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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Fundos doam quase R$400 milhões para soluções climáticas locais

Estudo reúne, ainda, 106 iniciativas promovidas por comunidades de base nos últimos dois anos

 

Foto: Divulgação/Codevasf

São Paulo, 16 de setembro de 2024 – Os impactos causados pelas mudanças climáticas estão cada vez maiores, mais frequentes, e sendo sentidos por todos, mas não da mesma forma. A filantropia comunitária e de justiça socioambiental desempenha um papel fundamental ao fornecer apoio financeiro e não-financeiro para fortalecer projetos que estão na linha de frente dos territórios, atuando no enfrentamento às mudanças climáticas. Neste cenário, há 106 soluções climáticas locais, criadas por e para as comunidades, considerando as especificidades e vulnerabilidade dos grupos envolvidos. Além disso, foram investidos, por organizações filantrópicas independentes, o montante de R$394.166 milhões em ações de justiça climática, considerando os anos de 2022 e 2023. Só no último ano, foram investidos R$220.317 milhões, o que representa R$50 milhões a mais em comparação com 2022.
 

Os dados inéditos são do mapeamento “Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais”, que traz um perfil de atuação de 16 organizações e fundos filantrópicos membros da Rede Comuá com foco nas ações e iniciativas desenvolvidas e financiadas na área de filantropia e clima. O diagnóstico faz parte do Mês da Filantropia que Transforma que é celebrado, anualmente, no mês de setembro e, nesta edição, mergulha na relação entre mudança climática e filantropia comunitária e de justiça ambiental.
 

“Além da inegável relevância ao trazer recortes fundamentais para uma maior compreensão da atuação dos grupos de base que atuam na agenda climática, esse levantamento tem grande potencial de se tornar uma referência para o campo da filantropia, contribuindo para incidir na construção de agendas e no desenvolvimento de estratégias de financiamento para organizações e grupos da sociedade civil que atuam na linha de frente”, ressaltou Jonathas Azevedo, assessor de programas da Rede Comuá.
 

De acordo com o mapeamento, cerca de 45% dos membros da Comuá atuam em território nacional, o que demonstra o potencial da Rede em atingir diferentes regiões do país, enquanto 31,8% têm atuação na escala municipal/comunitária. Em relação à atuação das organizações por biomas, os membros da Rede atuam em todos os biomas nacionais, com foco maior na Mata Atlântica e Amazônia, mas com soluções climáticas locais implementadas também na Caatinga, no Pantanal, Pampa e Cerrado. Entre os eixos de atuação das soluções climáticas locais, destaque para a defesa e o incentivo à Conservação e Biodiversidade, linha na qual se concentra 20,6% dos membros da Rede, a exemplo do BrazilFoundation e do Fundo Casa Socioambiental, e para o eixo da Adaptação e Resiliência Climática, que reúne 19,6% dos investimentos dos fundos filantrópicos, como a Associação Nossa Cidade que, por meio do Fundo Regenerativo Brumadinho, viabilizou ações de regeneração nos municípios de Brumadinho e Paraopeba, a médio e longo prazos, de forma simples e desburocratizada. Além disso, foram mapeadas soluções voltadas para a área de Educação Ambiental, Gestão Sustentável de Recursos Naturais, Gênero e LGBTQIAPN+,Direito dos Povos e Comunidades Tradicionais, e Saúde, meio ambiente e clima.
 

No recorte dos tipos de ações financiadas, mais de 70% dos membros da Comuá destinaram recursos para atividades de formação e o apoio direto a projetos/organizações, chegando a beneficiar diretamente, assim, mais de 900 grupos e cerca de 1 milhão de pessoas. Campanhas de comunicação, desenvolvimento de tecnologias sociais, produção de conhecimento, ações de advocacy e o apoio a ações de litigância também foram mapeadas pela pesquisa. O mapeamento traz, ainda, os públicos-alvo das soluções climáticas locais, que priorizam populações em situação de vulnerabilidade socioambiental e climática, sendo eles: comunidades de base (29,4%); povos e comunidades tradicionais (27,5%), incluindo povos indígenas e quilombolas; mulheres e pessoas LBTQIAPN+ (6,9%); e crianças, adolescentes e jovens até 29 anos (4,9%).
 

