderada por municípios do Matopiba. Em agosto, todas as dez cidades que mais perderam vegetação nativa estavam na região. O município de Balsas, no Maranhão, foi o maior desmatador do mês, com 4,6 mil hectares derrubados.
 

Desde o começo do ano, os municípios de São Desidério (BA), Balsas (MA) e Rio Sono (TO) foram os principais desmatadores do bioma Cerrado, respondendo por 62,6 mil hectares no total. No Piauí, a maioria da vegetação nativa foi perdida em Baixa Grande do Ribeiro, sexto colocado no ranking, que converteu 12,3 mil hectares.

 

Desde o começo do ano, municípios do sul do Maranhão e oeste baiano não saíram da liderança no ranking de desmatamento. São Desidério, centro do desmatamento na Bahia, apareceu seis vezes desde janeiro, três delas como líder. Correntina, vizinha de São Desidério, figurou 5 vezes entre os que mais derrubaram o Cerrado. No Maranhão, o maior representante foi Balsas, seis vezes no ranking e líder em duas ocasiões.
 

Em Balsas, um único alerta de desmatamento foi responsável por desmatar 1.300 hectares. Esse alerta, sozinho, responde por 28% de todo o desmatamento do município registrado em agosto.

 

“O desmatamento da vegetação nativa no Cerrado segue acelerado, sendo convertido em extensas áreas de pastagens e agricultura de commodities, como a soja e o algodão. A conversão dessas áreas provoca grandes alterações ecológicas e climáticas, o que consequentemente afeta a disponibilidade hídrica, podendo trazer impactos irreversíveis para as regiões que apresentam poucos remanescentes de Cerrado”, destaca Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Área que sofreu processo de desmatamento no município de Balsas. Abertura da área foi detectada pela SAD em agosto de 2023.

 

Bioma desprotegido
 

Em agosto, 49,1% dos alertas captados foram de áreas com mais de 50 hectares, considerados grandes aberturas. As novas áreas desmatadas avançaram, principalmente, sobre áreas savânicas do Cerrado, tipo de vegetação caracterizado por árvores de médio porte e gramíneas endêmicas da região. Repetindo o padrão dos últimos meses, 86,5% do desmatamento do Cerrado de agosto esteve concentrado em propriedades privadas.

 

Apesar de ocupar cerca de 23,9% do território nacional, menos de 8% da área total do território é legalmente protegida com unidades de conservação e territórios indígenas. O bioma também é a nascente de oito das 12 bacias hidrográficas do país e, embora algumas nascentes importantes estejam protegidas por unidades de conservação, o volume de água do Cerrado tem sido impactado pelo desmatamento e pelo consumo de água para irrigação de lavouras.
 

“Mais da metade, 62%, da vegetação nativa remanescente do Cerrado está em áreas privadas e apenas 12% está em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Assim, a conservação do bioma depende também da participação do setor privado”, aponta Tarsila Andrade, analista de pesquisa do IPAM.




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