Comuá pelo Clima


O diagnóstico faz parte da frente de incidência Comuá pelo Clima, lançada, este ano, durante o F20 Climate Solutions Forum, cujo objetivo é dar protagonismo às organizações da filantropia independente e comunitária no ecossistema do financiamento climático. Tais organizações doadoras são fundamentais para viabilizar a atuação dos agentes principais da transformação, que conta com uma ampla diversidade de movimentos, coletivos, e organizações da sociedade.
 

Além disso, a iniciativa propõe a busca pela Justiça climática, termo que coloca a equidade e os direitos humanos no centro da tomada de decisões e ações sobre as alterações climáticas, a partir de uma perspectiva centrada nas pessoas, que acredita na potência transformadora dos grupos de base para que eles consigam melhorar sua qualidade de vida e proteger a biodiversidade, aumentando, assim, a resiliência das comunidades às mudanças climáticas. “Quando falamos de mudança sistêmica, pensamos no financiamento e apoio aos que estão à frente dessa mudança, e não de os próprios financiadores mudarem diretamente os sistemas. Ou seja, essas organizações estão financiando a transformação, com apoio mais flexível e acessível, atuando como fundamentais facilitadores desse processo transformador”, explicou Jonathas Azevedo, assessor de programas da Rede Comuá.
 

Destaques do mapeamento:

  • No âmbito do nível de atuação das organizações na agenda climática, a maioria dos membros respondeu que estão engajados em combater as mudanças climáticas, com variação na profundidade do foco: 70% das organizações afirmam atuar em pequena ou média escalas; enquanto 30% afirmam ter significativo ou total foco nesta linha de atuação;
  • Em relação à distribuição geográfica da área de atuação climática dos membros da Rede, 45,5% atuam em todo o território nacional, enquanto 31,8% em uma escala comunitária/municipal;
  • O estudo também mapeou a prioridade dos locais de atuação das organizações, apontando que há uma concentração maior de esforços em áreas urbanas periféricas, áreas rurais, terras indígenas e territórios quilombolas;
  • Na atuação das organizações nos biomas brasileiros, há um foco maior na Mata Atlântica e na Amazônia, o que pode ser explicado pelo fato de que os grandes centros urbanos do Brasil se encontram nesse bioma;
  • Entre os temas e setores prioritários para os membros da Rede Comuá, destaque para agroecologia e a segurança alimentar, adaptação e emergências climáticas, e a defesa dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais. 70% ou mais dos membros atuam diretamente com estes temas;
  • Em relação ao público-alvo das ações, somando as organizações que apoiam prioritariamente ações com foco em mulheres, pessoas negras e jovens, mais de 70% das respondentes atuam com estes grupos;
  • Quando questionadas sobre o montante investido para ações de clima/justiça climática, 81% dos membros afirmam ter aumentado o nível de investimento;
  • Quase R$400 milhões foram investidos em ações de justiça climática, considerando o montante de recursos destinado nos anos de 2022 e 2023;
  • Para mais de 70% dos membros, as atividades de formação e o apoio direto (doação) a projetos/organizações são as ações para as quais foram destinados mais recursos. Por meio do apoio a essas ações na área de justiça climática, mais de 900 grupos e mais de um milhão de pessoas foram diretamente beneficiadas;
  • Conservação e Biodiversidade (20,6%) e à Adaptação e Resiliência Climática (19,6%), seguidos dos projetos relacionados ao bem viver (18%), são as linhas de soluções mais frequentes entre os eixos de atuação das soluções climáticas locais.

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